Coleção pessoal de clarissalamega

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"Mas meu trem tem pressa, passa de estação em estação e não se cansa de correr. Quando ameaça marcar fundo demais, causar qualquer indício de futura dor ou intensidade na minha vida, apelo logo para a saída de emergência, get out, sem dar trela nem chance de algo bonito vir a acontecer."

"Quero te expelir de mim. Quero te jogar no mundo, te vomitar todo sem ficar com nenhuma parte sua aqui dentro. Quero que você vá embora agora, quero que você saia por essa porta. Porque agora eu já me abasteci dos teus charmes e erros e do cheiro de shampoo no seu cabelo, e já passei a mão na sua nuca, já beijei com verocidade sua boca repleta de mentiras e desapegos, já te engoli inteiro dentro de mim. Te cheirei profundamente como se conseguisse me drogar do seu perfume, te mordi em pedacinhos e te arranquei sorrisos que derretiam meus ouvidos. Te peguei, te possuí, me abasteci, me preenchi por todos os cantos de você e te enchi dos meus mais suculentos ardores. Me droguei de você.
Mas vá embora agora, porque te sinto pulsando em todas as partes do meu corpo e acho que estou ficando maluca. Seu efeito em mim é muito mais do que alucinógeno e realmente me faz passar mal. Me deixa com o gosto dos seus beijos mal resolvidos querendo se apagar dos meus lábios, confunde meus sentidos e me deixa tonta, me faz querer te jogar pra fora de mim. Minha abstinência já passou, pode ir embora agora. Mas peço ferozmente, como quem gosta de brincar com fogo, outra dose de você mais tarde."

"Como explicar a atração gravitacional que a sua presença exerce sobre o meu corpo, garoto? Diz a lei que apenas os planetas possuem um poder tão grande, mas eu duvido. Quando você chega perto de mim é quase impossível segurar minhas pernas no lugar, que tremem ansiosamente para caminhar na sua direção. Mas não é só a física que não funciona bem por aqui. A matemática falha e erra tantas vezes, porque se somarmos um mais um (eu mais você) o resultado sempre acaba em um. Então eu apago, tento novamente, e a resposta se repete e me confunde ainda mais. Nossa soma, mesmo tão imperfeita nas regras do mundo, nas minhas contas resulta em certeza absoluta. Amor absoluto.
E o tempo, então? Ahh, o tempo. Quem foi que disse para o Cazuza que o tempo não pára? Eu sinto parar, e eu sei que pára. O tempo pára quando eu sinto o seu cheiro em qualquer canto na rua, quando você me aperta forte nos seus braços. Tudo pára quando você me diz com o olhar tão sereno o quanto me ama, e que não consegue ficar longe de mim. Os segundos são paralisados quando meu celular toca e eu penso que é você, ou quando escuto sua voz baixinha no pé do meu ouvido. O tempo pára toda vez que você pega minha mão, quando te sinto perto mesmo estando longe. O mundo todo pára quando você me envolve e respira forte na minha nuca, e quando você me aconchega no seu ombro. Os segundos voam no meio das nossas risadas, e seguem lentos longe da sua presença."