Coleção pessoal de demetriosena

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⁠SOBRE UM NOVO TEMPO

Demétrio Sena - Magé

Entre as inúmeras formas de renovação humana e social que desejo a cada novo ciclo - pessoal ou coletivo -, sonho com um tempo de menos teorias da conspiração. Teorias em torno da crença... da não crença ou do ateísmo... da sexualidade, o gênero, a ideologia... dos hábitos, o passado, a origem e a cultura do outro, que só dizem respeito ao outro. Que não causam danos reais ao seu redor (as teorias da conspiração envolvem danos fantasiosos, todos causados por desinformação, superstições e fanatismo).

Se começarmos o ano cuidando mais de nossas vidas e menos das dos outros... desejando a nossa felicidade mais do que a infelicidade alheia... disputando menos destaques pessoais e dando menos ouvidos ao que não é de nossa conta e podemos observar silenciosamente, por conta própria, teremos um ano melhor. Já o mundo melhor exigirá de nós, mudanças mais profundas de pensamento, ação e respeito ao outro. Seja como for, é sobre nós em relação ao próximo e seu direito a ser quem é.
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⁠TEMPO EM PÓ

Demétrio Sena - Magé

Ando muito sem onde; sem caber;
há um poço insondável no meu peito;
um doer que nem sinto, por ser tanto,
que definho de muito não sentir...
É um vago voar sobre o vazio,
uma forte fraqueza que me gasta,
sinto frio no meio do calor,
numa vasta e sombria e compressão...
Toco a massa da própria inexistência;
minha essência não é essencial
nesta sombra que nada justifica...
Olho em volta, sem algo para ver,
pois viver é coar o tempo em pó,
pra tomar um café com solidão...
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⁠"EMBORA O NÃO OBSTANTE"

Demétrio Sena - Magé

Às vezes faço de às vezes,
o que no fundo é de sempre,
no meu excesso de nunca...
Por vezes tento não crer
no que os ouvidos enxergam;
não ver a voz do silêncio
do que acontece ao redor...
Ou tento não dar ouvidos
aos próprios olhos atentos,
pelo melhor do pior...
nem dar sentido ao que sinto
que já nem sinto que sinto,
de tanto que já senti...
E tantas vezes percebo
que disse puras verdades
em tudo quanto menti...
Fecho a boca pra não ver,
pra saber que não sei nada,
embora o não obstante...
Em outras tento tentar
manter a mente calada;
o coração não pensante...
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RETICÊNCIA SOLO

Demétrio Sena - Magé

Deixarei que aparências me façam culpado
no que sou, no que não, no que dispensa culpa;
do passado, de agora, o que virá depois,
pois assim faço atalho em minha via-crúcis...
Não encontro coragem pra ter a razão
que não tenho, que tenho, que ninguém teria,
porque meu coração não terá menos dor
onde a minha ferida é nunca mais te ver...
Ser vilão, meio herói, tanto faz para mim,
se no fim desta saga só tem solidão
e serei condenado, mesmo absolvido...
Teu adeus me faz réu que dispensa inocência;
reticência sozinha que dá ponto e nó
no roteiro que a vida entregou ao destino...
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⁠PELO QUE SOU

Demétrio Sena - Magé

Os disparos maciços dessas mensagens natalinas e de ano findo, que muitas vezes nos atingem (afinal são maciços), não desmancham possíveis anos inteiros de frieza, indiferença, separatismo, julgamento e preconceito. Especialmente se tudo isso é causado pela religiosidade predominante no país, que, da boca para fora prega o amor incondicional, como deveria mesmo ser. O livro sagrado que, supostamente rege tais fiéis, é utilizado apenas nos fragmentos de textos que lhes dão destaque tão favorável quanto fácil.

Asseguro que as mensagens pessoais diretas, os estilhaços dos disparos maciços e declarações ou gestos pessoais dos que me tratam com afeto sincero, de janeiro a janeiro, recebo com carinho e gratidão. Não pelo momento específico, mas pela convivência diária ou pontual que me mostra quem é quem, não importa o dia de qual mês. Sobre meus silêncios e o recolhimento em fim de ano - quando posso -, peço a todos que me perdoem pelo agora; pelo que não estou... e continuem me aceitando pelo sempre... pelo que sou.
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⁠DATA

