Coleção pessoal de camilaheloise
Mas estava lá, o tempo todo, escrito na camiseta dele, na bermuda, no tênis branco de garoto metido. 'Não vai dar certo'. Não sei se foi o pico de uma teimosia que me fez ficar até estourar os nervos, ou se realmente era amor aquilo. Já me disseram que o amor tem destas coisas, de deixar a gente embriagado de estupidez mesmo. Vai saber.
Certeza que ele tem com os anjos alguma licença para ser o mais bonito. Ou então está transgredindo mesmo a lei de que todos somos iguais. Não, ele não é igual. E não é porque os olhos iluminam três quadras de escuridão. Mas porque teus cílios são tão sinceros quanto as palavras. Eu queria ser como ele, e ter a certeza das coisas que falo e não falar tão alto. Com todo aquele jeito paciente enquanto eu detono cinco bombas ao redor e não consigo parar. Eu nunca paro.
Se ao escrever aqui 'felicidade', te fizesse senti-la de verdade, eu escreveria em letras garrafais.
...e também escreveria 'me desculpa' e 'eu gosto tanto de você'.
E foi embora com a desculpa de que eu era feliz demais. Agora dou risada o dobro, que é pra fazer mais sentido aquela partida.
Outro dia eu queria ser a tua namoradinha. E isso me soa tão brega que até me sinto leve. Querer isso não me parece mais vulgar. Não sei se é pra saber se a sua mão é mesmo quente ou se a sua boca cheira chiclete de menta e cigarro. Mas queria ser.
Que a felicidade, ainda que breve, possa ser bem desfrutada. E que as perguntas fiquem pra depois e não tenham tanta importância. Que o motivo para se estar feliz tenha o direito de ser banal. Tenha o direito de fazer chorar de rir e quando parar, começar de novo sem qualquer porquê. Que possamos fazer da gentileza uma característica mundial. Que seja nobre ser simples. Que possamos continuar errando e descobrindo como acertar na próxima. Que nossos desejos sejam livres. Que o choro ocupe menos tempo da nossa vida, molhe bem menos os nossos olhos, sufoque bem menos a nossa alma. Que o dia seguinte seja sempre um presente bonitinho embrulhado num papel convidativo. E que aqueles que não conseguem participar destas esperanças, aprendam.
E eu preferia estar comendo qualquer coisa estragada e podre do que descobrir o que uma saudadezinha é capaz de fazer com o estômago da gente.
Eu e Ele
Nós dois, que coisa engraçada. Nos damos bem, divertimos, damos risadas. Arrastamos durante a tarde – dúvidas, incertezas, desejos e farpas. Quase nos engolimos, quase nos despimos. E de ciúme eu quase morro, e de flores ele vem e me mata. E às vezes, dá uma tristeza, e, ainda que seja tão densa, não faz alarde. Não grita. Não chora. Não abre buracos...
Tristeza de quem já sabe sentir.
O cara mais livre do mundo
O amor era amargo, mas não doía. Era saber que ele nunca ligaria, mas apareceria pra aguentar meu corpo cheio de cicatrizes e evitar comentários infelizes sobre o dia. Era nunca ter rancor, não carregar tijolos e não lutar contra o invisível. Ia além das portas de igreja, anéis de compromisso e dos sonhos de família, porque era presente, existia enquanto pulsava estrondoso na hora, não tinha pretensões. Não tinha escolha.
É por isso que hoje eu entendo que essa coisa – o amor, vai além das declarações e das flores em datas especiais. É compaixão e sinceridade. É querer sem possuir, e aceitar (com franqueza) quando alguém não está pronto.
Na verdade não importa para qual direção você está olhando.
Olhos do coração nunca apontam a direção.
Eles são os únicos feitos não para ver, mas para sentir.
Aceitar não tem nada a ver com entender. Quem aceita é porque está cansado demais pra brigar hoje, mas amanhã é outro dia. Quem entende não precisa necessariamente aceitar, entender significa deitar o coração num colchão macio e parar de se machucar
"Porque, ainda que você não saiba, eu te amo em verdade. E, você não precisa me amar,
eu amo por nós dois!"
Quando for passar aqui em casa, se lembre de pegar, algo que não vai significar nossa separação, mas que estou precisando. Está empoeirado, em baixo da sua cama, uma coisa que também é minha e eu esqueci aí faz tempo...o meu coração.
Eu me queria de volta mesmo que fosse doer, mesmo que fosse fazer pensar que na verdade eu poderia ser todas as coisas do mundo. Queria de volta poder chorar, mesmo que não parasse nunca mais, mesmo que não fizesse parar de doer ou que virasse escudo, contra todas as coisas do mundo que me roubam todos os dias, pra eu ser aquilo que não sou, sem poder escolher.
Quero um relógio quebrado, pra bagunçar as horas e entrar em sintonia com meu coração bagunçado, pra então fazer sentido, pra eu não fazer mais nada no tempo errado.