Coleção pessoal de dankawada
Ter sentimentos por alguém é estar à deriva, é como ser dilacerado vivo por animais selvagens e o pior de tudo é quando este sentimento possui o controle absoluto sobre você.
Ultimamente tem sido assim, por cada bar que eu passo, deixo em toda mesa de sinuca um pedaço da minha alma.
Se eu ceder, a tristeza se esvai temporariamente, mas a fraqueza toma posse de mim. Detesto me sentir fraco, detesto ainda mais quando a tristeza se faz presente, por esse motivo... Eu cedo.
Justamente nos dias em que estou mal-humorado, pessoas próximas me abordam com uma alegria inexplicável. É doloroso, pois é como se o destino cooperasse para alguém estragar o dia deles com respostas amargas e sarcásticas. Bom dia, este alguém sou eu!
Nada está perdido ou pode ser perdido. O corpo, indolente, velho, friorento... as cinzas deixadas pelas chamas passadas... arderão de novo.
Que vontade de mascar minha língua como se fosse chiclete e saí sorrindo pelas ruas com um sorriso ensanguentado, um tom tão rosado que pareceria recheio de bubbaloo.
Poesia Vã
Descobri a crise infinita.
Solução na submissão.
Pois na dor infinda, apenas há tragédias que o fim replica.
O que posso representar? Se for feito, está feito.
O que era? É Sério! Não sei dos meus atos, apenas enxergo as feridas nas carcaças das esquinas.
Por que disse isso mesmo? Ah! Foi a reconciliação, que a mim sugeriu sobre outros que me feriu.
Sua súplica é tardia, pois minh’alma está rendida nas teias da melancolia.
Poesia Vã
Sempre em frente.
Relevando.
Que deprimente!
A fórmula da sua mente.
Pelo vento segue voando e com uma taça martirizando.
Clamando por piedade.
O que te destrói é a vaidade.
Quarta-feira II
Minha cara Digníssima,
Tu és sempre implacável com esta fadigada carcaça.
Invade minha mente e impõe lembranças aprisionadas do subconsciente.
Neste mesmo dia há anos atrás, lamentava impiedosamente as oportunidades que outrora estavam sobre minha aurora.
Quão cruel eu posso ser no decorrer das horas que anseio pelo descanso?
Ainda há de vir o entardecer e ainda assim em poucos momentos pós o sol nascer
Tamanha é a estupidez que as ruas vieram trazer de incômodo para este incrédulo ser.
Esse que vos fala se comporta trivialmente em momentos inoportunos.
Somente a quarta poderia causar essa impressão e desviar minha direção:
“Do que realmente importa”.
Quarta-feira
Digníssima QUARTA,
É com anseio que espero não ser anestesiado com sua chegada.
Meu dia de lamentos, meu dia do descontento.
Sua ressaca física e mental pouco a pouco rouba meu valor moral.
O que ontem era letal hoje você torna tudo tão banal.
Você poderia ser como a sexta, sempre um dia de descoberta.
Entretanto tu és a quarta, que não és o fim e muito menos o começo.
Com receio leio uma carta da digníssima quarta que diz:
“Sou para ti um dia escrito com giz, e quando você menos notar tornar-me-ei um dia que sempre almejarás”.
Calado
Paz mental. É tudo que preciso. Somos capazes de encontrá-la em qualquer lugar, mas é preciso ser rápido, pois se disfarça nas sutilezas dos ambientes. Encontrei paz em um andar vazio. Havia uma cadeira que parecia ter sido feita por encomenda. Bebericava um café amargo. O ar condicionado era o único barulho, e era sublime e confortava meu coração. Encontrei paz em um bar restaurante maltrapilho. Havia uma mesa de sinuca que eu acabara de jogar. A cozinha estava fechada com uma placa acima “Visite minha cozinha”. Entornava uma cerveja morna. Uma barata desfilava sobre a placa serenamente e despreocupada com o ambiente, e naquela vez ainda estava relaxado, como se todo o barulho houvesse se tornado sussurros ao vento e eu conseguia filtrar o que gostaria de ouvir e ouvia consolos fraternos à entes queridos. Encontrei paz numa mesa empoeirada de madeira. Um jornal aberto numa notícia de meu agrado. Ingeria uma sopa para aquecer meu peito. Ouvia novidades de um velho amigo, enquanto observava um quadro com velhinhos sobre uma mesa, provavelmente descrevendo suas desventuras. Não deveria registrar nada, deixe que os outros registrem. Com o passar do tempo dizem que tudo vem à tona. O ruim, talvez tenha sido o bem. O desleixo pode ser sinônimo de felicidade. Paz mental. É tudo que preciso.
Cada vez que a abraço mais difícil se torna encontrá-la. Restou apenas acompanhar o passar do ponteiro do meu relógio, e talvez o silêncio reine novamente.
Chuva
Observando a chuva e pensando em você.
Pensando em te procurar, mas sei que se eu fizer isso irei te magoar.
E novamente enquanto você suspirar.
