Coleção pessoal de edsonricardopaiva
Vou devorando a minha vida
É tarde de outono e eu queria tanto andar na chuva
Quando eu vejo, o sol tá no horizonte
O dia tá desfeito em mar de fantasia
Às vezes quase eu durmo
De tanto querer que o sono venha
Há tantas vidas, difícil é ter outra a ter tantos quereres
No início é ter que costumar as vistas
É como estar em um pomar
E ver que o fruto e as folhas são da mesma cor
Vou fazendo de conta que conto pitangas no ar
Outono é tarde, estou noutra estação
Outro trem vai vir, há de passar
A noite chega em mim
A noite chega e se lastima assim
A dizer que o trem que vai passar não leva ao fim da linha
Eu digo à noite que a vida é uma lista
Eu peço à vida que seja da noite esse olhar pessimista
Apago da lista esse triste desejo
De chegar nessa manhã que tem jeito de tarde
Eu só escolho querer, numa vontade que não é minha
Tarde que andava na linha, rumo à próxima estação
Eu queria era andar, andar sem rumo e nem direção
Andar na chuva
Colhendo as pitangas que flutuavam
Pitangas amarelas, iguais àquelas
Que existiram nos fundos de algum quintal da minha infância
Onde eu ia devorando a vida
Um lugar, uma estação
Um trem que passava e tinha a companhia sempre lá
De alguém que te acompanha e leva pro infinito
E apanha frutos no ar, igual ao que a gente fazia
Quando o dia era desfeito em mar de fantasia
A gente sabe e cansa de saber que esse infinito acaba
E mesmo assim desata a rir
Num riso que não tem fim.
Nem precisa acabar.
Edson Ricardo Paiva.
"Cada longe que essa vida inflige
Será sempre igual às asas
Que Deus não permitiu-nos
Que as tivéssemos
Cada estrela que esse imenso céu te mostra
Confinada num quadrante, distante de alicerces
Cuja distância, proporcional
Será sempre igual à sua vontade de alcançá-las
Fincar numa delas teu mastro
Olhar bem nos olhos de Deus
Ser um astro entre as estrelas, infringir
Exercer a elas o mesmo fascínio que elas exercem
Rir de todo aquele que nasceu, sem domínio do voo
Assim como eu
Naquela hora boa em que se percebe
Que, se a gente não recebe asas quando nasce
Isso não foi à toa, o Criador divide a vida em dois
Então a gente nasce antes, as asas vem depois."
Edson Ricardo Paiva.
"Aqui na minha rua
Tem uma casa que fica
No quintal de um pé de nada
E mora debaixo da lua
Quem a vir, de olhar distante
Na hora em que brilhar de iluminada
Nem nos seus melhores sonhos
Desconfia da alegria que morava lá
Mas mudou-se, escondeu-se igual
Só que ora, distante."
Edson Ricardo Paiva.
Tem gente que pensa
Que a gente quer um monte de coisas
Que no fim das contas
Nem chega a importar tanto assim
Uma hora você se pega pensando
Que se apegou a um enorme nada
Quando olha pros lados
Olha pro espelho
Pro passado
Pra si
As coisas que pareciam desimportantes
Tem um valor diferente
Então você percebe que queria mesmo
Era aprender a rir de piada sem graça
Um copo d'água na hora da sede
Um olhar despretensioso
Que lhe transmitisse a sensação
Que alguém sente alegria
Quando vê você
Um colher de xarope, na hora da tosse
Uma mão na testa, se acaso sentisse febre
Alguém que puxa um cobertor e te cobre
Alegria de festa sem motivo
Pois, muito mais do que se pensa
Todo mundo deseja apenas
Que a sua presença seja esperada,
desejada e benquista
A gente não quer requinte
Deseja um olhar atento
E um par de ouvidos bem ouvintes
Alguém que conte pra gente
Como foi a sua infância
E diga também da saudade
Que sentiu durante a distância
E o que foi que fez lembrar a gente
Em alguma coisa que viu pelo caminho
E no quanto doeu a nossa ausência
Mais importante que o diamante
É sentir
E Principalmente
Perceber que faz sentir
Saudade
Um certo orgulho bobo e sem razão
Confiança
Um olhar de lealdade na janela
Uma ida ao portão
Vontade de estar junto
Um amor sem explicação
Saudade do abraço
Desejo de respeitar
E um querer
Que sente um vazio quando quer
E quando quer
Não quer deixar de querer
São essas as coisas difíceis
de perceber a importância
Até que aqueles olhos
Azuis, castanhos ou verdes
Não mais sejam vistos
de manhã, de tarde, de noite
ou de madrugada
Nem mesmo à distância
Então você há de perceber
Que tudo mais
Não vale nada.
