Coleção pessoal de dia_marti
O meu trabalho é destruir, aos poucos, tudo o que me lembra.
Reflexão e, ao mesmo tempo, exercício mortal.
O que era necessário era reconhecer claramente o que devia ser reconhecido, expulsar, enfim, as sombras inúteis, tomar as medidas que convinham.
um espelho onde não me reconheço.
mas o pior é que nunca acreditei no que me disseram, e parti o espelho
pressinto uma sombra a envolver-me. ouço músicas...
espirais de som subindo aos subúrbios´da alma.
não semearei o meu desgosto, por onde passar.
nem as minhas traições
e atravessei cidades e ruas sem nome, estradas, pontes que ligam uma treva a outra treva.
e vi a vida como um barco à deriva - vi esse barco tentar regressar ao porto - mas os portos são olhos enormes que vigiam os oceanos - servem para levar-nos o corpo até um deles e morrer.
o verdadeiro fugitivo não regressa, não sabe regressar.
reduz os continentes a distâncias mentais.
preparo-me para entreabrir os olhos e
deixar escorrer a convulsão oleosa das lágrimas e das coisas tristes
cada um de nós
sepultou na alma uma quantidade desumana
de dor e de mortos
tudo se decompõe
apodrece
à procura de um rosto que imite a felicidade da voz perdida - ou um corpo qualquer para fingir o sono junto ao teu
ensanguentou-se a fonte dos sonhos
por isso fecha os olhos e vê
como o desejo acabou- vê a prata suja
envolvendo os amantes
no meio de sedas cintilantes espelhos e fogos
onde o sussurro das horas se perde
escreves exactamente isto : o horror dos dias
secou contra os dentes- e rouco
dobrado para dentro do teu próprio pensamento ferido.
... na brutalidade com que a voz se atira contra
as paredes
abrindo fendas
em toda a extensão das veias e dos tendões (...) fechamos os olhos sabendo que este é o maior engano da eternidade