Coleção pessoal de celsocolunista
O tabuleiro eleitoral ficou engraçado. De um lado Dilmula com o rosário de realizações. Detonar a Petro, detonar a Eletrobrás, zonear a contabilidade nacional, tentar quebrar a Caixa com minha casa, meu aspirador, com o fato positivo de ter tirado da miseria milhões de seres humanos. De outro lado a dupla Caim e Abel vulgo Serrécio, ou se preferem a dupla de humoristas franceses dos anos 60.Les fréres ennemis E, finalmente, Edumarina. Interessante . Marina parece ter vindo diretamente da Finlândia. Como é possivel desconhecer as 'peculiaridades' de um país que pretende governar. Não sabia ....não sabia....-sequela do petismo- que os cartórios são desesperadoramente lentos e seletivos no seu zelo.. Boa sorte para nós!
Um espetáculo de ópera-bufa protagonizado por um candidato comunicador e pronto, muda o destino de um país.
Quase tudo na vida se resolve mediante um sim ou um não. O talvez nada mais é do que adiar, covardemente, uma decisão.
Todos os seres são fundamentalmente bons. Ou seja, quando pela primeira vez aboletam-se no poder, através dos votos ou mediante qualquer outro atalho constitucional: suplência, indicação, nomeação etc., chegam sem (muitos) vícios...
Na teoria, a prática é outra, ensina o bom Joelmir, mas não podemos deixar de lado uma verdade: A teoria é a consolidação dos mestres. (...) O ensinamento mantém sua validade.
“Se você deseja descobrir um vício de alguém, comece falando sobre diversos outros pecadilhos para, finalmente, chegar à possível mancha de caráter do seu interlocutor. Saiba que jamais ouvirá criticas mais duras a esse defeito do que aquelas partindo do portador do labéu”.
Estréia
Chega, afinal, o dia da estréia esperada.
Com ingressos esgotados, multidão desesperada
Se agita, faz bagunça e procura os cambistas.
Esses vão ganhar aplausos, tantos quanto os artistas.
A cidade revestida de cartazes coloridos,
Com a mídia alucinada a soltar os seus vagidos,
A senhora colunável olha a roupa no cabide,
Que escolha enjoada, como no “Você decide”.
Como decidir agora? Se aparecer fulana
Que a viu nesse vestido lá no coquetel da Ana?
E se escolher o verde com decote estonteante,
Será logo rotulada “Essa aí quer um amante”.
Descartado foi o verde, indecente e ousado.
E se escolher o preto, que é bem mais comportado?
Nada feito. Tem babados. Eles não se usam mais.
‘Posso parecer ousada, mas ridícula, JAMAIS!’
Eu não quero esse branco num evento de primeira,
Pra ouvir “Olha na frente, olha aquela enfermeira!”
Se usar aquele reto mais fechado e com gola,
Vou criar-me um problema: como uso a estola?
Como o tempo é insensível, sem um pingo de piedade!
Ela só se debatendo, vítima de ansiedade.
Pega o vestido rosa e o atira ao chão chorando.
Essa ela não agüenta: não tem bolsa combinando.
Sente que se aproxima o momento crucial.
Bem que usaria o cinza. É, mas falta-lhe o sal.
‘Mas, querida, é bem bonito, juro que sal não lhe falta.
Você fala por despeito, só porque tem pressão alta!’
E olhando o prateado: Custou caro, um assalto,
Mas não tenho mais sapato prateado, salto alto.
Desespero toma conta, e o marido tem que ouvir:
Quer me trancafiar em casa, eu não tenho o que vestir!
Já pensou nos mexericos aos quais fico exposta?
Eu arrumo uma desculpa : digo que estou indisposta.
Não agüento o vexame: numa dessas chances raras,
Vou posar feito palhaça pro fotógrafo de Caras?
Esse nosso casamento só me trouxe privações,
Como ir assim ao teatro, suportar humilhações?
Não sou uma provinciana, também não cheguei de Marte.
Meu azar foi ter casado com quem não gosta de arte!
Mesmo na época do raio laser, podemos usar velas para iluminar cavernas....
(Segundo Ababurtinogamerontes).
O XIS da questão
Diz a lenda que um dia, várias décadas atrás
Quando a Vale engatinhava (nem havia Telebrás)
Veio ao mundo, prá mudá-lo, um ser extraordinário.
Hoje em dia, é famoso, e por cima, bilionário.
Acumula uma fortuna como mais de trinta Bi
Quem diz isso é a Forbes, logo não é tititi.
Esse prêmio merecido, nada tem de ocasional.
Grande, imenso, gigantesco, digo mais: piramidal.
Todo êxito acarreta comentários invejosos
Poucos são os que suportam ver os ricos e famosos,
Sem sacarem das aljavas as flechas maledicentes
Que vitimam cruelmente bilionários inocentes.
