Coleção pessoal de ClayWerley

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Onicofagia

Nos limites mais extremos da tensão,
a assumir caráter destrutivo...
Tendo como berço cativo,
o tédio, a ansiedade e a depressão...

Válvula de escape em momentos de pressão,
tendo como princípio ativo,
um forte instinto auto-depressivo,
que nessas horas sobressai-se a razão...

A angustiante espera por definição,
acaba sendo o principal motivo,
até que enfim apareça uma solução...

Que venha modificar o ambiente apreensivo,
e então, os dedos doloridos de minha mão,
serão a prova, de que ainda estarei vivo.

Guardião

Nobre emissário de Deus, porque choras?

Temporariamente distante da morada eterna,
sabes que tens uma importante missão a cumprir...
Triste e solitário, ele olha o horizonte,
permanece parado, inócuo, circunspecto...
Em seu rosto a expressão pensativa
não esconde as lágrimas,
tristes lágrimas de pesar...

Mas porque choras?

Momentaneamente a alvura de suas impecáveis vestes,
perdera o brilho, e a resplandescência de sua aura
perdera o encanto, a simetria de seus traços, a beleza;
o esplendor de sua presença, a magia;
porém a pureza de seus gestos permanecera...
Do choro, lagrimas sinceras de consternação...

Mas, porque?

Subitamente sua imagem passou a ser ofuscante,
estava agora, ali; um ser lucido e sereno,
e sem fugir das responsabilidades, bateu asas;
flutuou suavemente e sumiu ao longe...
E só então pude entender...
Nem mesmo os anjos permanecem alheios
as atrocidades humanas,
este precisou ter seu momento...

Reestruturar as bases fortes de sua interna fortaleza.

Cantilena

Minha vida é mesmo tediosa,
é uma sucessão de mal-entendidos,
tantos amores não correspondidos,
é uma experiência dolorosa...

Realidade pouco gloriosa,
de vários fracassos assumidos,
infinitos sonhos mal-sucedidos,
triste vida, injusta e morosa...

Tal qual um filme de roteiro chato,
em que pouca coisa acontece,
me conduzindo ao tédio de fato...

E por isso meu coração perece,
tornando-me mais um poeta barato,
enquanto Deus de mim, se esquece.

Considerações póstumas a uma paixão

Quando eu romper o fio que me prende a terena existência,
e minha alma liberta naturalmente encontrar seu caminho,
não quero que lágrimas demonstrem que me tens carinho,
não me honras o troféu de sua tristeza em minha reverência...

E quando a lousa fria vier a refletir a prateada reluzência,
não percas seu sono, ainda conservo por ti o mesmo aninho,
não me agraria teu sofrer, nem me orgulharia o teu definho,
se dedique-lhe amor não foi pra que fizeste dele penitência...

Se o destino ingrato não nos deu sequer direito a despedida,
ao menos sei que terás boas lembranças de nossa trajetória;
sei também que sentirás pelo que não fez por mim em vida...

Mas aos poucos merecidamente, seguirás com tua história;
e minha ausência sem que percebas não mais será sentida...
Pois o tempo... É o funeral para sempre da memória.

Normose

Uma triste epidemia assola a humanidade,
sintomas claros, quase sempre ignorados,
produzindo indivíduos massificados,
destruindo toda e qualquer individualidade...

Um distúrbio coletivo de personalidade,
criando humanos cada vez mais alienados,
com estilos e pensamentos padronizados,
Impostos por nossa hipócrita sociedade...

Condenando-os a este mar de mediocridade,
onde impera uma absurda falta de criatividade,
aliada a medo, conformismo e incapacidade...

Eu... Tento preservar a minha integridade,
permanecendo fiel a minha própria identidade,
mas isso soa para a maioria como insanidade.

Soneto de realidade

Outra vez uma história mal contada...
E acada frágil argumentolançado,
quebro, como umvaso despedaçado,
retrato da minha alma machucada...

A decepção bruscamente instaurada...
O afeto assim se fez, menosprezado,
a confiança, este bem tão estimado,
destruída, implodida; reduzida a nada...

Humilhado, sem ter tidoo ônus de errar,
iludido, perdido no limbo desse ínterim,
até sentir o açoite da traição aestalar...

Respiro consternado, perante o fim,
quizera eu, apenas a utopia de amar,
sem que fosse usado isso, contra mim.

Soneto de metamorfose

Vida de lagarta.... Total limitação...
A sina de uma existência asquerosa,
de uma condição naturalmente desairosa,
melancólica, frágil e sem opção...

Destino de incomoda sujeição,
uma vida sofrida, triste e morosa,
de uma falta de perspectivas pavorosa,
onde há apenas a morte como solução...

Quando minha alma, este fulgor tépido;
de meu velho corpo irá se separar;
meu caixão, morada do cadáver fétido;

será o casulo que irei abandonar;
e estarei livre, me sentirei lépido;
borboleta pronta para voar.

Dramática limitação

Minha poesia é dramática,
acatafasia de temáticas vividas,
ama sucessão de ideias repetidas,
limitadas pela gramática...

Sentimentos em forma enfática,
exprimidos em frases batidas,
é osistema com suas medidas,
tornando minha poesia apática...

Assolado pela falta de instrução,
à insipiência, condenado estou,
ainda assim, sigo na contramão...

Incomodando,por todo lugar onde vou,
indesejável anticlimax de talobjetivação,
umgoleiro, a voar na bola e evitar o gol.

Soneto de autopostumação

Sensações póstumas devem ser reconfortantes,
pelo alívio do sofrimento de uma vida inteira,
tornando todo o peso do dia a dia uma besteira,
uma vez do outro lado nada mais será como antes...

Preocupações de outrora em vida serão irrelevantes,
parte de uma extinta realidade passageira,
meu espírito, móvel velho em que se tirou poeira;
renovado, fará de angústias e mágoas coisas distantes...

Não há medo, confio no que mereço, por tudo que fiz;
a morte é um processo natural, calmo e bem-vindo,
finalmente terei a chance de ser bem mais feliz...

Ao partir sei que a caminho do maior estarei indo,
será bom, jamais vi uma caveira com semblante infeliz,
todas espontaneamente estão sempre sorrindo.