Demétrio Sena - Magé

Uma data me deixa sem voz e sem vez,
porque ser "todo mundo" é difícil pra mim;
dizer sim onde os olhos não dizem o mesmo
e minh'alma está longe do que podem ver...
Não me falta esse amor popular do momento,
só não sei atender à demanda maior
de fomento verbal ou de gestos em massa,
porque sinto vazio quando tudo é cheio...
Essa data me aborta de fora pra dentro,
põe o centro do nada em meu olhar pro mundo;
o meu peito se sente velho cais do caos...
Minha data profunda não vibra nos olhos,
não afloram nos lábios ou à luz dos dentes
as enchentes de luzes que não me alumiam...
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PEDRA E FÉ

Demétrio Sena - Magé

Rejeitei essa fé que separa os afetos,
que reprime os que pensam de forma diversa,
desconversa o que prega sobre o próprio amor,
para quem se desprega do seu engradado...
Uma fé seca e fria, que traz desapego
aos que voam sem rédeas, correntes e ritos,
têm os gritos da vida sobre a flor dos lábios
liberados pro sonho que aprouver à alma...
Essa fé que nos poda e saqueia o poder
de querer todo bem que se quer aos demais,
não importa se os outros divergem em fé...
Tenho fé nas pessoas e na fé que um dia
unirá toda fé no invisível ou não,
toda mão que se doa como mais um elo...
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⁠PESCA PROFUNDA

Demétrio Sena - Magé

Entendi que o silêncio tem muito a dizer;
ouvirei com olhares de arrastão secreto;
o melhor a fazer é deixar com o tempo
que tem vara e cajado pra tanger os fatos...
Será sábio fluir ao redor da verdade,
porque tudo virá pelo próprio critério,
sem deixar a metade revolvida em véu
ou mistério comum a quem guarda segredo...
Meu silêncio passeia no calar profundo;
há um mundo nos olhos e quero explorar
as florestas do quanto preciso saber...
Percebi que dar linha tranquiliza a pipa
e com isso conquisto sua confidência;
sua essência repousa nessa confiança...
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⁠PROMISSÓRIA

Demétrio Sena - Magé

Devo à vida um empréstimo tão alto;
meu passado não quis me perdoar;
um assalto a meus anos mais singelos
me tornou seu eterno devedor...
Tenho tantos ferrões em minha mente;
a poeira nos olhos pro futuro
faz levar o presente como carga
sem seguro e nenhuma garantia...
Há um mundo blindado ao meu redor;
minha dor de saber que não me cabe
sabe quanto vazio está por vir...
Hoje sei como a vida é agiota;
como hei de morrer pagando juros,
mas a nota jamais será quitada...
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⁠PRA ME ACHAR

Demétrio Sena - Magé

Hoje sinto a saudade me sondar;
desmentir o granizo dos meus traços,
despertar a tristeza que dormia
nos espaços ocultos de minh'alma...
Os teus olhos arrastam minhas vistas,
tua voz me visita no silêncio,
sigo pistas do quanto estás além,
para ver se me acho por te achar...
Mas preciso manter a minha capa
de quem pensa que a vida vai avante,
quem escapa da própria solidão...
A saudade não quer se despedir
do vazio cravado nos meus dias;
minhas horas tardias desde cedo...
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⁠LEMBRANÇA CONTRITA

Demétrio Sena - Magé

Ninguém teve de mim algo tão delicado;
tão intenso e profundo, mas também tão leve;
despojado, sem preço e sem mais que o sensato
pro que a vida podia reservar pra nós...
Você teve uma prece contínua de amor
de quem nunca faz prece ao sobrenatural;
contrição e louvor, todo culto afetivo
que minh'alma só teve para lhe ofertar...
Fui a sua oferenda; o doce sacrifício;
dediquei o meu corpo aos seus olhos, às mãos,
sem nenhum desperdício de chance qualquer...
Nada foi tão contrito e talvez sacrossanto
quanto as fugas de mim pra desaguar em nós;
os ebós que deixei na sua encruzilhada...
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ESTRELAS DAS LETRAS

Demétrio Sena - Magé

Os poemas de amor também fazem protestos;
os poemas-protesto também são de amor;
as tiradas de humor podem ser muito sérias;
nossas caras de sérios podem ser piadas...
Os poetas estufam pulmões narcisistas
e se acusam por versos diversos dos seus;
têm mania de "Deus" e querem decidir
quem é quem ou merece as "estrelas" das letras...
Há poetas que sabem passear nos temas;
há poetas com lemas e dilemas tesos;
os libertos e os presos até do ser livre...
Os poetas birrentos não têm na poesia
sua via de acesso ao tal um mundo melhor,
porque são entre si como acusam o mundo...
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⁠CAMISA DE FORÇA

