Coleção pessoal de DouglasLemos
Antes que o mundo acabe,
deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso...
E nos cobrimos de beijos
E de flores...
...antes que o mundo se acabe.
Antes que acabe em nós
Nosso desejo.
Há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofre, trancados até o nosso fim.
E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.
Aflição
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Tente aprender a respirar fundo, realmente saborear a comida quando estiver comendo, e realmente dormir quando estiver dormindo. Tente o máximo possível estar vivo com toda a sua força, e quando você rir, ria que nem louco. E quando ficar irritado, fique bem irritado. Tente estar vivo. Você vai morrer em muito breve.
Com freqüência a sensualidade precipita o crescimento do amor, de modo que a raiz permanece fraca e é facilmente arrancada.
Creio que o pensamento de Foucault é um pensamento, não que evoluiu, mas que procedeu por crises. Não acredito que um pensador possa não ter crises, ele é sísmico demais. Há em Leibniz uma declaração esplêndida: “Depois de ter estabelecido estas coisas, eu pensava entrar no porto, mas quando me pus a meditar sobre a união da alma e do corpo, fui como que lançado de volta ao alto mar”. É justamente o que dá aos pensadores uma coerência superior, essa faculdade de partir a linha, de mudar a orientação, de se reencontrar em alto mar, portanto, de descobrir, de inventar. (p. 130)
Quando morre alguém que se ama e admira, às vezes se tem a necessidade de lhe traçar o perfil. Não para glorificá-lo, menos ainda para defendê-lo; não para a memória, mas para extrair dele essa semelhança última que só pode vir de sua morte, e que nos faz dizer “é ele” (p. 127)
Um conceito é como um tijolo. Ele pode ser usado pra construir um tribunal da razão. Ou pode ser jogado através da janela.
Entre os gritos de dor física e os cantos do sofrimento metafísico, como traçar seu estreito caminho estoico, que consiste em ser digno do que acontece, em extrair alguma coisa alegre e apaixonante no que acontece, um clarão, um encontro, um acontecimento, uma velocidade, um dever?
Sou atormentado por uma coceira interminável por coisas distantes. Eu adoro navegar por mares proibidos.
Não podemos viver apenas para nós mesmos. Mil fibras nos conectam com outras pessoas; e por essas fibras nossas ações vão como causas e voltam pra nós como efeitos.
De todas as absurdas suposições da humanidade nada excede as críticas feitas dos hábitos dos podres, pelos que tem boa moradia estão bem aquecidos e bem alimentados.
O autor que se julga um grande escritor, além de antipático é burro, imbecil. Um escritor só pode ser julgado depois da sua morte. Muito tempo depois.
Ave Musa incandescente
do deserto do Sertão!
Forje, no Sol do meu Sangue,
o Trono do meu clarão:
cante as Pedras encantadas
e a Catedral Soterrada,
Castelo deste meu Chão!
Nobres Damas e Senhores
ouçam meu Canto espantoso:
a doida Desaventura
de Sinésio, O Alumioso,
o Cetro e sua centelha
na Bandeira aurivermelha
do meu Sonho perigoso!
Sou um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimentos.