Coleção pessoal de CarlaGP

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⁠"A verdade é o limite da diplomacia. Noutras palavras, o convívio social, embora às vezes nos obrigue a certa tolerância com relação a opiniões ou atitudes que julgamos equivocadas noutras pessoas, não pode ser regido por vernizes ou etiquetas que esmaguem o caráter. Às vezes é necessário lascar um osso para manter a integridade, não engolir a seco coisas ou situações que tangenciem a perda dos valores que nos são mais caros. Ou isso ou a mentira acomodatícia, a qual induz as pessoas à demagogia; e, desta, vai-se a precipícios de onde é quase impossível sair.

Conviver com a diferença não é anular-se. É agir com certa sabedoria prática, ter traquejo para boa parte das situações cotidianas, entender que a maior cortesia que podemos fazer a alguém é sermos verazes, muito mais que políticos. Mas é também perceber que, em boa parte das vezes, é possível conviver com o diferente sem sentir-se agredido, constrangido, maculado, aborrecido. Quando a diferença porém representa um abismo o afastamento torna-se a melhor profilaxia moral".

⁠"O arrependimento de um obstinado pertence ao âmbito do miraculoso, pois em toda obstinação há o influxo decisivo da malícia, em maior ou menor grau, no que diz respeito à recusa de dados elementares da realidade. Não se trata de teimosia, apenas, mas da calcificação da inteligência no erro. Neste estado, a pessoa torna-se impermeável a quaisquer evidências em contrário àquilo que gostaria de ver concretizar-se no mundo real. Sacudida por emoções veementes e contraditórias entre si, esta arquetípica criatura acabou sendo privada das precondições psíquicas sem as quais o arrependimento é, formalmente, impossível. O máximo a que chega é o remorso, mas este enxerga somente os efeitos dos erros cometidos, jamais as causas. Por remorso, Judas devolveu as trintas moedas com que vendeu Cristo; se se arrependesse, pediria perdão ao Mestre.

Sentir a própria consciência remorder não basta para uma pessoa deixar de ser obstinada; é preciso que, nela, a luz do remorso se transforme em vontade de refazer tudo a partir do pagamento de um débito de justiça, o qual muitas vezes começa por um sincero pedido de perdão, mas este só o arrependido é capaz de realizar de boa-fé, porque ama a verdade. Sim, entre arrependimento e amor o vínculo é essencial, e não acidental.

Ninguém se arrepende sem querer ou sem entender do que realmente deve arrepender-se. Ora, o obstinado não quer arrepender-se, mas afirmar a sua posicão a qualquer custo, e justamente por isso não vê razões por que deva arrepender-se.

Que dizer então de sociedades inteiras em que os obstinados são maioria?"

⁠"Quem em silêncio acolhe elogios injustos, faz infernal barulho ao receber críticas justas".

⁠"O amor tolera sombras; o conhecimento, não. Por isso não existe pior maneira de amar uma pessoa que tentar saber tudo dela.

Um amor que não suporta o mistério está fadado à morte em agonia".

⁠"A alma pusilânime vicia-se em não ter certezas, até crer, neuroticamente, que toda certeza é incerta.

A exceção são as certezas que servem à sua covardia; estas são inabaláveis, e dão à alma pequena argumentos vários para não fazer o que deve fazer, em circunstâncias concretas de sua timorata existência.

A uma pessoa debilitada por este vício convém delegar a terceiros, ou ao Estado, ou à "ciência", as suas mais importantes decisões.

Ao fraco convém duvidar quando ter certeza é um dever. Não se trata, neste caso, de uma certeza geométrica, é claro, mas da "certeza moral" que impele o homem a agir em ocasiões graves tendo por bússola a opinião mais provável".

"⁠Só há verdadeiro martírio quando não se sacrifica a própria consciência na defesa inegociável da verdade conhecida, em condições adversas.