Edson Ricardo Paiva.
Ilusão.
Acontece numa tarde linda
de um tempo que talvez
Não tenha vindo ainda
Meu mirante é o alto da colina
e de lá eu posso ver a todos os lugares
Lá, vivemos todos
Uma coisa que eu creio que esteja
um degrau acima, talvez dois
da mera esperança em todos sermos
Algo que a vida obrigou
a deixar pra depois
Eu vejo o início da estrada
E também onde termina cada uma
Posso ouvir desejos e orações
Sentir a dor no coração de quem detém cada pedido
E cada medo
Cada medo de viver a vida a esmo
Consumidas no miasma que as consome
O medo em libertar a dor guardada
Aquela que em cada manhã lhes invade
Enorme e em segredo
Medo até do fogo eterno
Enquanto a chama interna os queima em vida
Cada imagem de espelho
Todo dia tem lhes revelado
A miragem refletida atrás de si
As almas não se reconhecem
Por receio de olhar-se
Se fogem de molhar na tempestade
E todos vão vivendo a própria vida
Em seu mundo perfeito
Aqui nesse lugar a noite nasce feliz
Cada estrela onde quis estar
A lua, linda, vem dizer
Que esse dia não chegou
e novamente eu desço
ao degrau da esperança
esperando que algum dia seja realmente
Essa tarde tão linda
de um tempo que talvez
não tenha vindo ainda.
Edson Ricardo Paiva
Quando a vida não dói mais.
"Às vezes vem sonhos ruins
A gente se assusta e se acorda
Mas, se não se recorda de sonhos assim
Não tem nada que nos faça
Ver a graça da chuva que te surpreende
Recordar-se da pedra, onde um dia tropeçou
Numa queda que te feriu.
Até mesmo na doença lá da infância
E de todas as distâncias que venceu
Nessa fase, onde tudo se ajusta
E você só vai vivendo a própria vida
Se não existe mais risada ou quase riso
Você deixa de ver graça em sonho bom também
Quando a gente se esquece e nem pensa
Em todo aquele medo que sentiu do escuro
Todo dia acorda
Porém, só se sente apressado...atrasado
E nem agradece à bênção da claridade
O pássaro voando é só uma ave que passa
Não enxerga mais a paz do voo, tanto faz.
Não existe mais mistério em nada
Não existe mais vontade de sorvete lá na praça
Nem mentira e nem verdade
Não há flecha que te atinja e nem te fira
Nesse duro coração vazio, fortalecido pela vida
Tanto faz ir ou ficar
Calor ou frio
Esqueceu-se da alegria
Quando, um dia era tão bom poder sair para brincar
À exceção daquilo que se enxerga
Não existe mais magia em nada...ela existia.
Mas o mundo tornou-te igual a mim."
Edson Ricardo Paiva.
"No silêncio a alma grita
Porém, é tão grande esse silêncio
Que nem mesmo a própria alma escuta
Mas ele é assim, tão lancinante
Que eu sei que o próprio Deus garante
A alma o sente."
Edson Ricardo Paiva.
Se fosse apenas a vida
E se a gente tivesse só
Que olhar a chuva na janela
Mas tem dias que o ranger da porta assusta
Tem dias que o ranger da porta irrita
E tem dias em que a porta range
Custa um tempo a perceber a falta
das coisas que a chuva trazia
No silêncio a alma grita
Porém, é tão grande esse silêncio
Que nem mesmo a própria alma escuta
Mas ele é assim, tão lancinante
Que eu sei que o próprio Deus garante
A alma o sente
Não nos basta ter de volta aquele tempo
Aquela coisa corroída pela chuva
Um tempo carcomido pelo tempo
Por mais breve ele fosse
Muito ele abrange
Tem dias em que há previsão de tempestade
Se fosse então apenas
Ter que olhar o Sol pela janela
Abrir a porta ao vasto mundo
Perceber que amanhã
Também não trará nada
Nada além de outra manhã
Aquela que desfolha as flores
Ver as pétalas já mortas
Com o vento a levá-las
Todas pra bem longe
Sem cores, sem viço, sem nada
Em cada fim de tarde
O mesmo vento na janela
Aquela velha porta range
Não me assusta, nem me irrita
Me toca à duras penas
Me apenas convida a viver
Como se fosse outro dia de chuva
Sem chuva nova, sem nem mesmo a velha chuva
Apenas chove
Sem as coisas que ela trazia
Ela não trouxe nada
Eu não quero outra vida
Nem aquela de volta
Eu quero essa à distância
Olhar o mundo do espaço
Que um dia, antes da invenção do tempo
Eras antes do cansaço
Era assim que a vida prometeu que ela seria.
