Coleção pessoal de demetriosena

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CANTOS ANCESTRAIS

Demétrio Sena - Magé

Quando a música preta quebra o vento,
cai nos fundos desvãos do coração,
é a força que faz o sentimento
me curvar com silêncio e devoção...

A voz preta ressoa essa canção
que não quer mais pedir consentimento,
pois ainda procura uma nação
no país que prolonga o seu lamento...

Há na música preta uma verdade
onde o sonho de paz e liberdade
grita sob silêncios ancestrais...

A minh'alma se rende às pretas vozes
da mãe África, e cobra dos algozes
o suor dos pais dos pais de meus pais...
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ALGUMA POESIA

Demétrio Sena - Magé

Todo mundo precisa daquela emoção
para lá de si mesmo; desse "por um tris";
criar asas na mente, ser mais coração,
corromper as lacunas de marcar com x...

Não entendo esses medos de ficar feliz
fora dessas redomas de acomodação;
de sorrir e voar, se permitir um bis,
ir além do formal; da própria permissão...

Carecemos de oásis no meio do ermo;
é preciso hidratarmos nosso eu enfermo
que suplica o placebo duma fantasia...

Entre cinzas e dunas acharemos rosas;
numa vida repleta por sombrias prosas
é pecado não termos alguma poesia...
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VIVEIROS HUMANOS

Demétrio Sena - Magé

Tenho pena de gente que vive assombrada
e que foge de gente que não tem assombros,
vai e vem numa estrada que tem por herança
de seus ombros arcados com tantos avisos...
Tem temor do que possa lhe tirar do estreito;
dar alguma emoção que não foi permitida;
ver um jeito mais simples e livre de andar
ou ter vida mais leve sob os passos tensos...
Uma gente que ri com recato e pudor;
viciada na dor de se livrar do mal
de sentir um carinho fora dos padrões...
Que se rói de remorsos pelo encantamento,
quando sente outro vento passear no rosto,
com um cheiro de gosto que provoca sonhos...
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ABANDONOS


⁠Demétrio Sena - Magé

Abandonar ficando
costuma ser pior
do que abandonar abandonando...

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⁠SÓ ME RESTA SABER

Demétrio Sena - Magé

Há um peso nos olhos pro futuro
e minh'alma já pede pra descer,
a viagem no escuro dos meus passos
é um ter que seguir porque respiro...
Uma vida que teme o mundo à vista,
em um tempo que há tempos expirou,
minha grande conquista não é mais
do que haver alcançado a minha idade...
Levo apenas o caos nesta mochila,
o meu sonho cochila e caio em mim,
só me resta saber que tudo é resto...
Chego ao ponto em que sigo reticências,
vim além da banguela e sobrevoo
as vivências há muito não vividas...
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⁠GUARDADO EM MIM

Demétrio Sena - Magé

Retirei o meu corpo dos teus olhos
e com ele a minh'alma dependente,
minha mente precisa se despir
desta já desgastada fantasia...
Foste o porto seguro da quimera,
uma doce mentira tão real,
primavera nas dunas do deserto
que também se vestiu dentro de mim...
Resolvi me guardar no meu vazio,
senti frio na hora em que acordei
do meu sonho de ainda ouvir um eco...
Mesmo assim agradeço pelo bem
dos teus olhos e tua gentileza
com alguém tão sem mundo como eu...
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⁠REDENÇÃO

Demétrio Sena - Sena

Tem gente que afirma incansavelmente, que "não rasteja para ninguém". Se é verdade, não sei. Mas houve um tempo em que também pensei dessa forma e para mim tanto fazia que as pessoas queridas estivessem distantes, próximas ou não existissem mais. Meu orgulho era perverso; gelado; irredutível. Sem a menor chance para quem queria o que hoje sou eu quem tanto quer.

