Coleção pessoal de crislambrecht

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Sei que essa manhã pacífica de ressaca vai se acabar
Mas eu queria que tudo continuasse assim mesmo
Ressaca em paz, acordei em paz, como ontem

O problema é que não estou sozinho
Não me veio essa paz por si só
Encontrei o alimento envenenado
Alimentei o poeta suicida e exagerado
Suicídio é também um exagero?

Pelo menos sei
Que semana que vem
O desejo de te ver será menor
Que o desses dias atrás

O que eu quero é devorar
Este veneno a prato pleno
Cantar novamente
Devorar-te por completo
Se possível

Queria embalar esta manhã
Com este som
Vinho e cigarros
Para a dança
Da mão
Da tinta
E o papel
Que tudo aceita

Todos sacam suas armas contra mim
Nestes dias inspirados de esperança
Em dias que não quero perder a vida
Enquanto amo tanto a morte
Nestes dias que tanto temo a morte
Fascínio suicida
Fé cega e desconfiada
Incerteza absoluta
Para sempre nunca

Este céu que eu vejo
Neste dia que acordamos
Um dia real
Um mundo surreal

No meio do caminho
Entre a luz e a escuridão
Entre a paz e a pressão
O silencio e a multidão

Arrebol eletrônico
Para meus olhos biológicos
Barulhos mecânicos
Para meus ouvidos atentos

Hoje acordei
Com muita fome
Com muita sede

Hoje vou me alimentar de tudo
Hoje tudo é motivo
Para mais
Do mesmo

Experimentar novamente
Novos sabores de sempre
E o céu ao meu redor
Continua fascinando
Fascinante

E o caminho da paz
Pode estar acabando.

Passo a passo
Com o céu aquecendo-se
Para a noite..
Ventos frios trazem-me lembranças
Nesta cidade
Que nunca vai mudar
Enquanto a mudança
Não me visitar

Nunca cheguei ao topo
Sempre retornei
Ao ver novas montanhas
Onde ventos frios trazem-me lembranças
Desta cidade
Que nunca vai mudar
Enquanto eu não for
A mudança.

Andar de skate por amor
Apenas por diversão
Para se sentir bem
Pura satisfação
Do jeito que quiser
Skate é liberdade
Nas ladeiras e nas pistas
Ou nas ruas da cidade

Sei de tuas fases
Conheço bem as tuas faces.
Alegro-me com encontros inesperados
Teu silencioso caminhar sempre me faz sonhar
Seu vestido acaricia meu trajeto de incertezas

Há tempos que tu não aquecias essas noites
Faz-me lembrar de ti novamente
Tira-me o sono como sempre
Somos eternos amantes
Tens-me nas mãos

Quando quiseres
Terá de mim o amor;
Um sentimento verdadeiro.
Sua inigualável companhia conforta
Toda escuridão se torna um belo jardim

Minha alma já pertence às tuas posses
Seu encanto sempre será inspiração
Quando vens grandiosa surpreende.
Leva-me de volta à estrada;
Quero contigo andar.

Pelos Canos


“Você é um homem ou um rato?”

Certa vez estava eu a rastejar pelos canos onde vivo, e uma indagação veio se repetindo de um lugar distante:
- Você é um homem ou um rato?
Junto com a voz corria um roedor de lixo, em minha direção, e sem um motivo aparente, eu me assustei com a presença do bicho, que passou por baixo de mim e seguiu junto com o eco..co.

Geralmente esses animais que vivem aonde eu vim viver não estranham a minha presença, presença estranha eu sempre fui, onde sempre estive, pra quem quer que fosse, mas, e aqui?
O tempo que eu passei nos esgotos já foi suficiente pra me acostumar com muita coisa nova. Coisas de sempre...

As paredes cilíndricas e ásperas desses pequenos canos de concreto me fazem feridas que nunca cicatrizam; minhas mãos e meus joelhos, meus ombros e meus calcanhares, minha cabeça e meus pés, meus cotovelos e minhas costas...
De tanto me rastejar por aí já nem sinto dor; sinto fome, sinto cede, e sinto vontade de me rastejar.

Os ratos não se importam com quem você é, eles estão por aqui e quando precisam se tocam, me tocam... geralmente no momento de dividir o alimento, ou na hora de tentar de mim se alimentar. Ficar atento tanto quanto possível, se não eles me arrancam os olhos!

Eu moro aqui faz pouco tempo, não sei quanto, pois o tempo no esgoto não é como o resto dos tempos.
Aprendi a sobreviver como os roedores de lixo, aprendi a roer lixo com os roedores de lixo. Como o tempo de quem fica atento o tempo todo parece passar mais rápido, eu passei a acreditar que estou há muito tempo vivendo aqui.
Vivendo entre ratos há tanto tempo, não me passava pela cabeça julgar quem sou eu.
Pois sempre fui ninguém.
Nunca fui alguém.