Para eles, o sucesso filho é da falcatrua.
Como se fosse pecado lotear glebas na lua!
Compradores fazem fila, cada qual quer seu quinhão
Em linguagem de mercado, isso é um “Aipiozão!”
Arquimedes já dizia: Uma boa alavanca
Com um ponto de apoio bastam pra quebrar a banca.
O cassino pega fogo, a alegria é geral
O milagre, por enquanto é pré-operacional.
Um triunfo que se preze, sempre há de pedir bis
Então, vem mais um milagre com o seu sufixo xis.
Que sustenta o precedente, o que sempre afaga o ego.
Quem criou o arcabouço foi se inspirar no Lego.
Ao diabo velhas siglas; O P/L, Roi, Lajida
Só importa no momento tomar parte da corrida.
Todo mundo embalado na loucura coletiva.
Analistas de acordo: não há outra alternativa.
Diante disso é possível continuar indiferente,
Quando tudo é feito às claras, de maneira transparente?
Todo o mundo bate palmas: vá em frente, siga avante!
Qual é mesmo seu produto? É o fato relevante!
Espumas flutuantes
É quase meia-noite. Por que o sono tarda?
Chegada é a hora, daqui, desta mansarda,
Olhar o firmamento, em sombras embebido,
E receber das ruas constante alarido.
Monótono murmúrio, mais uma vez repita
A velha cantilena de um laço de fita,
Mas, por ter retomado o verso centenário,
Irão meus detratores chamar-me de plagiário?
A ânfora sagrada repleta até a borda
Entorno com cuidado. O líquido transborda.
E afogado em néctar, aos poucos esqueço
Aquela dor que um dia virou-me pelo avesso.
Perdido na saudade daquela criatura,
A mente se rebela, protesta, esconjura.
Mas rende-se covarde à sombra que levita,
Fantasma do passado com seu laço de fita.
Abafam os meus passos espessa alcatifa,
Espio Sherezade à frente do califa,
Contando o sonho louco de um jovem colegial,
Que viu na Messalina a aura de vestal.
O tempo foi trazendo a doce acalmia,
O sono se aproxima da ânfora vazia,
E no mais lindo verso de púrpura escarlate,
O caos da amnésia, debalde se debate.
Pois outros são os tempos. Mas vejo a figura
Menina com seu laço de Vênus imatura,
Tu, náiade perversa, eu, um cabuletê.
Teu corpo é espuma cobrindo o Tietê.
Finalmente, a exemplo do que acontece nos últimos quilômetros da maratona, o triunfo da vontade sobre o que a ela se opuser
Tempos modernos.
Acerca de um plágio. (Moacyr Scliar sendo plagiado)
Poeta engajado refém de estranho rito,
Pode ser que se lembre que alguém tenha dito
Não ser nada bom se iludir por presságio,
Muito menos tentar triunfar com um plágio.
Presenciamos de fato escassez de idéias.
Muitos tentam, então, se valer das alheias.
Desempenho papéis que ainda não tive.
Eu que era escritor, me tornei detetive...
Veja bem, aprecie esse meu desconforto.
Outro dia, vagando pelos cais do porto,
Eis que chega um barco com dois tripulantes,
Mas lembrei, sem querer, ter já visto isso “antes”.
Lá no bote avistei um rapaz e uma fera.
Só que ainda distante não sabia o que era.
Meu olhar atreveu-se a flanar até lá
E notou na coleira: “made in Canadá”
Fato estranho, comum nesses tempos que correm.
As idéias circulam. Quem disse que morrem?
Ter escrito primeiro nem vale a pena,
Eis que chega um outro e rouba-lhe a cena.
Não contente com esse pequeno estrago,
Esse outro, que pesca nas ondas do vago,
Pai adotivo dessa bela história,
Reivindica direitos à fama e à glória.
Discutamos se aquilo era uma pantera,
Qual seria de fato a raça da fera,
Se o outro sairia a pé ou de maca,
Ou pior, se a pantera no fundo era vaca?
Se era mesmo um felino, então como fica?
Se era onça, pantera ou jaguatirica.
Se o palco era um barco, um bote ou jangada,
Caso haja barulho será ele por nada?
No meio de tantas refregas pungentes,
Defendemos os frangos, quebramos patentes.
A OMC se alça, sublime guerreira.
Para , enfim, decidir de quem é a coleira.
Moral
Para as fábulas sabemos, só importa a moral
Para autores, se lhes falta, o estrago é parcial.
Lauréis se conseguem, é mais fácil hoje em dia,
Pois se falta a primeira, mostram a segunda via.
Desespero provisório
Ser caniço, ser pensante, enfrentar tormenta
Até onde, até quando,coração agüenta?