Edson Ricardo Paiva.
"A vida da gente são várias estradas
Só quem se sentiu perdido vai saber
Vai saber que todo caminho te leva pra distante
A cada dia mais distante
Da paisagem que se via em tempos idos
Quando a gente olhava lá de longe
Talvez seja essa a tal graça da vida
Um dia, nada é igual como era antes
Porque antes até mesmo um mero espelho
Refletia de manhã só a imagem que a gente esperava
Hoje, espelhos tem vontade própria
E tem hora que aquele que a gente vê
Não chega a ser nem de perto
Aquela boa pessoa
Aquela pessoa tão boa, aquela miragem que a gente era
A vida da gente é uma espera
Uma estrada de ida, única e sem cópia
E quem nunca se viu perdido
Nem de longe viu o melhor da vida
Porque todas aquelas estradas
Todas elas nos levavam pra lugar nenhum
Porém, aquela paisagem que se via em tempos idos
Era só um lugar sem nome
A graça da vida era aquela estrada enorme
Uma estrada sem nome, cujo nome era vida
Atalhos para outras vidas
Pra poder passar por elas
Fazer parte delas...e sair, ou não, deixando sempre o seu melhor...e assim ficar para sempre.
E quem não viveu assim
Viveu, sim...viveu, porém não leva nada pra contar...nem deixa.
A vida da gente tem dias assim, como esse
Em que a gente olha pro espelho e nem se reconhece
Em que a gente olha a velha estrada e segue
Persegue o seu caminho rumo ao nada
A gente se acostuma e segue e ruma
Sempre sob o complacente olhar de Deus...e até!
Pois, se a gente não leva fé
Não chega em lugar nenhum. "
Edson Ricardo Paiva.
"Todas as flores do campo se vão
Mas um breve toque de pétala no coração
Apenas de leve, de maneira
Que só por mim seja sentido
Permanece assim...pra sempre
Ao abrigo do peito
Juntinho da gente
Desse jeito, pela vida inteira"
Edson Ricardo Paiva.
Um dia eu desejei
Possuir a todo um campo florido
Num verde vale, onde a brisa
Soprasse de leve toda manhã
Hoje eu sei que ninguém precisa
de nada mais que uma pétala
Simples...pequena
Todas as flores do campo se vão
Mas um breve toque de pétala no coração
Apenas de leve, de maneira
Que só por mim seja sentido
Permanece assim...pra sempre
Ao abrigo do peito
Juntinho da gente
Desse jeito, pela vida inteira
O amor de uma única mulher
Como a pétala que se deseja
Escondido aqui
Pra que ninguém
Nem mesmo ela veja
Que esse lugar, somente ela tem
Pois só seu sorriso adentrou
E mesmo que esse amor ela não queira
Ele vai ficar pra sempre
E ela, eterna!
Eternamente a primeira.
Edson Ricardo Paiva.
"Agora é outro dia
Poesia de que?
Hoje é dia de nuvens
São só palavras que se vão no vento
Amanhã é outro dia"
Edson Ricardo Paiva
"O silêncio a tudo diz
e tudo faz sentido :
Era o encanto do não saber
que a brisa a soprar lá fora
depois de ir embora, não volta."
Edson Ricardo Paiva.
"Era um pensar inocente
Que aquilo tudo nos pertencia
Era da gente
O silêncio em silêncio ficou."
Edson Ricardo Paiva.
A vida só faz sentido
Se a gente puder vivê-la
Dizer o que há de bom e bonito
Gritar pro mundo sem medo
Quando, na verdade
Felicidade é ter
Um ouvido...e um lindo segredo
O tempo perdido e passado
Arrepender-se de todo e qualquer pecado
Até mesmo dos que nem sonhou
Só falar pro espaço, estrelas, nuvem
A noite posta no céu, janela aberta
O véu que se abre, mas você não olha.
A vela acesa, que tem hora certa pra apagar
Falar pra quem nem as ouça
Os pés no caminho, essa vida descalça
Tá tudo bem, não tem problema
Eu faço mais um poema
Vou novamente me recolher
Ao silêncio dos meus pensamentos
E tem sido assim desde o princípio
Pra depois sentir arrepios
Porque não há nada a ocultar
Além da ausência
de uma tão sonhada paz
Que, às vezes é tanta, que faz ruido
E me abraça com seus braços frios
Sonhar, quisera tivesse um sonho
Divagar, sumir, recolher as folhas
Coração só sabe bater
e é isso que ele bem faz.
