Coleção pessoal de cauech

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O medo ameaça.
Se você ama, terá Aids
Se fuma, terá câncer
Se respira, terá contaminação
Se bebe, terá acidentes
Se come, terá colesterol
Se fala, terá desemprego
Se caminha, terá violência
Se pensa, terá angústia
Se duvida, terá loucura
Se sente, terá solidão.

O capital financeiro e as classes. O capitalismo monopolista transforma a sociedade e altera as relações entre as classes. Após uma fase inicial de tensões, o latifúndio e o capital financeiro se unem pela sua hostilidade comum contra o movimento operário. Essa união aumenta a força do capital financeiro para a dominação do poder do Estado. A pequena burguesia também deixa de ser antagônica ao grande capital, ao ser dependente dela e seu maior apoio político. A classe média, incapaz de realizar uma política própria de classe, fica à mercê de toda demagogia, sendo consciente apenas de sua hostilidade à classe operária. “Torna-se politicamente reacionária (…) e torna-se o mais entusiasta promotor do Governo e do poder forte, é fã do poder militar e da marinha e se declara a favor da burocracia autoritária”. É aliada das classes imperialistas, que lhe fornecem nova ideologia na expansão imperialista. Os altos funcionários das indústrias também são grandes defensores do desenvolvimento capitalista, e são incapazes de uma política de classe (devido à intensa competição entre eles, em busca de ascensão individual); seu esforço em evitar a proletarização se combina com seu ódio à classe operária, afastando-os ideologicamente. Eles têm grande influência na opinião pública. Porém, com o desenvolvimento capitalista e a expansão dos cartéis/trustes, crescerá o antagonismo do capital financeiro com essas camadas. Em resumo, as camadas burguesas se unem cada vez mais em seu antagonismo comum contra a classe operária, mas sempre sob o comando do capital financeiro.

Arbeit macht frei - O trabalho liberta

Nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar.

"Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força".
(Palavra de ordem da revista L'Ordine Nuovo, que teve Gramsci entre seus fundadores)

Um economista é um especialista que saberá amanhã porquê as coisas que previu ontem não acontecerem hoje.
Por quê Deus criou os economistas ?
— Para os meteorólogistas parecerem competentes.

Marx acreditava que a ética que governa a sociedade capitalista — a ideia de
que só poderei servir a você se isso for lucrativo para mim — era uma forma detestável
de vida. Não trataríamos nossos amigos ou filhos assim, então por que aceitar que isso
fosse um jeito perfeitamente natural de lidar com outros na seara pública?

Tendo em vista que o modelo base-superestrutura tem sido bastante ridicularizado
por alguns críticos de Marx e até por alguns de seus seguidores, perversamente me
disponho a elogiá-lo aqui. Algumas vezes se argumenta que o modelo é estático demais,
mas todos os modelos são estáticos, bem como simplificadores. Marx não quer dizer que
existem duas porções totalmente distintas de vida social; ao contrário, existe um bocado
de tráfego entre ambas. A base pode dar origem à superestrutura, mas a superestrutura é
importante para a existência continuada da base. Sem o apoio do Estado, do sistema
jurídico, dos partidos políticos e da circulação de ideias pró-capitalistas na mídia e em
outros lugares, o atual sistema de propriedade poderia estar mais claudicante do que anda
nos últimos tempos. Na visão de Marx, esse tráfego de mão dupla era ainda mais evidente
nas sociedades pré-capitalistas, em que o direito, a religião, a política, os laços de sangue
e o Estado participavam crucialmente na atividade da produção material.

Dessa forma, começamos a contar uma história. Começamos a ser uma história.
Os animais que não são capazes de desejar, executar tarefas complexas e elaborar
formas de comunicação tendem a se repetir. Suas vidas são determinadas por ciclos
naturais. Eles não moldam para si uma narrativa, ou seja, aquilo que Marx considera
liberdade. A ironia nessa visão é que, embora essa autodeterminação seja a essência da
humanidade, a grande maioria de homens e mulheres ao longo da história foi incapaz de
exercitá-la. Esses indivíduos não tiveram permissão para ser plenamente humanos. Em vez
disso, suas vidas, na maior parte, foram determinadas pelos monótonos ciclos da
sociedade classista. O porquê desse fato e como isso pode ser sanado é a essência da
obra de Marx, que investiga como podemos passar do reino da necessidade para o da
liberdade, ou seja, nos tornarmos menos semelhantes a texugos e mais semelhantes a nós
mesmos. Tendo nos levado aos umbrais de tal liberdade, Marx nos deixa ali, para que nos
viremos por conta própria. Como poderia haver liberdade se assim não fosse?

O amor é meio de o homem se realizar como pessoa!

Verdadeiros amantes da Liberdade não apenas querem estar a salvo de ser controlados por alguém, mas sobretudo, a ninguém querem controlar.

O trabalho humano raramente é do tipo gratificante. Em primeiro lugar, sempre se
deu sob coerção, de uma forma ou de outra, ainda que esta seja simplesmente a
necessidade de não morrer de fome. Em segundo lugar, ele é executado na sociedade
classista e por esse motivo não como um fim em si mesmo, mas como meio gerador de
poder e lucro para terceiros. Na visão de Marx, e de seu mentor Aristóteles, a boa vida
consiste de atividades desempenhadas sem finalidade outra que não elas próprias.