Não sei o que deu em mim e não vou arrotar que "me tornei uma pessoa melhor"... mas atualmente, confesso que dou as minhas rastejadas. Não por amores românticos, paixões, desejos ardentes... nem por aproximações que me tragam vantagens, prestígio, notoriedade (real ou de fato)... e sim, por amizades que prezo muito, afetos consanguíneos próximos ou distantes. Rastejo por aproximações, reaproximações e desmanches de mal entendidos ou até das más impressões que, justificadamente, um dia causei.

Quero trocar os remorsos do passado, no qual fui soberbo, frio, grosseiro e afastei tantos afetos, pela consciência de minhas tentativas no presente. Mereci chegar ao estágio dos rastejos, e o faço com sinceridade; pronto a entender que meus pedidos, velados ou abertos, de perdão por quem fui, não podem ser impostos, porém pedidos; rastejados; dispostos a entender os nãos.
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⁠SOBRE RISCO SOCIAL

Demétrio Sena - Magé

Bom mesmo, é ser alguém respeitado em situações improváveis. Ou ser levado a sério em contextos que ninguém seria. Merecer, como não seria concebível no cotidiano, bons olhares e admirações sinceras. Ter a confiança de quem normalmente não confiaria, pelas livres exposições desse alguém; de quem ele é, sem qualquer camuflagem.

Secularmente, um ser humano precisa de muitos vernizes. Camadas incontáveis de massa corrida, casca ou lona sobre corpo e alma, para ter o respeito, a confiança e os espíritos desarmados em derredor. É algo inexplicável, quando alguém acerta em cheio ao escolher quando e onde mostrar sua versão mais deslavada, crua e desnuda.

Depois é leve o seguir. Tendo sido feliz em, talvez, um mundo particular, habitado por gente que sabe ver além e mais profundo, sem a canga de tantos dogmas. Gente que aposta no caráter, sem pé atrás, ainda que o casco à frente não ajude, por ausência de rótulo. Às vezes é preciso arriscar, para saber que determinadas pessoas existem.

Evidentemente, no meio do caminho tem as mesmas almas previsíveis... assombradas pelas próprias sombras.
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⁠PROVA DE AMOR

Demétrio Sena - Magé

As pessoas são isso que sabemos;
precisamos viver, apesar delas,
porque temos um mundo pra sonhar;
uma vida pra ser, de fato, nossa...
Também somos difíceis para tantos,
muita gente suporta nossas cargas,
costas largas precisam ser trocadas
como selos; revistas; figurinhas...
Nosso tempo é pra ser a nossa chance,
nosso jogo num lance decisivo,
cada vez que vencermos uma etapa...
Só nos resta saber que somos rio;
talvez cio corrente rumo ao mar
onde amar terá sido nosso ingresso...
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⁠O BOM SAMARITANO

Demétrio Sena - Magé

Os samaritanos eram considerados impuros pelos judeus, porque se misturaram com outros povos, naqueles tempos entre pouco antes e pouco depois de Cristo. Para os judeus, todo samaritano era indigno por não ser o que designarei como "puro sangue". Tão indigno quanto, já no mundo moderno, os judeus foram considerados pelo ditador Adolf Hitler, que os torturou e assassinou em massa.

Não foi à toa que Jesus Cristo contou a parábola do bom samaritano. E não precisava ser parábola, pois era, como ainda é, algo vezeiro na sociedade. Na parábola, um homem muito ferido, após um assalto com espancamento por vários homens, foi socorrido por um samaritano que, não só o socorreu, como cuidou dele até ficar são. O socorro aconteceu depois que vários líderes e fiéis da religião então predominante passaram por aquela vítima e fingiram não ver. Eram muito religiosos e não podiam perder seus cultos, ritos ou programas de crença.

Como era naqueles tempos, e continua hoje, quem sempre se preocupa com o próximo, não com discursos e pregações, mas com práticas, é o considerado impuro; ímpio; perdido; renegado por Deus. Quando raramente um religioso pratica o bem, sem qualquer interesse ou pagamento (em valores ou conversões coagidas visando futuros dízimos ou fortalecimento da religião), esse religioso é alguém que agiria da mesma forma, se não fosse do meio.