Edson Ricardo Paiva.
Agora é outro dia
Poesia de que?
Hoje é dia de nuvens
São só palavras que se vão no vento
Amanhã é outro dia
Pode ser que elas voltem
E que nos contem por um momento
O que era que estava escrito
Numa manhã de Sol qualquer
Poder ser manhã de um Sol que se sente só
Sentindo um nó na garganta
Por ver-se só, lá acima da tempestade
Numa tarde de chuva que nos invade
Só que é aquela chuva que não chove
Poesia de quê?
Poesia de tarde, poesia que vem de cima
Que não faz chorar e nem sentir
Poesia de nuvem, que não comove
E esconde o Sol que nos olha
Sem nada nos olhos, nem no olhar
Cada dia é outro dia
Pode ser que hoje, ainda
Elas chovam sobre nós por um momento
Trazendo uma noite estrelada, uma noite linda
Dia de esperar, não era
Era dia de espera só
De olhar o Sol detrás da nuvem, igual criança
Com o todo nos olhos, tendo estrelas no olhar
Escrevendo poesia de esperança.
Edson Ricardo Paiva.
"Que sejamos gratos e felizes
Por não saber a verdade da vida
Pela nossa humanidade
Que busca e que erra
Seja fonte de calor a luz do Sol
Não da verdade"
Edson Ricardo Paiva.
Hoje
Eu escrevo pra falar em brumas
Algumas ocultam, sem muito enlevo, a arte da vida
E as trazem de volta
A dizer de coisas que nos fogem
Que se vão na distração dos tempos...tempos correm
Até que um dia os ponteiros parem
e ponham um espelho à nossa frente
Pra que, enfim, a gente se encare
E sem que haja mais tempo, nem mesmo para uma prece
Comece a fazer um inventário
Acerca da própria existência
Nas quatro folhas do trevo da rude vida
Uma delas foi a coragem, talvez a sua falta
Outra o caminho, a miragem que ilude
Mais uma outra, o carinho ausente
A exibir os seus dentes, seus cortes
A folha derradeira, foram as escolhas
O tempo revela que a vida não atende a pedidos
Nenhuma delas foi sorte.
Edson Ricardo Paiva.
Fazer o melhor que podia
eu sempre ouvi dizer que era preciso
Assim aprendi
e a todos os lugares onde eu ia
eu fui até não poder mais
era assim que eu fazia
e desse modo eu percebi:
Não era aconselhável ir a todos os lugares
E pensei que era mais fácil assim viver
Mas a vida
Tem sempre outra verdade escondida
Em busca da verdade
Assim que eu vivia
E logo descobri
Que é preciso eternamente perseguir um novo modo
Há sempre um outro desafio
O preço disso é o recomeço
Por conta de desfiar, buscar a ponta do fio
Fazer o melhor que eu podia...ainda era possível
Por vezes sem conta eu o fazia
O difícil era saber o que fazer
Depois que tudo estava feito
Na hora em que chega o dia:
Um dia essa hora chega
Mas ninguém nunca me avisou que isso doía
O que nos rói é o não fazer...é desistir
é querer chorar e rir...é rir sem rir
Olhar e ver
O desfeito se desfazendo
Depois, olhar o que não fez
Compreender que, por ora
era o melhor a se fazer
descobrir que não sabia é descobrir
Que nada se pode fazer
E quando nada fizer....se alguém disser
Ouvir que ficou perfeito
Fazer o melhor que podia era a parte fácil
Difícil é não fazer nada...e a isso fazer bem feito..
Edson Ricardo Paiva.
Aqui na minha rua
Tem uma casa que fica
No quintal de um pé de nada
E mora debaixo da lua
Quem a vir, de olhar distante
Na hora em que brilhar de iluminada
Nem nos seus melhores sonhos
Desconfia da alegria que morava lá
Mas mudou-se, escondeu-se igual
Só que ora, distante
Sob um pé de pensamentos
Entremeado de dimensões
Mas que morreu de seco e quedou-se no próprio eco
Só que esse era mudo, era atroz qual num galope
Mas não tinha voz
Era feito de espera, era quase perfeito
Penso que quem não o conhece
Pode ser que pense que era e o compre
Pois o som não se propaga no silêncio...o rompe.
Edson Ricardo Paiva.