Coleção pessoal de dohrds
Esse bem e esse mal que sou eu
É melhor abir a janela do tempo
e tentar respirar um pouco de ar puro
antes que a poluição dos meus assuntos
consuma de vez os meus tormentos...
Mas para que fingir
todo esse conservadorismo?
Mas para que preferir um pseudo moralismo?
Saiba que o normalismo
não me convêm,
e nem contém
a medida certa de loucura
que me faz viver assim
como sou,
para mim tão bem...
Inundo minha mente vazia de palavras. E do nada se fez um texto. E de tanto nem tem mais jeito. Uma mente colonizada já é metrópole e segue pelo imperialismo de outras mentes.
Palavras sem nada a dizer...
Versos sem a plurissignificação
habitual...
Poesia não é o mesmo ritual
que se repete e repete
e inerte
não muda a sorte de ninguém...
Até piora!
Cláusula Pétrea
Fiz um contrato com a noite,
mas como não sou muito confiável
e até alienei
objeto a outrem alienado,
lhe furtei o brilho
e transformei em dia.
Esvaziei o céu
e sua tormenta
e agora sou credor
dos meus pecados...
O fardo do meu erro
é só mais uma das
minhas façanhas
para alguns,
para outros,
mais uma farsa.
Determinada prestação
aferível em palavras.
Adimplemento e arrependimentos
sem ter ocorrido a tradição de nada...
Bem da vida,
só mesmo a vida...
Obrigação?
Desobrigado.
Viva a humanidade!
Acordar de manhã
e ouvir uma canção,
que diz tanto,
súplica muito,
mas tudo em vão.
Os rejeitados
e os desajustados
vivem e sentem,
apesar de muitos pensarem
que quanto a isso
só mentem
e continuam falsamente
pois não entendem
que no mundo,
por mais que tudo
pareça tão igual,
também tem aquilo
que é diferente da maioria
e mesmo assim
continua natural.
Ah,
melodia tão sincera,
entrega aos meus ouvidos
sua letra
como oração.
O cotidiano
desinteressadamente
passa,
mas a maior trapaça
está a cada rosto
e a cada gosto hipócrita
que se desvenda
em plena ebulição.
Debaixo de toda venda
há somente uma caveira,
que sem eira nem beira
cai em qualquer canto e,
de nada adianta o pranto
na hora que o mundo apaga.
Me pergunto,
por fim,
se a vida continua
assim tão complicada
e o esfarrapado
está tão sujo quanto o roto,
por que somente eu mudo
se tudo continua a falar nada
por mim?
Dias de chuva
O brilho dum céu
azul celeste
traz a prece
da redenção.
Uma garoa fina
lava a grama
e faz do verde
a lama que
quer pedir
perdão.
Cada gota
de chuva
cai como
confissão
e pesa
culpa sobre
a minha
cabeça.
Rezo,
portanto,
pela expiação
das minhas
falhas e que
minhas faltas
não sejam
a prova exposta
daquilo que
nem sei.
De quando as tardes eram domingos
O fim de tarde traz os versos de mais um adeus,
até que chegue a hora do último.
Mas,
isto não é o início do fim,
Mas,
o fim de um novo começo,
pois para que ter a tola ideia
de que um dia tudo acaba,
se esse pensamento é tão ruim?
Os caminhos cruzaram
nossas histórias e,
cada vida,
um livro que se escreve
com as lembranças
e a memória,
se encheu de mais palavras
e o horizonte se alargou.
Experiências.
As conversas demoradas,
acompanhadas d'um
bom café quente.
Frases mal elaboradas
que o riso descontraído
o trabalho alegrou.
E viva a vida.
E viva o dia.
Pois ainda que
chegue a hora
do adeus
nunca é tarde
para um novo começo.
E no embalo
destes versos
enfim,
por mim,
eu me despeço.
Algumas faces escondem, alguns sorrisos disfarçam, mas nenhuma mascara oculta alguem de si mesmo, pois o inconsciente sempre faz surgir lembranças e historias e em algum momento o teto do teatro tem que desabar
Nem tudo que parece sombrio
é escuro
e conserva escuso a maldade,
pois mesmo nas noites mais negras
e nas tempestades mais agudas,
as sombras projetadas
nas calçadas,
numa voz sem som,
dizem que
em algum momento
é possível ver a luz.
Não é a singeleza do momento,
mas a intenção sincera do autor
imortalizada nas preces,
de um outro tempo,
quando viver era mais simples.
Ninguém é totalmente imune
à própria loucura
e quem o diz se engana,
posto que a pseudo sanidade
é vaidade profana que corrompe,
mas a demência revela
o prazer de viver até
os últimos instantes de cada idade.
As peças de muitos
esquecidas aos poucos
formaram a vida
que hoje sou eu.
O jogo de alguns
é o lamento de tantos.
A morte pra uns
é a vida dos outros.
Infinitamente
os mesmos passos
se repetem
no futuro.
O menino de hoje
mal sabe, mas
sua história
é só um esboço
do que algum outro
já foi.
A vida é mórbida
para quem não tem
o antídoto para a dor
que é viver.
Sofrer?
Não é bem isso...
Está mais para lamento
existencial...
Afinal, estamos
aqui, no mundo,
para quê?
Numa noite escura
a fogueira é testemunha
do lamento da viola.
E o fogo crepita
e a viola chora
o quão quente é a paixão.
Mas o dia chega
e a lembrança
da noite anterior
não passou de ilusão
que a pinga
a voar a mente
sempre deixa...
Quando o dia dá bom dia ao tempo, o vento muda seu rumo, o horizonte pequeno abarca um oceano, o sol nasce sem medo e o suspiro do silêncio é a melodia dos passos...
O tempo marca nos rostos
o preço pago pela vida,
até que chegue o dia
que o tempo, por fim,
acaba...
A janela aberta permite a vista
do resquício do que fora uma manhã.
O tempo descansa e sossega
o dia que o sol entrega
à uma outra noite sem cor.
A vida já não é tão viva...
Os sonhos mais parecem prantos...
Tanta gente e tanta reza...
Tantas vozes e tantas preces...
Quando o que falta é só um pouco
de mais humor...