Aprender com os seus erros, sim, mas até quando?
Sempre tatear em volta, sempre ir tentando?
Para onde seguirá, alma insensata,
Se a jóia cobiçada não passou de lata?
Um momento de amor com penar se paga.
Para a praia tanto faz que será da vaga.
O tributo pagarei, ano após ano.
Vitimado pelo meu colossal engano.
Cambaleio ao caminhar, sem querer, aderno
Só me resta constatar: nada é eterno.
Cabisbaixo integrar o rol dos vencidos,
Fortunados por deixar de ser iludidos.
Até quando lamentar minha triste sina
Verter lágrimas sem fim em cada esquina?
O regalo que restou, brinde postimeiro
Foi não ser original. Não fui o primeiro.
É melhor me conformar :É assim a vida
Voam horas de prazer, sobra a ferida.
Vendaval ou aquilão, o caniço agüenta
O desânimo passou. A poeira assenta.
Sei que há de me chamar com voz doce :Venha!
Só me restará pegar uma nova senha.
Chico Buarque
Sempre foi a mais bonita das meninas dessa sala.
Não, não é do Chico Buarque, é daquele que vos fala
Que, por sua conta e risco, admirava as melenas
Da menina encantadora, que não era de Atenas.
Para ela declamava os poemas de Neruda,
Era um sinal dos tempos, uma “paixonite” aguda.
Comentavam toda hora a Geni, a Carolina,
Mas um dia, a Roda viva afastou-o da menina.
Despedida lacrimosa cheia de “não me abandone”,
Procurou diversas vezes conversar por telefone.
Inspirado na Maysa ou, ainda, no Jacques Brel,
O contato se manteve, só que via Embratel.
Com o tempo, declinaram duração, ardor, freqüência
E, com o passar da banda, conformou-se com a ausência.
Corroída pouco a pouco, desabou a construção.
Amanhã foi outro dia, apesar do coração.
Muitos anos se passaram, numa festa do colégio,
Encontraram-se de novo. Dissipado o sortilégio.
Passearam em silêncio pelo pátio da escola,
Recordando os bons tempos, quando lhe passava cola.
Procurava ver no rosto da senhora corpulenta,
Entre rugas, o sorriso, o encanto, a pimenta,
Que haviam desertado sem sinal de compaixão.
Ocorreu-lhe: “Para ela é a mesma sensação?”
Conversaram mais um pouco com colegas de outrora.
Nada mais fazia a ponte do “então” e do “agora”.
Cabisbaixo, afastou-se sem que ela o notasse.
Caminhando, só lembrava a mais linda da sua classe.
Por instantes, a lembrança cativava por inteiro
Parecia-lhe ouvi-la a cantar Pedro Pedreiro
A imagem se turvava , apesar de obsessiva.
Era tudo a vingança da maldita roda viva.
Relembrava os momentos do passado esquecido
E o trauma do encontro com o grande amor perdido.
Vítima de uma lembrança que um dia o deixou louco,
Prisioneiro de uma frase “partir é morrer um pouco”.
Uma farsa do destino, um embuste traiçoeiro
O instante revivido não valia o primeiro.
Um abraço, um beijo morno e a viu se afastar
Uma lágrima a segue , um suspiro: Vai passar.
*Do livro ´´Desespero Provisório``, Ed. Edicon
Um traço que não se completa
Não precisa ser das trevas testemunha ou rival.
O seu caminhar na folha o comprime, o esconde
Na procura desvairada do mas como? Quando? Onde?
Pode ser que sua busca se complete afinal.
No começo foi guiado e submisso se manteve,
Ignorando a espera que apenas alucina.
Foi preciso mais de um sonho, foi um rosto de menina,
Para que o sofrimento se derreta como neve.
Escorado na memória, percorreu desfiladeiros
Onde o monstro esquecimento encolhia-lhe o passo.
Para a alma apaixonada o talento foi escasso.
Foi no choro, no soluço, encontrar seus companheiros.
Prisioneiro de um gesto ou refém de uma saudade,
Assumiu o compromisso de fazer jorrar do nada
O mistério aveludado das feições da amada,
Pois no sonho se confundem a mentira e a verdade.
Hesitante no percurso, feito barco à deriva,
Foi dos olhos presa fácil, resistência abandonando.
O mistério, o sofrimento, por ainda estar amando,
Mantiveram ilusória a imagem sempre viva.
Que importa o trajeto quando arde na lembrança
A fogueira esfomeada de anseio e acalanto
A mistura de magia devaneo e espanto
Que ao projetar a alma, esqueceu a semelhança?
Nota do editor: O poeta nos oferta sua mensagem por meio de versos sensíveis, participantes e abertos à porosidade de um mundo atroz que nos circunda.
*Do livro ´´Desespero Provisório`, Editora Edicon.