Coleção pessoal de clarabrant_
Eu tentei persistir
Tentei acreditar
Tentei mesmo
Mas o desgaste foi grande
E eu já não consigo mais
Eu estou em chamas
Sempre estive
Eu não percebia o fogo, devido a adrenalina que as trivialidades do mundo gerava
Eu não parava um só instante
Mas um dia eu parei
E nesse dia olhei para mim mesma
E dei por fé das coisas horríveis que tinha feito
Pecados gravíssimos
Machuquei pessoas, machuquei a Deus
Percebi meus pensamentos horripilantes
E então vi meu corpo pegando fogo
Havia chamas para todo lado
Meu coração estava esmagado e dilacerado
Minha consciência doía e tinha o peso do mundo
E as chamas
Eu podia sentir
Por fora tudo normal
Por dentro, queimaduras de terceiro grau
E me olhar no espelho começou a se tornar algo muito difícil
Embora o reflexo presente ali seja meu, não o reconheço
Talvez seja eu, talvez não seja
Só sei que essa pessoa me enoja
Eu sinto o frio dos dias de inverno, mesmo estando no calor do verão
Sinto a solidão de estar por conta própria, sem poder contar com alguém que ajude a achar a direção
Eu sinto a sombra que me envolve como um manto
Eu sinto a escuridão que me ofusca os sentidos
Eu sinto a dor de estar sufocando em meus próprios pensamentos
Eu tenho o desejo de partir desse mundo
Mas acima de tudo isso
Eu sinto medo
Eu tenho muito medo
Quanto mais penso, mais confusa e triste eu me sinto, pois estou longe de chegar a alguma certeza. Na verdade, acho que não existem certezas, só dúvidas e mais dúvidas.
Estou morrendo
Morrendo em minha própria fria existência
Morrendo em preto e branco
Morrendo em câmera lenta
Morrendo em inércia
Morrendo sem sentir
Não tenho interesse em nada
A vida e as pessoas se tornaram intragáveis
Será que existe algo nesse mundo capaz de me salvar?
Algo que me dê fôlego, algo me dê sentido
Estou procurando por uma razão
Qualquer coisa
Não precisa ser nada especial
Pode ser algo simples e singelo
Que me salve, que me dê norte
Hoje eu cansei da vida...
Ficar deitada sem fazer nada parecer ser a melhor coisa a se fazer.
Se não fossem as obrigações,
Não me levantaria da cama o dia inteiro.
Hoje, ficar deitada, sem fazer nada, é com certeza o melhor a se fazer.
Nem comer, nem dançar, nem fazer compras, nem mesmo cantar.
Hoje o melhor do dia é mesmo dormir.
É fechar os olhos e simular que a noite dura uma semana ou dura para sempre.
E ficar apenas deitada,
Sem fazer nada,
Apenas deitada.
Já passava das nove e meia da noite.
Eu aqui dentro do meu quarto.
Dom Casmurro a minha esquerda me servindo de companhia em leitura.
Lá fora ouço o vento a vaguear pela rua.
Já passava das nove e meia da noite, e a cidade já estava recolhida.
Cada um em seu lugar com sua solidão e seus pensamentos.
E eu aqui, dentro do meu quarto.
Dom Casmurro a minha esquerda se oferecendo como companhia, para que eu não fique a sós comigo mesma.
''Quando olhava dentro de seus olhos, sentia-me como se estivesse sozinho no fim do mundo, numa praia oceânica batida pelos ventos. Sem nada, alem do rugido macio das ondas.''
E vai chegar o dia do cúmulo, e eles vão me perguntar a razão de tudo aquilo, e eu não vou me pronunciar, porque afinal de contas, eu já tinha falado várias vezes e de todas as formas possíveis, mas ninguém nunca me escutou.
Quando o torpor e a inércia tomam conta do corpo já abatido, não resta muito a fazer se não entregar-se totalmente ao vazio.
Hoje acordei com vontade de morrer
Não sei se isso é errado,
Mas vou desaparecer
Sumir de vez do mundo
Parar de me iludir
Dizer adeus a tudo
Enfim, vou desistir…