Coleção pessoal de dorgival_andrade
Não há tempo para emoção neste cenário. Quando o juízo final chegar fazendo a justiça, aí poderemos derramar uma lágrima.
A chuva no sertão
Faz tempo que não via,
a chuva cair sem parar,
vendo a terra encharcada
sem o sol avistar.
E no sertão se faz festa,
quando esverdeia a plantação,
e quando saía a dor cinza,
nós dava pulos de emoção.
Porquê não há nada mais lindo,
do que ver todos os meninos,
se molhando no terreirão,
até os véios virava menino,
naquela grande diversão.
Hoje é assim que me sinto,
então pra chuva partindo,
pulando, correndo e sorrindo,
Agradecendo e me divertindo.
Porquê fazia tempo que aqui
não chovia tanto para molhar o chão.
Os circuitos de consagração social serão tanto mais eficazes quanto maior a distância social do objeto consagrado.
Família.
Família...
Todos temos,
Dela viemos.
Nela nascemos.
Então crescemos.
Para uns,
a família é só o pai,
para outros, só a mãe,
muitos só têm o avô.
Mas é família:
sinônimo de calor!
Tem família
que é completa,
repleta,
discreta,
seleta,
aberta.
Outra
é engraçada,
atiçada,
afinada,
engrenada,
esforçada,
empenhada.
Mas tem família
complicada,
indelicada,
desajustada,
desacertada,
debilitada.
Família...
Família é assim:
lá não temos capa
- nada nos escapa!
Máscaras, como usar?
Não, não dá pra enganar!
Às vezes queremos fingir,
mas isto é apenas mentir.
E, é lá dentro de casa
que surge, cresce, aparece
o lobo voraz,
o urso mordaz,
elefantes ferozes,
(com trombas e tudo)
leões velozes
com unhas e dentes
inclementes.
Família...
Família é lugar
onde convivem os diferentes:
um é risonho, outro tristonho;
um é exibido, outro inibido;
um é calado, outro exagerado;
um é cabeludo, outro testudo;
um é penteado, outro descabelado...
Família...
Família é assim:
nunca é possível contentar,
pois onde há diferenças,
haverá desavenças.
Como a todos agradar?
Mas entre todos os valores
Cultivados entre nós
Há algo como uma voz
Muito enfática a dizer:
“Cultive a educação,
faça lazer, haja afeição;
dê carinho, tudo aos seus!
Mas o maior valor
– maior até que o amor –
é cultivar Deus!”
É que eu adoro o que eu digo. É impressionante como eu me encanto com o que o eu mesmo falo, é impressionante o quanto eu entendo quando eu mesmo explico. Porque tem gente que condena, as pessoas consideram isso arrogância. Mas pare para pensar: Se você vai ter que conviver com você mesmo até o fim, se você vai ter que se aguentar até o fim, se você vai ser espectador de você mesmo até o fim, é melhor que se encante com o que faz.
Não faz sentido contratar pessoas inteligentes e dizer a elas o que fazer; nós contratamos pessoas inteligentes para que elas nos digam o que fazer.
SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
Não expressar tudo que se pensa; ouvir a todos mas falar com poucos; ser amistoso mas nunca ser vulgar; valorizar amigos testados mas não oferecer amizade a cada um que aparecer na sua frente; evitar qualquer briga, mas se for obrigado a entrar numa que seus inimigos o temam; usar roupas de acordo com a sua renda sem nunca ser extravagante; não emprestar dinheiro a amigos para não perder amigos e dinheiro; e por fim ser fiel a ti mesmo e jamais serás falso com ninguém!
Uma paixão pra Santinha
Xanduca de Mané Gago
Tinha querença mais eu
Me vestia de abraço
Bucanhava os beiço meu
Era aquele tirinete
Parecia dois colchete
Eu in nela e ela in nêu.
No apolegar das tetas
Nos chamego penerado
Nas misturação das perna
Nos cafuné do molengado
Nos beijo mastigadinho
Nos açoite de carinho
Nós era bem escolado.
Era aquele tudo um pouco
Era aquela amoridade
Mas faltava na verdade
Sensação de friviôco
Um querer, uma pujança
Daquela que dá sustança
Na homencia do cabôco.