Religião não nos muda. É o ser humano que muda e depois adere à religião. Na maioria das vezes ela camufla o ser humano, que troca de pecados: deixa de fumar, beber, dizer palavrões e pular carnaval, por exemplo (ou nem deixa, pois inventa vícios com "selo cristão", inclusive carnaval gospel, sem nem o cuidado de batizar como "almaval") e adota outros pecados: condenar por conta própria, oprimir quem discorda e apoiar políticos corruptos e ditadores, desde que eles prometam associá-lo ao sistema.

Entre acreditar em um religioso e um pagão, acredite no segundo. Entre um cidadão padrão que se auto intitula do bem e um estranho marginalizado, prefira este. A parábola do bom samaritano é uma realidade que se repete a cada dia, em qualquer lugar. Os que se arrogam santos, olham sempre por cima para o semelhante. De alturas que jamais condizem com o que se pode ser.
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⁠"LATA D'ÁGUA NA CABEÇA, LÁ FOI MARIA

Demétrio Sena - Magé

Quando Maria Lata D'água, ex-passista da Portela, com passagem por outras escolas de samba voltou ao Brasil com seu esposo Charles, com o qual se casou na Suiça, o Paulo Redator e eu, que redigia seu jornal, fomos os primeiros a entrevistá-la. Eles vieram morar no Município de Magé. Em um sítio bucólico de Bongaba, no sexto distrito. Charles era um membro de família real na Suiça, que se apaixonou por Maria, quando a viu sambar graciosamente com uma lata de vinte litros d'água na cabeça (foi assim que Maria se tornou Maria Lata D'água) e ambos não demoraram a se tornar um casal que viveu junto até que a morte (o esposo morreu primeiro) os separou.

Maria foi tema de homenagens no mundo do samba (lata d'água na cabeça, lá vai Maria...) e foi inspiração para muitas passistas que vieram depois dela. Quando voltou da Suiça, já na meia idade, foi grande a correria de jornais que a procuraram para matérias que despertaram muito interesse. Maria e Charles receberam o Paulo e a mim com sorrisos, café, bolo e uma entrevista muito alegre, na qual expressava sua gratidão à vida. Ela passou a frequentar a Igreja Católica de Piabetá e, quando Charles faleceu, entregou seus bens a entidades, foi viver em um convento e passou a participar das programações da Rádio Católica Canção Nova, em São Paulo.

Não escavei detalhes de sua morte ontem, da qual eu soube logo depois de falar dela para o Arnaldo Rippel, um amigo de Petrópolis, que acabara de fazer um poema em homenagem à escola de samba Portela. Sei que morreu aos noventa anos. Tive com ela e o Charles uma curta e doce amizade. Nunca mais a vi, senão em matérias pontuais do meio católico. Ficam boas lembranças de uma artista e ser humano incomuns, não pela fama, e sim, pela sensibilidade, o coração sempre aberto e uma grande simpatia.
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⁠NÃO É NAÇÃO CONTRA NAÇÃO

Demétrio Sena - Magé

Se Deus Existe (neste momento Sua Existência não é a minha questão), não existe um país licenciado por Ele para cometer genocídios; holocaustos... matar inocentes que cruzem seus caminhos nas guerras contra outros países. E todos os povos que já sofreram no corpo, na psique, na alma e nas perdas de afetos e lares a desgraça do ódio, do preconceito e da ganância em todos os quesitos, deveria desejar a paz... não a vingança com novas guerras a qualquer custo e a banalização comparativa de quantos inocentes morreram e morrem lá e cá. Tanto no passado quanto no presente.

