Coleção pessoal de dia_marti
«Estávamos reduzidos ao nosso passado, e, ainda que alguns de nós tivessem a tentação de viver no futuro, rapidamente renunciavam»
«Filhos que tinham vivido junto da mãe mal olhando para ela punham toda a inquietação e angústia numa ruga do seu rosto que se fixava na sua recordação. Esta separação brutal, sem meio termo, sem futuro previsível, deixava-nos perturbados, incapazes de reagir contra a lembrança dessa presença, ainda tão próxima e já tão distante, que ocupava agora os nossos dias»
... mas olhava de novo para a criança, que não tinha deixado de o fitar com o seu olhar grave e tranquilo. E de repente, sem transição, o pequeno sorriu-lhe, mostrando todos os dentes.
Gostei muito de ti, mas agora estou cansada... Não me sinto feliz por partir, mas não é necessário ser-se feliz para recomeçar
Havia os sentimentos comuns, como a separação ou o medo, mas continuavam a pôr-se em primeiro plano as preocupações pessoais. A maior parte era sobretudo sensível ao que perturbava os seus hábitos ou atingia os seus interesses.
Depois disse-lhe muito rapidamente que lhe pedia perdão, que devia ter olhado por ela e que a tinha desprezado muito (...)
- Tudo correrá melhor quando voltares. Recomeçaremos.
-Sim - concordou ela, com os olhos brilhantes - recomeçaremos.
Um momento depois voltava-lhe as costas e olhava através da janela. (...) e, quando ela se virou, viu que tinha o rosto coberto de lágrimas.
-Não- pediu ele com ternura. (...)
Ela respirou profundamente.
- Vai-te embora, tudo há de correr bem. (...)
Abraçou-a e, no cais, agora do outro lado do vidro, já não lhe via senão o sorriso
- Tem cuidado contigo, peço-te.
Mas ela não podia ouvi-lo.
Mas estava a ler este romance. Aí está um desgraçado que é preso de repente, numa bela manhã. Ocupavam-se dele. e ele nada sabia. Acha que é justo? Acha que há direito de fazer isso a um homem?
Num certo sentido, pode dizer-se que a sua vida era exemplar. Era desses homens que têm sempre a coragem dos bons sentimentos.
Para o consolar, eu disse-lhe - "Mas acontece o mesmo a toda a gente!"
-Justamente- respondeu-me ele- , somos agora como toda a gente
era a linguagem de um homem cansado do mundo em que vivia, mas que amava, contudo os seus semelhantes e estava decidido a recusar, pela sua parte, a injustiça das concessões
... por entre lágrimas, disse que não recomeçaria, que fora apenas um momento de loucura e que desejava que o deixassem em paz
... o seu refúgio continuava a ser a poesia. Duas ou três pessoas dão pela sua presença, enquanto os outros, os mesmos que no futuro farão dele um vulto universal, passam, ignorando-o simplesmente. Mais uma vez o rótulo da loucura serviria para denegrir a imagem de um ser vivo, que renegando a inserção na sociedade preconceituosa e hipócrita, soube imprimir uma mudança, um modernismo conotado com a loucura.
E eu passo, tão calado como a Morte,
Nesta velha cidade tão sombria
Chorando aflitamente a minha sorte