Demétrio Sena - Magé

Só queria sentir e respirar;
nunca mais percorri as minhas veias;
esse ar que não nutre minha entranha
cria teias nos sonhos escondidos...
Eu preciso de mim por longas horas
do meu tempo sem tempo para sonhos,
para minhas auroras criativas
que resvalam nas noites opressoras...
Quero tanto poder me consentir,
cometer meu silêncio vento acima,
minha rima, não rima e minha prosa...
Ou dormir até outros universos,
entre versos que tudo amordaçou
numa vida que nunca foi a minha...
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⁠"POETA E ESCRITOR"

Demétrio Sena- Magé

Não entendo por que dizem "poeta e escritor". Com ou sem livro publicado, quem tem a prática da escrita literária - poesia ou prosa - é um escritor; uma escritora. Dizer poeta e escritor é como dizer: artista e fazedor de arte; professor e ensinador; enfermeira e profissional de saúde; arquiteta e desenhista de projetos arquitetônicos; católico e cristão... Você entendeu o que eu "disse e verbalizei", ou melhor; o que eu "escrevi e redigi"? Agora você já "sabe e tem conhecimento disso". "Por nada e não há de quê".
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⁠"ESCREVIDÃO"

Demétrio Sena- Magé

Chego ao fim,
se não escrevo;
me comprimo, anulo,
congelo e travo...
é por isso que me atrevo
a dizer: eu não escrevo...
eu escravo.

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⁠FÉ

Demétrio Sena - Magé

Tenho fé na vontade que me faz voar;
nos temores que acuam, se vejo perigo;
no luar que alumia e também me camufla
quando sigo meu rumo com certo cuidado...
Ponho fé no ateísmo que reforça os passos
ao mostrar que não tenho favor abstrato;
os espaços não guardam milagres e graças
para minhas procuras com gritos e preces...
Minha fé se baseia no ter que acordar
ou por ter acordado precisar seguir;
talvez nem conseguir, porém ter pelejado...
É a fé na não fé que me dá tanta fé
pra plantar cada pé improvável de sonho
e colher consciência do quanto plantei...

⁠PLANTIO CIDADÃO

Demétrio Sena - Magé

Nada muda,
se todo mundo
não plantar
sua muda...
Nada muda
pra melhor,
se até o mudo
e a muda
não gritarem
com atitude...
Todo mundo,
todo mudo,
toda muda
(de temor),
têm que achar
a coragem
no auto amor...
soltar a voz
tão grave
quanto aguda...
E saber
que nossa vida
um dia muda,
se nossa voz
soltar o ato...
plantar a muda...
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⁠AMANTES DA SERVIDÃO

Demétrio Sena - Magé

Quem calava, engolia, era só "sim senhor",
bendizia o chicote, oferecia o lombo,
era grato ao favor de raspar as migalhas
que sobravam dos luxos de todos poderes...
Os que sempre beijavam as mãos dos carrascos
e tiravam chapéus para suas bravatas
ou serviam churrascos que não consumiam
onde nunca deixaram de ser invisíveis...
Esses dizem, agora, que nunca sofreram,
que jamais lhes prenderam por "subversão",
quando são testemunhas da própria utopia...
Hoje gritam bravuras que nunca tiveram,
pregam sua "macheza" de bois patriotas
ou ovelhas devotas de novos senhores...
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COMPLEXO PASSIONAL

Demétrio Sena - Magé

O resumo de tudo é que te amo tanto
e com tal devoção, que me dói tal sentir;
com demência, quebranto, precipitação;
desejando mentir sobre o fogo notório...
Eu te amo com mágoa de ti e de mim,
conto cada rompante de ambos os lados,
vou ao fim que não tem, meço cada minuto,
redesenho passados, invento presente...
Quero sempre mudar as verdades ferinas
ou ficar frio e seco, para ser imune
às ruínas que a vida propõe aos amores...
A verdade afetiva que pauta meus passos
traz temor, embaraços, alucinações
sobre nunca ter tido reciprocidade...
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DECLARAÇÃO DE AMOR

⁠Demétrio Sena - Magé

Se ainda não o fiz nem tenho mais como construir belas e reconfortantes lembranças afetivas, preciso magoar bastante quem ainda me ama... trocar em seus corações, antecipadamente, a longa dor da machucada saudade pelo breve alívio do rancor... e pela tristeza do vazio a deixar, o conforto bem resolvido e inexplicável da decepção e da mágoa. O longo ranger de dentes, farei trocar pela ira vingativa e doce de alguns dias. Ou ainda o sentimento inevitável de perda pela sensação de livramento. Será minha última declaração ou prova de amor a quem amo e por acaso também me ame: dar-lhes a última e grande chance de substituir o gosto amargo do adeus pelo impulso libertador e fugaz de "já vai tarde".
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