Coleção pessoal de ClayWerley

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Soneto de separação

Determinada, ela decidiu ir embora.
Friamente, se justificou e sai.
Nesse momento, meu mundo caiu...
Não sei o que fazer agora.

Apenas assisti ela ir embora...
Subitamente nosso castelo ruiu...
Ela... Simplesmente partiu...
Nunca imaginei chegar essa hora.

Decretou com pensamento obtuso,
o passado como nossa situação.
Me atingindo em um átimo difuso...

Sem defesas... Abrupta inflexão...
Pondo o mundo inteiro em parafusos,
e o fracasso como minha condição.

Soneto quase otimista

Acho que euestou saturado,
não quero mais que amor,
rime somente com ador,
como tantofiz no passado...

Quero estar a teu lado,
rimar amor com calor,
descobrir o real valor,
de estar apaixonado...

Bom demais para ser verdade,
tudo como eu sempre quis,
sem dor ou mesmo saudade

eu até poderia ser feliz...
Eis a grande novidade!
Do poema que hoje fiz.

Obituário

A vida é... Um crescente obituário.
Morrem as pessoas, as lembranças,
morrem sonhos e esperanças,
ostentatadas como um relicário...

Um luto recorrente e diário,
apureza, ainocência das crianças;
nos sobram apenasdesconfianças,
nesse cruel universo sectário...

Morremos de forma intermitente,
aos poucos em cada despedida...
Morremos de maneira inconsciente

em cada decisão tomada na vida...
Deflagrando essa certeza iminente...
De que vida é... Uma batalha perdida.

Soneto da paixão recente

É felicidade plena,
senti logo de início,
por ti, todo sacrifício,
se torna coisa pequena...

Você faz valer a pena,
tudo... Qualquer artifício,
mesmo sendo malefício,
ou qualquer insensatez terrena.

Por ti faço o que for...
Afim de que resolva,
abrigar-me em teu calor.

Vem... Me leve, me envolva...
Inebria-me com teu amor,
e nunca mais me devolva!

Cefaléia

Meu nível de serotonina caiu derepente,
a cabeça parece estar prestes a explodir,
lateja incomodamente, não há como fugir,
o mal estar chegou de forma contundente.

Não há poesia aos olhos de um doente,
aesperança volatilizou, até se esvair,
apenas dor, define a realidade de existir...
Eu agora, um agonizante sobrevivente.

Triste realidade, apenas dor e desilusão...
Que falta faz o carinho do amor perdido,
irremediavel mesmo é curar um coração.

So me resta então, recorer aum comprimido.
Ser determinado, forte;e esquecer a solidão,
calvario inalienável de um coração partido.

Eternizado em arte morta

Dizem que eucultivo uma arte morta,
algo aqual não se enxerga utilidade,
algoque sequer pertence a realidade.
Enquanto a depressão me bate a porta.

Mas o que outros dizem, não importa;
O que vale mais é minha necessidade,
essemeu eterno culto a dignidade,
essemeu desabafo, nessa vida torta.

Não tenho pretensão de ser intelectual,
apenas preencho o vazio da madrugada,
escrevo para mim mesmo, ao natural...

Versejo e rimo, sobre o tudo e o nada,
E assim aextrapolar esse mundo mortal,
minha existênciajamais será apagada.

A deusa da perdição

Teu charme é algo indescritível,
é devastador, pura dinamite.
Faz jogo... Sua beleza lhe permite;
demonstrando um cinismo terrível.

Ela se diverte por ser irresistível,
sou mais uma presa fácil... Acredite!
Personificação de afrodite,
cai em sua armadilha invisível...

Frente a ti, eu só penso em sexo...
A ponto de me tornar outro se te vejo,
fato natural, nada há de complexo.

É a força ódica do desejo,
me perco em atitudes sem nexo,
e tudo começou em um simples beijo.