“A economia”
jamais aparece na forma bruta. O que a imprensa financeira chama de “a economia” é um
tipo de fantasma. Decerto ninguém jamais pôs os olhos nela. Trata-se de uma abstração
de um complexo processo social. É o pensamento econômico ortodoxo que habitualmente
estreita a noção do fator econômico. O marxismo, ao contrário, concebe a produção na
forma mais rica e abrangente. Um motivo por que a teoria da história de Marx se sustenta
é o fato de que os bens materiais jamais são apenas bens materiais, mas encerram a
promessa do bem-estar humano. São o portal para muita coisa preciosa na vida humana.
Por isso homens e mulheres lutam até a morte por terra, propriedade, dinheiro e capital.
Ninguém valoriza o fator econômico puramente como fator econômico, afora aqueles que
fazem disso uma profissão. É porque essa seara da existência humana abarca em si
tantas outras dimensões que ela desempenha um papel-chave na história humana.

Jean-
Jacques Rousseau afirma em seu Discurso sobre a desigualdade que a propriedade traz em
seu rastro a guerra, a exploração e o conflito de classes. Insistia, ainda, que o chamado
contrato social é uma fraude perpetrada pelos ricos contra os pobres a fim de proteger
seus privilégios.

Ainda assim,
ficaríamos pasmos se descobríssemos que a cultura inglesa só continha Tom Paines e
trupes teatrais anarquistas. A maioria dos romancistas, acadêmicos, publicitários, jornais,
professores e emissoras de TV não produz obras dramaticamente subversivas do status
quo. Isso é tão óbvio que deixa de nos parecer significativo. O argumento de Marx é
simplesmente que não se trata de acidente. E é aqui que podemos formular o aspecto
mais positivo de sua afirmação. Em termos amplos, a cultura, o direito e a política da
sociedade classista estão ligados aos interesses das classes sociais dominantes. Como o
próprio Marx observa em A ideologia alemã: “A classe que é a força material governante
da sociedade é ao mesmo tempo a força intelectual governante.”

Uma forma virulenta de utopia atingiu a Idade Moderna, mas seu nome não é
marxismo. Trata-se da noção enlouquecida de que um único sistema global conhecido
como livre mercado seja capaz de se impor sobre as culturas e economias mais diversas
e curar todas as suas mazelas.

A igualdade para o
socialismo não significa que todos sejam exatamente o mesmo — a tese mais absurda
possível. Até Marx teria percebido ser mais inteligente do que o duque de Wellington.
Também não significa que a todos será concedida exatamente a mesma quantidade de
riqueza ou de recursos.
A igualdade genuína não significa tratar todos do mesmo jeito, mas atender às
necessidades diferentes de cada um de forma igual. E esse é o tipo de sociedade pela qual
ansiava Marx. As necessidades humanas não são perfeitamente correspondentes. Não é
possível medi-las com a mesma régua. Para Marx, todos deveriam ter o mesmo direito à
autorrealização, bem como à participação ativa na formatação da vida social. As barreiras
da desigualdade, assim, cairiam por terra. O resultado disso, contudo, seria, na medida do
possível, permitir que cada um desabrochasse como o indivíduo ímpar que é. No fim das
contas, para Marx, a igualdade existe em prol da diferença. O socialismo não tem a ver
com todos usando o mesmo tipo de macacão. É o capitalismo consumidor que veste com
capricho os cidadãos em uniformes conhecidos como moletons e calças de jogging.

Tomemos, por exemplo, a ideia de uma cooperativa autogovernada, que Marx
aparentemente encarava como a unidade produtiva chave do futuro socialista. A
contribuição de um indivíduo para uma organização assim permite algum tipo de
autorrealização, mas também contribui para o bem-estar dos outros, simplesmente em
virtude da maneira como o cenário está montado. Não preciso nutrir ideias ternas quanto a
meus colegas de trabalho ou me açoitar a cada duas horas para demonstrar meu frenesi
altruísta. Minha autorrealização ajuda a aumentar a deles simplesmente por causa da
natureza coletivamente regulada, bem como cooperativa, partilhadora de lucros e
igualitária. É uma questão estrutural, não de virtude pessoal. Não exige uma raça de
Cordélias.

Ideais são indicações, não entidades tangíveis. Eles nos mostram o caminho a
seguir. Os que zombam dos ideais socialistas deveriam se lembrar de que também o livre
mercado jamais pode ser perfeitamente viabilizado, o que nem por isso freia seus adeptos.
O fato de não existir democracia sem defeito não leva a maioria de nós a se conformar
com a tirania. Não renunciamos à tentativa de alimentar os famintos do mundo, embora
sabendo que alguns deles perecerão antes que o façamos. Alguns dos que afirmam que o
socialismo é inviável estão convencidos de que podem erradicar a pobreza, resolver a crise
do aquecimento global, estender a democracia liberal até o Afeganistão e solucionar os
conflitos mundiais por intermédio das resoluções das Nações Unidas. Todas essas tarefas
intimidadoras se encontram confortavelmente no âmbito do possível. Só o socialismo, por
alguma razão misteriosa, se acha fora de alcance

Vale a pena destacar a preocupação de Marx com o indivíduo, já que ela
nitidamente contraria a caricatura habitual de sua obra. Nessa visão, o marxismo tem tudo
a ver com coletivistas anônimos que ignoram a vida pessoal. Nada pode estar mais
distante do pensamento de Marx. É possível dizer que o livre florescimento dos indivíduos
é o objetivo primeiro de sua política, desde que nos recordemos de que esses indivíduos
precisam descobrir alguma forma de florescer em conjunto. Afirmar a própria
individualidade, escreve ele em A sagrada família, é “a manifestação vital da existência”.
Pode-se dizer que essa é a moral de Marx do início ao fim.