Nenhuma nação outrora vitimada poderia desejar o extermínio de outra nação... a matança de outros povos na proporção das perdas de seus entes queridos ou ascendentes, em desgraças passadas. Não há povo escolhido por qualquer divindade, real ou fictícia, para ceifar inocentes nem como efeito colateral do combate aos exércitos e outros poderes do país desses inocentes. Perante a massificação da máxima de que "guerra é guerra", fique registrado que genocídio é genocídio; que holocausto é holocausto, não importam números, táticas nem quem os pratica em nome de quem... ou "Quem".
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⁠DOR SOBERBA

Demétrio Sena - Magé

É viável que amemos a nós mesmos,
mas não tanto que o próximo inexista;
fere a vista vivermos da miragem
de que nosso deserto nos provê...
Amor próprio não pode ser paixão;
sermos loucos por nós é temerário;
ao beijamos o chão dos nossos pés,
a poeira se apossa dos pulmões...
Nosso eu se completa em outros eus;
quando não nos achamos ao redor,
o que resta por dentro é dor soberba...
Há em nossas cabeças um hospício;
esse amor declarado ao nosso espelho
faz comício notório da loucura...
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⁠HOLOCAUSTOS

Demétrio Sena - Magé

Holocausto é sinônimo de sacrifício; expiação; imolação; oferenda. Morte de um ou mais inocentes; pode ser na cruz, na fornalha, na câmara de gás ou entre becos, vielas e dentro de casa, por uma guerra sem regras definidas. Nos conflitos que as vítimas (povos palestino, judeu, russo, ucraniano e todos os outros que morrem aleatoriamente) não provocaram. Nas guerras de facções criminosas ou de polícias contra bandidos, as vítimas de balas perdidas, por exemplo, são sacrificadas. Isso é um holocausto.

A comparação que o presidente Lula fez, no discurso que os seus inimigos políticos e sub inimigos (pessoas comuns infladas por mídias e políticos da direita) distorcem, não foi do número de inocentes mortos nem das formas de morte desses inocentes. Foi da crueldade na busca de uma vitória sobre o inimigo, sem poupar vidas inocentes encontradas no caminho de seus objetivos.

Holocausto não é só de milhões de pessoas... nem só de pessoas, a depender de práticas religiosas. Quando Cristo, inocente de todas as acusações, morreu na cruz, houve um holocausto. Quando se mata um animal para trabalhos religiosos, é um holocausto, pois o sangue de um inocente foi derramado. Uma vida foi sacrificada. Matar judeus, palestinos, brasileiros ou qualquer outro povo em uma guerra, para limpar o caminho e chegar ao inimigo, é holocausto. Liderado por seja lá quem for. Não apenas por Hitler.

Lula condenou o Hamas pela matança que promoveu em Israel. Foram muitas vítimas inocentes. Um holocausto. Condena também o governo Israelita, por promover a matança do povo palestino, sem poupar crianças, idosos e mulheres em sua escalada por um objetivo improvável, dessa forma. Muitos presidentes desaprovam as práticas de Israel nessa guerra e já disseram o mesmo que Lula. O mérito, é que eles foram mais cautelosos. Apenas isso.

Digo, especialmente aos cristãos com sangue nos olhos, que não desejo o holocausto dos povos de Israel nem da Palestina... dos ucranianos nem dos russos; brasileiros; alemães(...). Não são os povos, os inimigos entre si. São os governantes desses povos, vítimas de seguidos holocaustos, não importa o sinônimo aplicado.
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⁠ESCRAVO DE NÃO SER ESCRAVO

Demétrio Sena - Magé

Já tive a fome como a minha escolha,
quando meu cardápio era ter fome ou ser livre.
Quando ter comida e ter também liberdade
não caberiam na bolha do meu mundo...
Na verdade, optei por comer poesia,
por ter as artes como sobremesa,
se a mesa não podia ser variada;
era isto ou aquilo, na barriga ou n'alma...
Hoje como ensopado de cultura,
já tendo alimentado bem o corpo...
não cato mais tanajura pra ter "carne"...
poesia é meu emprego, as artes complemento.
Meu alimento é graças à teimosia
de querer me manter de ambas as formas.
Compro meu vestuário, embora modesto,
com o que "não dá camisa pra ninguém";
não disse amém à receita desumana
de suor e de sangue para ter comida;
da lida insana que os exploradores ditam.
Fui um bravo sem nome; sem escudo;
devo tudo a ter escolhido a fome,
quando a fome queria me tornar escravo.
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⁠MINICONTO À PAISANA