Escravo do sistema

Segunda-feira, obrigação de ter que ir trabalhar.
O sono ainda reside em meu corpo, me sinto cansado,
o relógio já despertou, e me vejo novamente atrasado,
ainda há estrelas no céu, mas tenho que levantar...

Tomar banho, escovar dentes, enfim me arrumar...
Acelerando meu próprio ritmo ainda que contrariado,
rumo ao ponto de ônibus rezando que não venha lotado,
esquecendo o café da manhã; sem tempo para tomar.

Mero detalhe diante de tantas outras adversidades,
que durante a semana inteira irão me aborrecer...
No fim de semana o cansaço esgotará as possibilidades.

Trabalhar, trabalhar; trabalhar... E não viver.
Escravo do sistema, encurralado por minhas próprias necessidades,
não tenho direito a nada que me dê prazer.

Uma tradicional valsa

Sua ausência, terrível hecatombe a asolar meu coração.
Me devastando, atentando contra minha autoestima,
dilacerando-me e fazendo-me crer que esta é minha sina...
Não me amas e vivo a insistir não aceitar tal condição...

Buscando motivos e sinais que justifiquem essa ilusão...
Sonhando, fazendo de minha dor uma digna obra prima,
sofro em silêncio, sofro em vão... Isso nunca termina.

Ouvi dizer que o amor sobressai na adversidade,
e apenas a dificuldade alicerça o que se intenta conquistar...
Mesmo cético, me vejo tentando crer nessa verdade...

Mergulhando de cabeça, ignorando que não sei nadar...
Me mantendo perto, ombro amigo; esquecendo a vaidade.
Em um sofrer entorpecido como uma valsa a se arrastar.

Origami

Para você um dia dobrei,
o mais belo origami...
Mesmo que tu não me ame,
De ti, para sempre eu lembrarei...

Destino não quis? Não sei...
Por mais que eu reclame,
e em meus poemas declame,
de certo, nunca saberei...

Sutil arte em definição,
meu amor por ti assina,
singela obra de paixão...

Geometria divina!
Resta lembrar que perfeição,
para mim és tu, menina.

Vida, abstrata vida...

Eu vejo o tempo passar...
Quem poderá entendê-la?
Vivo sem compreendê-la,
penso a olhar para o mar.

Até onde irei chegar?
Não sei como resolvê-la...
Um dia desses irei perdê-la,
não tenho como evitar.

Não sei para onde vou,
como encontrar saída?
Mal informado estou...

És viagem só de ida?
A chama já se apagou.
Oh vida! Abstrata vida.

Sub-humano

Sem opção durmo na rua...
Tratam-me como bicho,
sei que causo buxicho,
ao menos tenho a lua...

Meu tormento continua,
Vivo em meio ao lixo,
tal condição é resquício,
do governo que não atua...

Quase sempre embriagado,
faço do copo uma taça,
não me faço de rogado...

Brindo a dose de cachaça,
líquido abençoado,
que a tristeza rechaça!

O Império dos fatos

Capitalismo é dependência química...
Socialismo é síndrome de abstinência...
Não sei mais o que fazer,
a que recorrer,
para libertar minha consciência...
Busque status,
entregue-se a paranoia...
Escolha seu sistema de morte,
tenha calma,
paz de espírito,
e também um pouco de sorte...
É você que escolhe,
seu próprio sofrimento...
É você que determina,
a intensidade de seu tormento.

Soneto de amor não correspondido

Amo e não sou correspondido,
sei o quanto isto é patético,
por mais que soe poético,
estar assim tão deprimido...

Me sinto incompreendido,
tal amor nem chega a ser hipotético,
a dor é o que me faz cético,
a pensar no que poderia ter sido...

Não quero viver sonhando acordado,
mas fico a mercê de meu coração,
a caminho do fogo sabendo que serei queimado

cego, louco, entorpecido de paixão...
Triste sina, amar sem ser amado...
Sofrer, sofrer; sofrer... Em vão.

