Coleção pessoal de cordel_na_rede

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O cosmos é uma orquestra
Regida por braço destro,
Os planetas e as estrelas
Aos quais dirijo meu estro
São sinfonias compostas
Pelo Divino Maestro.

O sabiá do sertão
faz coisa que me comove:
passa três meses cantando
e sem cantar passa nove,
como que se preparando,
pra só cantar quando chove!

Admiro o pica-pau
Numa madeira de angico
Que passa o dia todim
Taco-taco, tico-tico
Não sente dor de cabeça
Nem quebra a ponta do bico.

Que a fome não seja somente de pão,
que a sede não seja só de Coca-Cola:
a fome de livros, a sede de escola
contêm a semente da revolução.
Com Braulio Tavares, amigo e irmão,
esgrimo palavras no meu poetar,
que têm dois poderes: ferir e curar
e na noite escura são nossos faróis;
parecem centelhas, mas são arrebóis,
nos dez de galope na beira do mar.

Quero ver num espelho cristalino
o cordel virtual de Alceu Valença;
Elomar dedilhar sua incelença
pr’um amor que buscou novo destino;
Trupizupe ir ao céu compor um hino,
enjoado que estava deste plano,
com feições de poeta soberano
que cantou um baião no Paraíso.
Deus, que gosta demais de um improviso,
Pede um outro martelo alagoano.

Quando vou a um baião
e escuto dois cantadores
em gemedeiras, louvores,
falando sobre o sertão
de Mãe Preta e Pai João,
na minha mente solfejo
as notas que só eu vejo
na minha longa jornada
e a saudade faz morada
no peito do sertanejo.

VOU-ME EMBORA PARA LONGE

Vou-me embora para longe,
Talvez Bom Jesus da Lapa,
Ou, então, algum lugar
Que nem existe no mapa.

Vou-me embora para longe,
Talvez a Ponta da Serra,
Ou, então, algum lugar
Além do planeta Terra.

Vou-me embora para longe,
De meu só levo o chapéu.
Meu destino é o lugar
Onde a terra beija o céu.

Vou-me embora para longe,
Mas não é tão longe assim.
Vou adentrar as fronteiras
Que me separam de mim.

Vou-me embora, vou-me embora
Com meu cajado de monge.
Se alguém perguntar por mim,
Fui-me embora para longe.

Darcy Ribeiro fugiu
Do hospital pra se tratar
E eu deixei de ler jornais
Para melhor me informar.

— Prazer! O meu nome é Vida!
— Vida! O meu nome é Prazer!
— Sem ti eu vivo perdida.
— E eu sem ti não sei viver.

Quem não se arrisca não corre
Os riscos de quem se arrisca;
Pensa ser o sol e morre
Sendo somente faísca.

Quem desistiu de buscar
Fecha os olhos à beleza
Que só se pode encontrar
No reino da natureza.

A escolha que molda os passos
Dita o nosso movimento,
Nos leva a outros espaços
Fugindo ao fugaz momento

Mesmo quando a lei dos homens
Perde o rumo, perde o tino,
Há leis que foram criadas
Por um decreto divino
E crimes que são julgados
No Tribunal do Destino.

Cordel é o canto de cantos diversos,
A voz do poeta, que emana passados,
Presentes, porvires vividos, sonhados,
Pecados, rubores perdidos, dispersos,
O grito fecundo de mil universos,
A gesta bendita que é luz e sacrário,
Lembrança, desejo de ser relicário,
Mergulho profundo no inconsciente,
Cavalo do tempo correndo silente
Nos campos sem cerca do imaginário.

O saber é porta aberta
Ante a cerca social;
Sociedade moderna
Só vê referencial
Em quem tem conhecimento
E notório suplemento,
Na parte intelectual.

Alguém que ainda não faz
Das letras combinação,
Aplicando dia a dia
Sua comunicação;
Não vê o mundo real,
Tem seu olhar desigual
Por falta de interação.

O letramento é o sal
Da mente desenvolvida,
Rompendo nó e os estorvos
Acumulados na vida;
Faz um novo alvorecer,
Para quem desejar ter
Essa cegueira abolida.

Os olhos quando se amam,
Atraem como os brilhantes,
A lembrança traz saudade
Desses mimosos instantes,
Que o amor dormiu no leito
Dos corações dos amantes.

A Senhora dos Túmulos observa
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva.
Porém, nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infinito movimento,
É a Morte um novo nascimento;
A inveja é o túmulo dos vivos –
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.

Minha alma triste suspira
em deslumbrante desejo,
ausente da minha terra,
há tempos que não a vejo.
são suspiros arrancados
do peito de um sertanejo.