Coleção pessoal de dohrds

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Teatro e liberdade

Sob um céu azul
a vida segue...
As pessoas caminham sem pressa
pelas ruas...
As crianças brincam distraídas
nas praças.
O espetáculo começa
e as cortinas
se abrem.
E tudo é alegria,
e tudo é calmaria,
até que se revela
a verdadeira trapaça
e a hipocrisia
que se esconde nos sorrisos,
nos abraços,
Enfim, no passar
constante
dos nossos dias.

Os sinos balançam
e reçoam suas badaladas
pelo horizonte.
Como a voz
que há muito tempo
proclama a "boa nova",
dissipa- se seu som
ao sabor do vento.
O dia nasceu
há pouco,
mas seu azul
amanheceu
vazio
e já se faz
cinzento.
O mar cessou
suas ondas,
e no silêncio
da aurora
faz sua prece
para acalmar
o tormento.
Ainda assim
a chuva pende
e desaba o céu
numa poça d'água.
Memórias.
Mesmo na tempestade,
as igrejas
arrebanham uma multidão
de fiéis.
Professam o credo.
Mas comungam
a hipócrisia.
Por isso,
por eles peço perdão,
pois
viver sob o sígno
da cruz
não é pregar
por aí
algumas minguas
palavras.
Pois,
Viver sob o sígno
da cruz
é deixar respalandecer
a luz
que ilumina
as pegadas
deixadas na escuridão.

Vida sem vida,
peço perdão.
Vida sem dia,
ao som do violão.
Vida sem paz,
vida sem chão.

Coração insensato,
desatina a acelerar,
maltrata de amor
aquele que quer amar,
fere e causa dor
pois só mesmo a dor
é capaz de curar...

Tem dia que é meio assim,
sem dia,
sem rima,
sem a poesia
que há em mim.
E a vida parece mais vazia,
sem as vozes e as melodias,
que no dia a dia
surge e flui
e não sei se vai partir...

"O cavalheiro
afoga o amor em seu orgulho
pois não sabe que do outro lado do muro
há outra face a lhe encontrar..."
Fico a me perguntar então:
Será?

De quando no mundo havia paz

O marujo
velejava sem rumo
pelo azul do mar.
Tempo bom
para viver a vida,
pensava...
Tempo bom
para esquecer as perdas,
resmungava...
Tempo bom para contemplar a beleza
que inspira o silêncio da praia,
por fim,
suspirava...

Nação azul e branco,
ouço tanto seu bradar
pelos campos
sua posição de honra,
que já lhe é concedida no céu,
e me encanto,
pois o preto e branco
não ofusca
seu brilho celeste.
Nas margens
plácidas do Ipiranga
O Brasil curva- se ante sua constelação.
Tens tanto significado
que é quase um pecado
falar seu santo nome em vão.
Cruzeiro,
prece de muitos,
não só isso;
Cruzeiro,
já uma religião.

Amanheceu a tempestade
que atormenta.
Tudo acontece,
para aqueles que não
merecem.
A vida mente.
Os dias passam de repente.
O tempo vai embora.
E a gente nem sente.

15 de novembro

República proclamada.
Nascida sob
o signo da espada,
o café se misturou ao leite
e o povo,
mero espectador
de quem seria eleito
deixou passar em branco
o seu futuro.
O curral, prendendo
o gado,
só o libertava
em ano de eleição
e, ainda assim,
o cabresto
só lhe mostrava
uma única opção.
O passado
escrito
nos livros
de história
revelou
a pista do que seria
o cenário
do presente,
mas banalizamos
a política
e numa realidade
meio descontente
deixamos frutificar
a semente
que em outrora
fez nascer
a árvore
da corrupção.

A esperança ainda não morreu.
Carrega no ventre aquilo que o amor promete,
que no tempo certo vai fazer do sonho,
alegria que já nasceu...

Viver e descobrir
que esse tal de nunca
é só desculpa tola
de quem nunca
quis viver...

De todo o sussurro, só fica o silêncio,
pois ele conserva as respostas
para toda a dor,
todo sofrimento
que provoca esse sentimento
chamado amor...

Palavras de cada dia,
entoadas no silêncio de uma oração
embalam os sonhos mórbidos,
de pequenos pensamentos sórdidos,
de hipocrisia e dissimulação...

Se tudo viesse fácil demais
não teria o mesmo sabor de vitória.
As lutas, os conflitos,
fazem da minha, da tua história,
um livro sem contos,
onde só mesmo as vozes
são os algozes
que unem os nossos rostos...

Os gestos são o início de tudo.
Primeiro vem as mãos.
Depois de irmãos,
vem o afago.
Depois do afago o sorriso,
depois do sorriso,
o abraço.
Depois do abraço,
tudo se desmancha em beijo
ou se desmorona o paraíso.

As reticências
escondem segredos
que o medo
não nos deixa escrever.
É preferível ocultar os sonhos,
a presenciar perdas
que inspirariam o nosso não viver.

Até a morte sabe
que sua hora chega
quando não existe mais o sopro
daquilo que alimenta
no corpo
o desejo de viver

As vezes o tempo pára,
só para ver nossa vida amarga
passar e deixar o rastro,
do que outrora fez viver,
mas que agora faz sofrer, e sofrer,
e crescer a cada tropeço, a cada tombo...

A aurora traz o sol dos meus tormentos,
ilumina a dor,
reflete o amor,
da loucura constante
desse sentimento.
Transforma em admiração,
revolve a tristeza,
aquilo que a razão
libertou da jaula mais escura,
de dentro da mente,
de dentro dos sonhos,
da possibilidade mais remota
e distante do arrependimento...