Lá de fora veio uma dúvida, direto pra dentro de mim, para agora saltar pra fora uma resposta.
Tenho medo da superfície, desde que vim morar no esgoto eu nunca mais fui discriminado; Sem juiz, não há julgamento, sem ter quem julgar, não há juiz nem julgamento, e se há juiz haverá julgamento.

Julgando que nunca fui alguém, que vivo como um rói-lixo, que somos o que consumimos:
Não sou homem
Não sou rato
Sou lixo.

Mas também
Não sou juiz

Devo ser o que sou;
Sou eu!

Hoje eu estava sentado enfrente à minha gruta
Olhei para tudo o que possuo
Minha felicidade foi indescritível.

Enquanto olhava envolta e sentia-me satisfeito
Veio a mim um sentimento melancólico
Aquilo tudo não tinha mais sentido algum.

Meu antigo sistema deixou um fantasma romântico
Este não se contenta com a solidão
Este sente a necessidade de compartilhar sua alegria.

Fui tomado pela insanidade
Lutei para fugir enquanto lutava para ficar
E enquanto corria em desespero meus fantasmas me assombravam.

Meus pés eram mais rápidos que meu coração
E quando não pude mais respirar... Simplesmente caí...
E as sombras pularam sobre mim.

Deitado sobre as folhas eu fui atormentado
Os piores fantasmas, os piores pesadelos
Meus olhos pesavam mais que meu corpo.

Ao despertar me vi rodeado de sombras
Espreitavam-me de longe, numa distancia próxima
Todos estavam prontos, como uma serpente.

Poderia fugir
Poderia render-me
Pude encarar.

Levantei-me e respirei fundo
E antes que pudessem saltar sobre mim novamente
Pulei sobre eles, agarrei um por um e os amarrei pelos braços.

Levei-os à minha gruta
Fizemos uma fogueira
E queimamos nossos males.

A vida tem seus momentos felizes para serem compartilhados
O mundo tem pessoas agradáveis para dividir experiências.

A loucura de desafiar a insanidade na mais completa solidão
É uma dança muito saborosa e arriscada.

A compaixão e o amor são itens difíceis para se abandonar

Um ser insensível se torna invisível

Soldado Solitário
Sólida solidão

A verdadeira felicidade deveria ser compartilhada?

Ela que volta
Depois de uma volta
Passou como um vulto
Como uma virtude
Vertendo das vértebras
Quebradas na véspera
Esperando que venha
A cura voraz
Que devore a dor
E adormeça em paz
Demente ela faz
Manobras radicais.

Noite passada
Estava eu a caminhar
Por uma rua britânica
Fria, escura, molhada.

Passou por mim um quase-cabeludo
Era Lennon com seus óculos-escuros-redondos
Sua gaita em seu suporte
Em seu pescoço.

Não sei ao certo sobre nada
Talvez não fosse apenas ele
Eu estava sonolento
De olhos fechados.

Distante-adiante era Dylan
Logo à frente John
Por um instante
Ao lado
H. G.
...

Ah! Se a arte tivesse o poder que ela tem!

Ela vem
Silenciosa, vem
Como a chuva
Incerta

Silenciosa vem
Aos poucos
E aos poucos toma conta
Domina

Ela vem
Quando você vai
Ou não
Sempre que você puxar

Veja! Eis aqui!

Ela vai
Escandalosa, se vai
Ou não
Como a chuva.

Um grande muro cercava a cidade
Vivo e alegre muro verde
Entre seus sons
Ante sua beleza
Sob sua sombra
Cresci

Vivia em paz
Protegido eu me aventurava em seus caminhos
Mas como toda cidade
Nesta habitavam seus vermes
E logo vi uma negra nuvem
Anunciando a destruição
Estalos como aplausos de uma grande plateia
Trazidos pelo vento forte
E o calor
E o fogo

Fez-se noite
E ao lado da minha casa
Queimava tristemente o muro
Este que parecia tão poderoso
Não pôde conter as chamas
Não pôde proteger filhos nem pais
Via os pequenos pássaros mergulhando no mar de fogo
Beija-flores com seus bicos cheios d’água
Mas nada pôde parar
O fogo ergueu-se aos céus
E tudo queimava
Num horrendo espetáculo

O grande muro não foi ao chão
Reergueu-se
Reverdejou-se
Não desistiu
Serviu novamente de abrigo
As cinzas logo se enterraram
Algumas cicatrizes permaneceram
Mas ele estava ali
As lágrimas pertenceram à um grande susto...

