Coleção pessoal de dani_noguei

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As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade.

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.

Leveza

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata aérea
de sua garaganta,
mais leve.

E o que se lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,
mais leve.

E a fuga invisível
do amargo passante,
mais leve.

Se em um instante se nasce, e se morre em um instante, um instante é bastante para a vida inteira.

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

No mistério do sem-fim
Equilibra-se um planeta
E, no jardim, um canteiro
No canteiro, uma violeta
E, sobre ela, o dia inteiro
A asa de uma borboleta

Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua.

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos.

Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.

O rio não quer chegar a lugar algum, só quer ser mais profundo

Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos.

Viver é um rasgar-se e remendar-se.

Viver de graça é mais barato.

Amor é a gente querendo achar o que é da gente.

... nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

Cada um rema sozinho uma canoa que navega um rio diferente, mesmo parecendo que esta pertinho.

Viver é um descuido prosseguido.