Estarei tão longe a ponto de você me odiar.
Gostaria de não ser assim... Tão rápido cansar-me de ti.
Olhando a chuva e imaginando o que está sentindo.
Lembrando o quanto se animava com o frescor que o vento nos proporcionava.
Um lindo sorriso por cada gota que tocava nossas peles e tudo se purificava.
Quem sabe um dia eu terei coragem de falar que quando a chuva me beliscar é sempre do teu rosto que irei lembrar.
Gostaria de não ser assim... Tão rápido cansar-me de ti.
Inexorável
Há algum tempo não tenho inspiração. Ultimamente o frio tem sido gentil, os ventos uivam sobre mim. O outono e o inverno são meus habitats naturais. Nesta época é quando me sinto mais vivo. O frescor da manhã tem me acariciado, proporcionando novos fluídos em minhas veias. Penso muito no que virá amanhã e não me atento a nada que construiria hoje a realidade dos meus pensamentos futuros. Do que me adianta a diferença do óbvio se me traz à tona o quanto gostaria de ser enraizado da mesmice, a felicidade na ignorância.
Olho pra minha mãe e a invejo. Quanta simplicidade, apesar da vida ter sido dura em sua juventude, vejo em seus olhos uma forma nobre de enxergar a vida. Gostaria de ter herdado seus olhos. No meu coração pulsa a ambição paterna deixada como legado de realizar meus sonhos simplistas que exigem o sacrifício de muitos que amo, por uma questão de moralidade que infesta minha sanidade e cria barreiras impedindo de tomar alguma atitude. Isso eu herdei da minha querida mãe.
Gosto de me agasalhar e ter que cobrir todo o meu corpo quando o sono vem à tona. Sinto palavras emergirem da escuridão violeta no meu quarto, é como se eu ainda enxergasse algo naquele vazio. Minhas pernas tremem ansiando levantarem antes do amanhecer para registrar os absurdos do meu cérebro. Minha paciência está esgotada. Sou o próprio carrasco da alma. Aprisionado em meu próprio circulo.
Sobrevivendo, tentando manter a forma e a respiração no tempo certo. Nunca vi um cego gordo, isso explicaria muita coisa.
Dizem que é o carma. Há muito sobre minhas costas, não acredito em misticismo, mas acho tocante e tenho apreço quando encontro outros que vivem e disseminam suas crenças. Inconscientemente sou responsável pelo veredito de três pobres almas, não basta apenas me infectar, a reação tinha que ser em cadeia?
Qual é a pergunta da sua vida? Mesmo algo simples eu creio que não sou apto pra responder, minhas sílabas são ácidas. Realmente nunca vi um cego gordo, talvez alguém um dia me apresente e isso explicaria muita coisa.
Eu gosto do outono, mas amo o mesmo o inverno, eu me identifico com sua frieza de atingir a todos, mesmo sem ser convidado.
Frequentemente, os melhores momentos na vida são quando a gente não está fazendo nada, só ruminando. Quer dizer, a gente pensa que todo mundo é sem sentido, aí vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência da falta de sentido já é quase um pouco de sentido. Sabe como é? Um otimismo pessimista.
Meus modos, por vezes abomináveis, podem ser meigos. Virei um bêbado enquanto envelhecia. Por quê? Porque gosto do êxtase da mente. Sou um Desgraçado. Mas amo o amor.
Mornidão.
Uma das coisas que me assustam é a mornidão; a palavra em si soa estranhamente nos meus ouvidos.
Começa com uma coisa simples que cresce como um vírus contaminando todos os aspectos de sua vida.
Seu dia caminha bem e quando alguém te pergunta: “Como foi seu dia?” você responde: “normal”.
Seu dia caminha mal e quando alguém diz: “Aconteceu alguma coisa?” Você responde: “Nada, estou bem”!
Aos poucos nos tornamos imparciais em tudo que opinamos, pois não queremos que ninguém nos julgue precipitadamente por nossas crenças.
O muro vira uma constante, tentamos descer para a direita, mas a frieza dos nossos problemas nos impede.
Tentamos a esquerda, entretanto o calor da sociedade, a luta diária da sobrevivência nos repele para a zona de segurança que criamos para continuarmos no jogo sem perdas ou ganhos.
Parece que nada mais é intenso quanto já foi e o óbvio domina sua mente, não nos permitimos a buscar o ápice da nossa capacidade e muito menos afundarmos no mais profundo de nossa decadência.
Em cada olhar vejo uma chama que tem medo de se apagar, vejo também um medo intenso de queimar como uma luz que nunca se apaga.
Todos dizem: “Viva intensamente”, mas não entende o real sentido de tais palavras.
Mornidão é o abismo que te prende no limbo entre a satisfação e a insatisfação.
Não tenha medo do luar, não tenha medo do solar, não tenha medo de esquentar ou esfriar.
Pensar, opinar, lutar, amar, desejar e acreditar acima de tudo sem temer o morrer e o viver pleno.