Demétrio Sena - Magé

Caía um temporal de assombrar. Trovões, relâmpagos, ventos fortes, granizo... Pessoas que voltavam de seus trabalhos corriam apavoradas, na tentativa de se protegerem sob as marquises locais.

Ao longe, uma daquelas figuras que rezam para pneu dava gargalhadas como aquelas dos vilões vingativos de filmes. Ao perceber que chamara minha atenção, o cidadão patriota me olha com soberba, infla o peito e dispara o seu clichê:

- Tá vendo aí no que deu você votar no ladrão? Deus tarda, mas não falha! Faz um L agora, seu comunista!
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⁠IMPÉRIOS DA ALMA

Demétrio Sena - Magé

Quando alcançamos nossos patamares materiais, culturais e socioeconômicos mais elevados, mantermos velhos laços com as pessoas mais simples que sempre nos fizeram bem não nos "puxa para baixo"... isso é mentira dos coachs que arrancam seu dinheiro fácil. "Crescermos na vida" não significa termos que romper com as antigas relações por precisarmos priorizar outros ambientes, grupos ou cenários. Até porque, as maiores riquezas são as nossas raízes, nossa história e os afetos que fizemos ao longo de nossas vidas.

"Pobre de marré de si" é quem, ao invés de acumular afetos e valorizar as diversidades humanas e socioculturais, foge de si mesmo ao se desgarrar da própria formação. Mudar para melhor é amadurecer os olhos sobre o mundo e crescer em afeto e generosidade... não em frieza, deslumbramento, soberba e postura fútil perante o novo cenário de vida. Vencedores, mesmo, são aqueles que vencem seus preconceitos; não os que os adquirem ou acumulam... são os que superam, principalmente, as barreiras humanas e socioculturais de uma sociedade atrasada.

Os maiores impérios que podemos construir são os afetivos e multiculturais. Quero sempre levar comigo as minhas referências de casa e de mundo, para que o futuro não seja vazio. Para mim, o complexo de grandeza é um sentimento miúdo e desprezível. Não há brilho, glamour, vitrine ou plastificação que disfarce os fungos do ser humano pobre de alma.
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⁠TODAS AS BÍBLIAS

Demétrio Sena - Magé

Sou um crente fiel à verdade sem dono;
ao amor sem padrão; que nos faça felizes;
tenho fé no meu sono sem peso e remorsos
que me punam por sonhos ao longo do dia...
Eis a minha oração; pra não termos que orar;
louvo ter liberdade pra não ter louvor;
o meu templo é morar onde as asas da mente
achem todo esse amor que não mora nos templos...
Leio todas as bíblias da vida e do mundo
lá no fundo dos olhos e das bibliotecas;
das nascentes, das matas e seus habitantes...
Eis a minha oferenda; meu dízimo leve
que se atreve a não ser pros colonos da fé;
sou um crente fiel às mensagens do tempo...
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⁠O MUNDO MELHOR A PARTIR DE CASA

