Coleção pessoal de CarlaGP

61 - 80 do total de 989 pensamentos na coleção de CarlaGP

⁠"Todo idiota é um potencial traidor".

⁠"Ou a confiança é absoluta, ou não passará de desconfiança à espera da primeira oportunidade para manifestar-se.

A confiança clama pelo Absoluto".

⁠"A obstinacão do homem estúpido é cegueira; a do inteligente, maldade. A diferença entre ambos é a que existe entre o fraco e o malicioso: este último destruiu em sua própria alma as precondições psíquicas necessárias ao arrependimento; o outro, ainda não. Por isso, dizia Santiago Ramírez – filósofo e teólogo notável, maior estudioso da "analogia entis" no século XX – que a remissibilidade de quem se afunda na malícia é um milagre extraordinário.

Assistir à obstinacão do malicioso é contemplar os mecanismos espirituais da perdição, que fazem desta vida um inferno e levam ao inferno na outra.

A constância do santo é a de quem aceita a luz; a pertinácia do empedernido é a de quem a recusa.

Em sentido estrito, o soberbo é o maior dos idiotas, pois, ao valorizar demasiado o que tem, perde o que de melhor poderia vir a ter".

⁠"A lealdade é filha da veracidade.

Quem não é veraz jamais conseguirá ser leal. Noutras palavras, alguém que não tenha a verdade como critério pode, no máximo, ser leal a uma causa — nunca a uma pessoa. Ocorre que essa lealdade a grupos em detrimento dos indivíduos objetivamente considerados é tão falsa quanto uma nota de três dólares, pois não se funda na amizade, que tende à perdurabilidade, e sim no interesse, que tende à inconstância.

Em suma, não é lícito ser desleal nem mesmo para com os inimigos, pelo simples fato de que a deslealdade é balizada pela simulação de veracidade à qual chamamos hipocrisia. Sendo assim, ainda que o inimigo seja um "demônio", nenhuma justificativa há para jogar sujo com ele, pois quem assim procede acaba assemelhando-se ao que de pior tem o inimigo. O melhor é enfrentá-lo face a face, mas sem expedientes escusos, ou afastar-se levando n'alma o aprendizado possível. E aqui não confundamos estratagemas com vale-tudo maquiavélico: existem limites morais nas contendas, ultrapassados os quais é melhor perder que vencer. Sabemos disso desde Sócrates.

Como a veracidade decorre da virtude cardeal da justiça, o homem leal, sendo verdadeiro, "a fortiori" precisa também ser minimamente justo. Mas não pode ser justo quem substitui as amizades reais por ações programáticas em prol de um suposto objetivo coletivo, pois o ato próprio da justiça é dar a cada um conforme os seus merecimentos, e não dobrar-se — numa espécie de "amém" cego — aos projetos de um grupo, qualquer que seja, e por presumivelmente bom que seja. Quem faz isso, cedo ou tarde, acaba por cometer perjúrio contra o próximo para demonstrar lealdade ao grupo.

A pessoa que conjuga demasiada e artificialmente o "nós", acaba por desprezar o "eu" e o "tu", retirando das costas, por meio de justificativas mil, as responsabilidades pessoais para lançá-las sobre o primeiro bode expiatório que estiver à mão.

Seja como for, apenas quem crê em Deus entende o alcance da proposição "não devemos ser desleais nem mesmo com os nossos inimigos", pois o pressuposto dela é o dever de lealdade para com Aquele de quem procedem todas as verdades.

Ou isso, ou a trôpega e vertiginosa descida pelos degraus da demagogia. Ou isso, ou os acordos obscuros em vista de objetivos em geral funestos, como seja, por exemplo, o de destruir a honra alheia, direta ou indiretamente, ainda que buscando explicações sofisticadas para as mais vergonhosas ações.

Umas vezes, ser leal é a conquista do homem em luta titânica contra as suas próprias fraquezas. Outras vezes, é dádiva do céu. Dádiva que, se ainda não recebemos, podemos e devemos pedir em súplice oração.

Porque a genuína lealdade de um homem em relação ao seu próximo — seja amigo ou inimigo — é o prêmio da confiança em Deus".

⁠"O arrependimento transforma-nos de malfeitores em benfeitores".

⁠"O demônio odeia com desprezo os que faz cair; e odeia com inveja os que resistem aos seus ataques. Isto porque é próprio do soberbo desprezar os fracos e invejar os fortes. Trata-se, pois, de duas modulações do ódio — facilmente identificáveis nas pessoas orgulhosas com que deparamos ao longo da vida.