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Esta definição exclui do conceito de martírio todo e qualquer sacrifício em defesa de um ideário político. O comunista, o nazista, o socialista, o fascista ou o liberal, quando levam às últimas conseqüências as suas convicções, fazem o extremo oposto do mártir: sacrificam a própria consciência no altar da obediência cega a diretrizes políticas circunstanciais.

São capazes de impugnar ou ocultar a verdade quando isto convém à sua facção".

⁠"Um povo sem alma é o defunto merecedor dos vermes que o comem".

⁠""Não perdoar é a síntese do inferno na terra".

⁠"Nunca ninguém se perdeu moral ou espiritualmente por manter-se precavido contra os elogios, que, mesmo quando justos, se fazem sempre acompanhar de perigos de vários tipos.

Quantas pessoas sucumbem à vaidade e ao auto-engano porque acolhem os elogios sem qualquer decoro!

Quem recebe com demasiada satisfação o elogio justo está perto de acatar o elogio equivocado e até mesmo o interesseiro.

O homem prudente jamais confia cegamente no elogio".

⁠"O adulador de hoje é o detrator de amanhã. Sua opinião elogiosa é feita da mesma lama tóxica de suas sentenças caluniosas.

Os louvores do adulador são envergonhadas palavras de enaltecimento a si próprio. O pior, porém, vem agora: secretamente, o adulador crê que os seus aplausos são um favor – razão pela qual imagina que a pessoa a quem exalta tem uma dívida de gratidão eterna para com ele.

De maneira repentina, rancores incontidos eclodem no espírito desta criatura ávida por reconhecimento. Basta um nada para tudo o que há de pior na sua alma vir à tona; um peteleco a faz desmoronar; uma bobagem a faz despejar magmas de ódio em forma de impropérios e murmurações.

No final das contas, nada lhe restará senão decair na jactância que – por resquícios de pudor – tentou esconder o quanto pôde. Uma jactância tortamente atirada contra aqueles de quem se julga credor moral. Em tais ocasiões, este pobre-diabo gaba-se atacando desafetos que só existem na sua imaginação doentia".

⁠"A dureza de coração é feita de pequenas certezas equivocadas, de rancores que se vão cristalizando na superfície da consciência, de maneira lenta, no decorrer de um tempo relativamente longo, sem a pessoa dar-se conta de estar perdendo a ternura, essa extraordinária capacidade de ir às coisas e às pessoas com ânimo complacente, benévolo.

Sem ternura não há humanidade, e esta é talvez a maior desgraça que pode suceder a alguém, pois a alma desumanizada não percebe o pragmatismo, a frieza, a indiferença em que caiu. Seus juízos, suas justificativas, suas explicações passam a ser o medonho reflexo de um coração sem viço, vazio, fechado em si mesmo.

O coração endurecido não consegue expandir-se, aquecer; é selvagem em seus menoscabos cotidianos, em seu desamor cujo efeito próximo é o egoísmo, em suas acusações mesquinhas.

A frase "hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás" foi atribuída ao funesto Che Guevara, que provavelmente nunca a pronunciou. Seja como for, está completamente equivocada, pois dureza e ternura são antônimos metafísicos, realidades contraditórias que não podem coexistir ao mesmo tempo numa mesma pessoa.

Quem não perde a ternura jamais endurece o coração.

Não são gratuitos os anátemas da Sagrada Escritura dirigidos aos duros de coração..."

⁠"A perdição não é obra de um dia, mas de toda a vida".

⁠"A esperança é uma alegria começada".

⁠"Mediocridade e covardia são realidades absolutamente inseparáveis".

⁠"Se a misericórdia fosse só perdão, seria injusta".

⁠"Misericórdia e justiça não se excluem mutuamente".

⁠"A misericórdia não é a culminância de um procedimento silogístico".

⁠"O soberbo agradece pouco e quando o faz é com histrionismo mal-disfarçado".

"Não se arrepender e transferir a culpa são os dois passos da obstinação invencível – as duas etapas da impenitência final".

⁠"Desesperar-se é o fim inescapável de quem quer mais do que pode ter ou ser".