O tempo foi passando
A cidade o muro não pode conter
Esta criatura infestada
Pôs no vivo muro
Ferozes feras de metal
Seu ronco anunciou:
“É chegada a hora do massacre”

Vi de perto
O muro descendo aos poucos
Aos prantos gritava
Ninguém podia ajuda-lo
Corações de metal
Movidos a sangue negro
Sem qualquer sentimento
Mortos
Matando

O muro que me protegeu
Finalmente cedeu
E o que me sucedeu
Foram fortes sentimentos
Uma grande lição
Infelizmente foi triste
Como sempre
E agora vão devorar o meu lar
E continuam a querer me devorar
Mas jamais serei digerido por tais vermes
Queimarei quantas vezes precisar

Sou feito do muro
Cresci em suas entranhas
Sou feito dos seus sonhos
Talvez eu seja seu único herdeiro
Eu o amo
Ele é eterno
Viverão em mim
Para sempre
As lembranças dos seus caminhos
Tua sombra protetora
Teu cheiro
Teu grande poder
Sou a tribo de um só índio

Agora vou causar-me o mal
Vou me casar
Com o mal
O meu mal
E quando acordar
Minha cabeça estará doendo
E girando
Com toda a pressão
Todo o sangue
Meu cérebro de artérias
Minha doce cama vazia
E eu aqui nesse banheiro
Imundo mundo.
Eu só desejo alteração
A minha
Já não sei direito o que é
Estou um pouco irritado
Mas me divirto
Às vezes
A autodestruição
Parece uma boa saída
Para entrar de cabeça num caos
Um furacão desgovernado
Pois no fundo é o que sempre quis
Ser manipulado
Ter um inimigo
Mas não encontrei ninguém
Ninguém à minha altura
Por mais que eu esteja baixo

Meus ídolos morreram
E estão morrendo
E tudo que eles fizeram
Por mim
Quero fazer
Para você
Tocá-lo
Molestá-lo
Vamos sair
Vamos nos divertir
Ninguém me entende
É isso que eu quero agora
Me entendam depois
Quando eu já não for isso
Quando quem eu for não for quem sou
Quando eu for o que quero ser
(Quando serei aquilo que queria ser?)
Querendo querer alguma coisa...
Quem fui
Quem sou
Quem não serei
Quem sabe; nem sei de nada
E por mais que um falso sorriso seja necessário
Não vou chorar
Eu só quero ir embora
Eu só quero passar da medida
Atravessar o sinal
E cair novamente
No chão do banheiro.

Estou aqui enfrente à minha gruta
Fecho os olhos e vejo tudo que possuo;
Um belo riacho a poucos passos
O vento que penetra entre as montanhas
Uma quantidade incontável de pássaros nas árvores...
Incontáveis.

Tenho tudo que preciso para viver
Alimento para o corpo e para a mente
Abandonei completamente meu antigo sistema
Já era tempo
Deus está em sua devida árvore
Eu segui adiante
Agora estou aqui
Enfrente à minha gruta.

Não sou muito de vinho tinto, mas esta é minha companhia esta noite, já que não tenho o hábito consumista de comprar bebidas.
Na real, queria um vinho branco, mas esta é minha companhia, 500 ml de vinho tinto...
Daqui a pouco ela vai caminhar
com seus passos rápidos e lentos
rápidos ou lentos

Uma janela vai se abrir, para o mundo lá de fora, este que aí está.
Poderia simplesmente abrir a porta e sair por onde entrei
mas prefiro ficar espiando desta janela, fico trancado no meu sótão.

Eu que tanto escrevia, estou há alguns dias sem fazê-lo
Sem a planta, a casa não se levanta
sem inspiração
será?

Mamãe beberrica seu vinho de vez em quando
bem pouquinho, pra não ficar com as pernas bambas.
Hoje tal vinho é minha companhia
talvez eu abuse de sua presença
talvez minha mãe tenha que comprar outro vinho
(já aproveito pra pedir um branco pra mim)

Depois, dias, rápido, lento, daqui a pouco...

O tempo soa tão estranho ultimamente
minha ilusão se desfez
minha crença foi por água abaixo
não pertenço ao tempo como ele é
vago por sua medida de um lado para outro
já não sei quando foi e quando será

Amanhã é tão distante
Amanhã é tão daqui a pouco...

Ei, você está aí?

Sempre estive

Podemos conversar?

Claro

Eu seria um chato se viesse lhe pedir algo?

Já pediste...

Desculpa, sabe como tenho andado ultimamente, né?

Sei, e sei que sempre está como quer estar.

Verdade...

...

Quer sair comigo? O céu deve estar estrelado...

Já havia lhe chamado agora a pouco, mas ignoraste-me.

Desculpe-me

Mas vamos lá, podemos ouvir um pouco de música também

Verdade, então, vamos?

Vamos

...

Ao bom caçador convém boa caça!

Como uma coruja a caçar
Os meus pensamentos vagueiam antes do alvorecer
Guardo as primeiras letras de cima para baixo
Um pedaço de pão se recheia
Mastigo, engulo e pronto; eis o passaporte
Encontro lá as mais diversas criaturas
Logo sei o que minhas garras levarão
Os frutos semeados me alimentam
Semeadas também estão estas eternas lembranças.