O procedimento habitual do soberbo para com os fortes é a hipocrisia; para com os fracos, a tirania. Este é um estado de agonia perene, quer nas vitórias, quer nas derrotas. Quando o soberbo vence um confronto, perde porque a vitória não alivia a voragem que o consome espiritual e moralmente; quando perde, perde duas vezes porque a derrota humilha-o".

⁠"Santa paciência não é supina estupidez.

A paciência é a virtude moral auxiliar da virtude cardeal da fortaleza. Seu papel é o de manter o bem da razão no meio da tristeza e do sofrimento. Não erra, pois, quem imagina que o impaciente é ordinariamente derrotado pela tristeza.

Uma pessoa exerce a paciência sobretudo com os que lhe são próximos: familiares, amigos e colegas de trabalho.

Este sofrer virtuoso, que é a paciência, não implica fechar os olhos com relação a falhas mais ou menos graves de outrem. Afinal, paciência não é sinônimo de fraqueza nem de embotamento mental.

Ser paciente não é estabelecer relações de permissividade com manipuladores, vigaristas e susceptíveis.

Até os santos impõem limites aos pecadores quando estes exorbitam em matéria grave".

⁠"Todo escrupuloso é um murmurador que projeta nas outras pessoas o falso pudor que o acossa interiormente de maneira agônica".

⁠"Para muitas pessoas, a única excelência tolerável é a que se amolda aos perímetros de sua própria covardia. Quem lhes oferecer mais do que simples bagatelas receberá como moeda de troca o peculiar ódio que os medíocres nutrem por seus benfeitores.

Um ódio disfarçado sob mil justificativas nobilitantes".

⁠"Onde a estupidez é multitudinária, a barbárie se impõe".

⁠"Ninguém crê numa mentira em matéria grave com a alma limpa".

⁠⁠"A impunidade afoga o criminoso em sua própria maldade. Nesse estado, não lhe resta outra coisa senão fazer da mentira um modo de vida, para autojustificar-se.

É a prefiguração do inferno".

⁠"Quem ama pouco tem má memória".

⁠"Cedo ou tarde, chega o momento em que o homem é compelido a dar testemunho – perante a sua própria consciência – da generosidade ou da ingratidão dos seus atos.

Os teólogos chamam esta hora tremenda, repleta de dolorosas luzes, em que nenhuma neurose pode servir de refúgio para quem se habituou ao auto-engano, de 'dia do juízo particular'".

⁠"O ódio é monotemático, ainda que sob vários disfarces".

⁠"O medo do inferno ordinariamente encoraja; o medo da morte habitualmente acovarda".

⁠"O aplauso do idiota é a alegria do vaidoso".

⁠"Quando a saúde fragiliza-se os problemas mundanos relativizam-se, estando o intelecto mais livre para hierarquizar a realidade e voltar-se às coisas que realmente importam, dando a cada uma o seu real peso e valor.

"Vanitas vanitatum et omnia vanitas", diz o Eclesiastes.

Esta máxima não pode ser compreendida em sua dimensão espiritual por quem está engolfado nas coisas do mundo, por quem tem o coração turbado com relação ao presente, porque a vontade oscila demasiado em suas intenções, e inquieto com relação ao futuro, porque a imaginação vagueia na concepção de possibilidades sem fim.

A vontade de quem sofreu pouco – ou sofreu mal, por doentia incapacidade de resignar-se – ainda não foi provada, e até que o seja será impossível aquilatar se é forte e magnânima ou fraca e pusilânime.

Quem padece de uma doença crônica relativamente grave sempre encontra ocasiões para triturar as vontadezinhas medíocres, as veleidades, os pensamentos inócuos, como também para curar-se de medos infundados e aspirações sem sentido. Alguns perdem esta chance preciosa e caminham para o extremo oposto: em vez de se libertarem de suas próprias limitações, purgando-se na dor, tornam-se escravos delas, ao mantê-las em meio à busca de placebos irrazoáveis mitigadores do sofrimento.

O sofrimento ou purifica o homem, para que ame, ou o atiça, para que odeie".

⁠"Diálogo não é um monólogo de várias bocas que se reúnem em grupo para falar, cada qual, ao vento ou ao próprio umbigo".

⁠"A soberba intelectual é uma espécie de transe auto-hipnótico".