Coleção pessoal de catarinaester
A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens e sim em ter novos olhos.
O sobressalto das quatro pernas.
"As cadeiras vão esvaziando-se, e sendo esvaziadas. A sua cadeira permanece lá, até o fim, até a exaustão. Mas lá ela fica, com o rastro de uma presença, tecendo ilusões. A cadeira não está vazia, porque o vazio não é nada. O vazio não nos faz sentir alguma coisa, porque não existe nada para sentir. Não, o vazio seria ótimo, traria a paz. Mas é algo pior, entre a presença e a ausência, há a insignificância. O que torna a espera mil vezes mais perturbadora. Enlouquece, desvanece, esmorece. Não há nada mais absurdamente doloroso do que uma falsa chegada, um ensaio da felicidade. E no meio dessa sinestesia apropriada, a cadeira continua lá. Como um fantasma, para perseguir, cutucar, te provocar. Seria mais fácil não observá-la ali, parada e estática, como se em um passe de mágica fosse ser ocupada. Mas não, essa cadeira não será utilizada, não hoje, talvez amanhã... Quem sabe?"
Eu escrevo pro vento
Pro teto
Pras cadeiras
Escrevo pra tantas coisas
Tantos móveis
E lugares
Que já não controlo minha vida
O que eu diria então da minha escrita
E assim nada decide o que sai da caneta
Apenas brota
Vai embora
Por sorte minha não volta
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Fui tomar satisfação a meu pai sobre esses assuntos do céu: "O povo diz que o céu é la em cima e o inferno é lá embaixo. Mas se a Terra é redonda e tem céu em toda a volta, onde fica o inferno?". Meu pai, meio agnóstico, meio crente, me deu uma palmadinha carinhosa e se saiu: "O inferno é aqui mesmo. Vá brincar!"
O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.
Convite Triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
(Em: Brejo das Almas)
O progresso do homem não é mais do que uma descoberta gradual de que as suas perguntas não têm significado.
Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O homem inventou Deus para poder viver sem se matar.
A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.