No dia que`u vi Santinha
Sobrinha do sacristão
O bangalô do meu peito
Se enfeitou feito um pavão
Foi quando esqueci Xanduca
Sem mágoa sem discussão
Pois vimos que nós só tinha
Uma paixãozinha mixa
Uma jogada de ficha
Uma piola de paixão.
Santinha é a indivídua
Que misturou meu pensar
Que me deixou friviando
Sem nem sequer me olhar
Matutinha aprincesada
Mulher de voz aflautada
Olhosa de se olhar
Fulô de beleza fina
É a tipa da menina
Que se deseja encontrar.
Mas Santinha é quase santa
Nem percebe o meu amor
Não tem na boca um pecado
Tem o beicinho encarnado
Pintado a lápis de cor
Só tem olhos pra bondade
Mas não faz a caridade
De enxergar um pecador.
Ah! se eu fosse um monsenhor
Um padre, um frei, um vigário
Eu achucalhava os sino
De cima do campanário
Eu abria o novenário
Eu enfeitava um andor
Botava ela impezinha
Feito uma santa rainha
Padroeira dos amor.
Arranjava um pedestal
Um altar um relicário
Chamava todas carola
Chamava todo igrejário
E dizia em toda altura
Com voz de missionário:
Oh! minha santa Santinha!
Tire este manto celeste
Saia deste relicário
Olhe pra mim e garanta
Que vai deixar de ser santa
Que`u deixo de ser vigário!
Pra tudo precisa peito
existe aí um ditado que eu acho muito perfeito, que é aquele que diz "Pra tudo precisa peito" pra a gente ir ao dentista, pra começar os estudo, pra o vaqueiro entrar no mato tocando um espinho agudo, pra a gente se operar, pra pedir moça e brigar é preciso ser peitudo, pra a gente ser candidato a deputado, prefeito, pra a gente falar ao povo é necessário ter peito, senão o povo não acredita, e a moça para ser bonita também precisa ter... jeito, do jeito que anda a época, a concorrência agitada se o cabra não tiver peito não pode conseguir nada, o Brasil perdeu a copa um argumento eu aceito não foi por falta de classe mas foi por falto de peito, um dia eu participando de uma competição, ali seria julgada a melhor declamação, até declamei direito, mas como não tive peito foi uma decepção, pois uma moça também concorria do meu lado, ela com um vestido longo muito bem decotado foi quando me faltou peito, perdi a competição, a moça com muito peito conquistou a comissão, composta só de marmanjo nunca vi um homem anjo por isso dei a razão, a moça foi aplaudida, eu fiquei muito sem jeito, um cabra me olhou e disse: Você declamou direito, tem bom gosto, boa voz, mas no entanto aqui pra nós, a moça teve mais peito.
Os beijos da tua boca, embriagam mais do que o vinho, ô mais formosa minha amada, teus dentes são como rebanho de ovelhas que sobem do rio, teus lábios, são como uma fita escarlate.
Oo meu amado é inconfundível entre os milhares,
E tua fala é doce,
Seus olhos são como pombas a beira de riachos lavados em leite,
Teus dois seios são como dois filhotes gêmeos de uma gazela, pastando entre os lírios,
Suas mãos são torneadas em ouro, seu ventre marfim lavrado,
Sob a tua língua, há mel e leite, e o perfume de tuas vestes é como perfume do Líbano
Ele é esbelto como uma espada, no seu palácio é que mora a doçura, assim é o meu bem amado, assim é o meu amante.
A umas Saudades
Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter,
ide-vos, minhas saudades
a meu amor socorrer.
Em o mar do meu tormento
em que padecer me vejo
já que amante me desejo
navegue o meu pensamento:
meus suspiros, formai vento,
com que me façais ir ter
onde me apeteço ver;
e diga minha alma assim:
Parti, coração, parti,
navegai sem vos deter.
Ide donde meu amor
apesar desta distância
não há perdido constância
nem demitido o rigor:
antes é tão superior
que a si se quer exceder,
e se não desfalecer
em tantas adversidades,
Ide-vos minhas saudades
a meu amor socorrer.
O todo sem a parte não é todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
Inconstância das coisas do mundo!
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se a tristeza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na inconstância.