Auto-prazer

O ser humano faz da busca por prazer obsessão,
contraria a si próprio, suporta dor e até humilhação,
sofre, se reprime, se acovarda por medo da rejeição,
negaceando instintos básicos dessa humana condição...

Machos e fêmeas tem o sexo como inerente destinação,
onipresente inconscientemente como segunda intenção,
sutilmente camuflado em meio a cinismo e dissimulação,
e quando naufraga no eterno jogo da sedução...

O instinto reprimido sobressai entrando em ebulição,
e o desejo intransigente tem como única solução,
aliar-se ao poder realizador de nossa imaginação...

Um pseudo prazer em que o orgasmo põe fim a ilusão,
nos atirando de volta abruptamente em uma explosão,
a estatelar-se pateticamente na realidade da frustração.

Soneto de contradição

Meus sonetos não seguem métrica
Nem tem métodossofisticados
Não tem vocábulos rebuscados
Nem abusam de dialética

Rimas de pobre fonética
Períodos longos e arrastados
Ritmo lento e cadenciado
Muita verve, pouca técnica

Porém carregam em si verdades
Das quais nunca se pode abrir mão
Idéias postas sem vaidades

Priorizadas em sua construção
Desrespeitando formalidades
Em nome do que vem do coração.

Soneto de indignação

A aparente ossada do animal morto intimida,
mosaicos na pele, nos pés, no chão, seco e rachado,
a aridez pastel contrasta com a beleza do céu azulado,
a inabalável fé vencendo um ambiente hostil a vida...

A pseudo falta de solução, ativo de útil contrapartida,
para heróis que logo somem após terem se elevado,
se apropriando da esperança de um povo subjugado,
Indecente placebo que ilude mas não cura a ferida...

Mas a maior virtude é persistir um tanto a mais,
quando tudo de fato já parece totalmente perdido,
onde o ato de sobreviver se torna um fato contumaz

Inerente a força de quem acostumou-se a ser esquecido,
vivendo um dia por vez à sombra da ganância voraz,
onde para o povo pobre o pior foi ter nascido.

Argucia

Sou um animal frágil e pouco competitivo,
sou um cidadão pobre e sem influência;
sou mais um ignorante subnutrido,
e não bastasse minha própria miséria,
ainda sou um perdedor por excelência...

Mas de minha realidade sou consciente,
clássico exemplo de humano angustiado,
as vezes agindo de forma incoerente...
Por vezes deprimido, por vezes irado;
no fundo, no fundo... Um pobre coitado.

Defeitos me conduzem a beira da imperfeição,
sou falho; e por isso mesmo sou humano...
Pois onde somente o mais forte sobrevive,
onde não há espaço para compaixão e delicadeza;
ser humano é subverter as próprias leis da natureza.

Me condenaste ao limbo

Eu sou a página virada,
o sonho que não vingou,
a felicidade que acabou,
o tudo que tornou-se nada...

Sou a ironia velada
do momento que passou,
e da lembrança que restou,
sou a saudade jamais exaltada...

Triste dor... A sua indiferença,
me conduziu ao buraco em que estou.
Se de sua vida você me exclui

a inexistência do que outrora fui,
faz de mim o que agora eu sou...
Ausência, ausência; ausência.

O abstrato mito do silêncio absoluto

Um dia resolvi contemplar o silêncio absoluto,
queria saber o que estaria além de tudo o que escuto,
determinado contra os barulhos do mundo me isolei,
em um ambiente de total isolamento acústico tentei...

Surpreendentemente meu objetivo não pude alcançar,
impedido por sons sincronizados de meu respirar;
tomei fôlego, prendi a respiração, tentei novamente;
e percebi o quanto a tentativa se mostrava incoerente...

Talvez tal silêncio seja incompatível com a vida;
já que esta é movimento, respiração, pulsação;
estagnação vital é algo insustentável e sem medida...

Talvez a morte seja este silêncio em real definição...
Pois em vida não passa de sentença desmentida,
refutada por compassadas batidas; do meu coração.