Coleção pessoal de cristiane_neder
É como se as novas tecnologias de comunicação criassem o pecado de ter menos sacrifício quando se trabalha. Como se as novas tecnologias entendessem de alma humana, despertando no homem o
sentimento de que o trabalho, cada vez menos, se identifica com o ofício de
“bater ponto” e, cada vez mais adquire o aspecto dionisíaco dos personagens
de livros, do cinema e da tevê.
Por mais que seja robótico, também não deixa de ser mais humano: as novas tecnologias podem ser utilizadas como robôs, mas é o robô que executa tarefas mais complexas e de maior densidade, para que o ser humano possa se ocupar de trabalhos mais prazerosos e menos
alienantes. Por exemplo: um estudante de mestrado ou doutorado não precisa
ficar cortando partes da dissertação ou tese, usando cola e tesoura, porque o
computador faz correções, traduções etc. Faz, eu diria, o grosso do trabalho,
para que o homem tenha tempo de refinar suas atividades.
O que é importante ressaltar é que todas as evoluções precisam de mão-de-obra qualificada, especializada, não sendo possível que se tenha desenvolvimento tecnológico por livre ação da invenção tecnológica, só através da técnica. Mas, é preciso preparação cultural para atender à demanda mercadológica
Há lugares do Brasil onde não há nem luz elétrica para se ligar o
televisor. Precisamos, portanto, primeiro construir um programa de governo
voltado à educação, no qual a televisão educativa contribua para chegar ao
resultado de um trabalho desenvolvido com sucesso e não o inverso.
Tínhamos que construir nossa própria televisão educativa com a finalidade de primeiro alfabetizar em massa e depois ensinar, desde a tomar banho, escovar os dentes, cortar as unhas, jogar papéis no lixo, depois a reciclar, a comer com garfo e faca, e antes de tudo a comer, em um pais onde há milhares de subnutridos e miseráveis, onde a campanha contra a fome do sociólogo Betinho foi um simples paleativo.
Na cidade de São José da Tapera, em Alagoas, antes das pessoas terem necessidade de aulas de inglês, geografia, português, gramática, matemática e outras disciplinas, ou profissões como artesãos,
músicos, bailarinos, elas precisam aprender a escrever e a ler na sua própria
língua, a serem alfabetizadas, e terem desenvolvimento de raciocínio, crítica e
argumento, de aprenderem normas de limpeza, higiene pessoal e educação
pessoal.
O modelo de TVs educativas norte-americanas e europeias não
serve para nós, pois eles não têm tantos problemas como São José da Tapera
e outras cidades e lugares de extrema pobreza do país.
Hoje, com os computadores, esse mecanismo da ação para a educação é muito mais complexo porque, cada vez mais as novas tecnologias de comunicação nos dão a oportunidade de realizar um trabalho muito mais lúdico do que de mão-de-obra pesada, porque não envolvem somente a capacidade de manusear e operar máquinas, mas requerem habilidade de pensar e agir além da finalidade de serviço da máquina, com um tratamento
mais humano, menos serviçal e mais intelectual.
Para que as pessoas estejam no mercado é preciso investir em educação e não somente criar máquinas para serem operadas pelas mãos humanas.
As novas tecnologias, na maioria das vezes, atendem a números cada vez menores de pessoas e, ao invés de serem coletivas acabam sendo usadas de forma particular, mesmo para fins públicos como saúde, educação e cultura. Isto gera uma ambivalência social, pois a sociedade progride de forma isolada para fins coletivos.
As faixas das classes sociais ficam cada vez mais distantes por conseqüência dos desníveis culturais e econômicos entre elas, e a tecnologia que poderia beneficiar aos pobres com o desenvolvimento de melhores
recursos para o trabalho e estudo, não é suficiente para a melhoria social, porque a função e a finalidade das técnicas é a de manter o poder da classe dominante, porque os pobres usufruem destas técnicas somente como intermediários. São os ricos que tem o poder de compra e capital para investir na descoberta e pesquisa delas
Quando digo cidades grandes, não me refiro apenas ao tamanho delas, eu acho por exemplo Florianópolis uma cidade com uma população média, mas não grande. É uma cidade linda sem dúvida, mas ela não é moderna. Ela é uma cidade em vários aspectos provinciana. Digo cidade grande aquelas que conseguem sugar tendências mundiais e aprimorar estas tendências as adaptando para a sua realidade. Floripa tem alguns movimentos contemporâneos mas não consegue sugar as tendências com rapidez, ela tem um desenvolvimento tardio e lento. além de fabricar alguns paraísos artificiais, aliás todos os paraísos são artificiais. Disney é um paraíso artificial, Epcot Center, Barra no Rio de Janeiro, etc. Cidade grande é aquela que consegue ser grande não apenas pelo tamanho, mas pelos fluxos de renovação periódica do contemporâneo.
As cidades grandes como São Paulo, Nova York e Londres não podem tornar alguém bem sucedido e conhecido, mas com certeza podem proporcionar acesso aos movimentos contemporâneos.
Os países como EUA e demais países
desenvolvidos tem maior facilidade de se ajustarem as novas exigências do mercado internacional e de prepararem pesquisadores e profissionais para o
novo campo de trabalho, porque foram justamente eles que implantaram estas
tecnologias, enquanto os países do terceiro mundo não podem tão cedo participar do conceito de consumidores do futuro, porque o futuro do terceiro mundo é sempre tardio em relação as novas técnicas que trazem maior poder de compra e de aquisição aos detentores das invenções destas técnicas e dos meios delas.
Será quase impossível alguém sobreviver sem se ajustar ao poder de influência que estas novas tecnologias repercutem na vida social das pessoas, principalmente no campo profissional, onde os que não se reciclarem correm o risco de caírem no
ostracismo pela pressão feita pelos conglomerados de empresas e pela livre
concorrências dos novos profissionais e do mercado em si.
Com a descentralização do poder dentro do próprio poder político,sobra só o totalitarismo das imagens, que convencem com maior facilidade do
que o próprio poder relacionado ao governo.
Não há cérebro eletrônico, a não ser no nome
que se dá à forma usada metaforicamente, na linguagem das literaturas atuais, que estudam novas tecnologias e temas relacionados ao assunto.
Votar em um computador não melhorou nossa forma de escolha em relação aos nossos representantes políticos, somente tornou mais veloz a apuração do processo eleitoral.
Excesso de informações não quer dizer que todas as pessoas têm condições
individuais e sociais de adquirir conhecimento com essas informações. E
mais: é uma grande mentira sedentária que informação gera riquezas e que através dessas riquezas as classes sociais subalternas vão se tornar emergentes.
Os meios de comunicação, por tornarem o pensamento do ser humano passivo, estão transformando a democracia, há muito tempo, em mais do que representativa somente, estão tornando-a manipulativa.