Demétrio Sena - Magé

Criemos filhos com amor; informação honesta, realista, valorização cultural, cidadania e liberdade. Aprendi, como cidadão não religioso, mas que admira o cidadão revolucionário Jesus Cristo, que a graça está acima da lei... o amor é o parceiro mais confiável da justiça.
Venho de um tempo em que a vara, os punhos e pontapés eram símbolos da educaçao. Mas eu não concordava, como filho, nem com um tapa. A força física ou as ameaças como xingamentos e advertências truculentas tornam o ser humano inseguro, dissimulado ou, na maioria das vezes, violento contra filhos, cônjuge, sociedade.
Tenho duas filhas de bom caráter, trabalhadoras, incapazes de prejudicar ou machucar pessoas. Foram criadas sem surras. A vara, incentivada nas igrejas, não fez falta na formação delas. E mesmo não tendo dado surras, acho que errei quando, algumas vezes, fui mais exaltado nas palavras, que nunca foram de xingamento, porém exaltadas. Hoje nem essas palavras fariam parte da criação de outra filha ou filho.
Nascemos para evoluir. A Bíblia, que não rege minha vida, mas tem ensinamentos louváveis, evoluiu quando Cristo achou necessário transgredir as leis truculentas do Velho Testamento, para instituir o Novo, no qual prevalecem a graça, o amor e a paz, na resistência aos males da humanidade.
Precisamos contribuir com a extinção de velhos conceitos, inclusive literários, e preconceitos que amarram a evolução. Além do amor, criar filhos orientações realistas (não surreais), liberdade de pensamento e ação, principalmente com exemplos, e permitindo que eles sejam quem quiserem, é a semente para o mundo melhor.
Os testamentos do tempo precisam atender às novas realidades. Atritos de gerações, que tornam a humanidade violenta, nada mais são do que a fuga dos domínios pelo outro. Fugimos dos domínios dos pais, dos mais ricos, mais fortes e/ou poderosos, crendo na reversão, pelo domínio sobre eles, o que gera mais atritos.
Quando ninguém representar ameaça ao outro, construiremos o paraíso aqui. Não em um reino superior. Pensemos nisso, com a criação indolor, sem traumas e revoltas, dos filhos. Creio na evolução humana. Retrocessos como nos últimos anos, acho imperdoáveis.
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⁠UM SER HUMANO NO PODER

Demétrio Sena - Magé

Fosse apenas pela inflação, eu poderia votar em qualquer outro candidato (evidentemente, menos naquela coisa que sabemos qual). Inflação é fenômeno constante, que se pode controlar, mas não extinguir. O atual governo tem controlado, com algumas dificuldades (que tenho criticado, inclusive nas páginas oficiais na web). Vem alternando itens, como outros fariam, com um nível médio de competência. Quero mais e tenho cobrado isso, porém, o retorno dos empregos e maior justiça social têm balanceado este cenário.
Mas o meu voto, em essência, foi no retorno da liberdade cidadã. Do retorno das artes, da literatura e da imprensa livres... também da valorização do trabalhador comum. Da democracia sem ameaças diárias. Votei, também, no compromisso institucional com a defesa das nossas matas, nossos rios, oceanos, os povos e tradições indígenas, a liberdade religiosa ou a não religião... nas leis mais eficientes contra o racismo, de proteção à mulher e ao menor. Os direitos humanos, como um todo.
Refiro-me ao compromisso institucional, porque tudo isso é pauta das esquerdas e mesmo assim existem falhas; casos de não cumprimento... mas pode ser cobrado, por se tratar de compromissos formais; obrigatórios. Imaginem como seria (e como já era prática no governo anterior) com as instituições e/ou partidos que não têm qualquer compromisso instituído com todas essas e outras pautas e diretrizes.
De todas estas questões, a que mais me toca é a liberdade. Aprecio poder falar, criticar, protestar contra o governo em quem votei... preciso, ao não gostar de sua condução em determinadas questões, gritar que não gostei. Poder fazer tudo isso é obrigar o governo a trabalhar direito e se ajustar às muitas necessidades populares, principalmente na inflação.
Ter votado em um ser humano que não sou obrigado a adorar como se fosse um deus ou mito, me dá essa dignidade como cidadão que não bajula e não aceita migalhas dos poderes. Com algumas insatisfações (o que sempre há), ainda não me arrependo do meu voto. Como já disse, votei em um ser humano... aquele outro não "era" humano.