Coleção pessoal de BRUNOUS
Não acredito em mera coincidência. Pra mim, isso é brincadeira de alguém: do cosmo, de Deus, ou da vida.
Em algum momento, você vai perceber que são varias as situações em que o universo ajeita para você e diz: "É contigo agora, por favor, faz o gol".
Mãe, além do substantivo
Mãe não pega o jeito, já nasce pronta. Mãe não fica sabendo, ou não chega depois, de alguma forma e não se sabe como, ela já sabe e já está lá. Mãe não mente, diz que na volta a gente compra e não se fala mais nisso. Mãe não avisa, prevê. Mãe arruma a gente, mãe arruma um jeito. É brigando com a mãe que se aprende a perdoar. Afinal, com mãe a gente não rompe, só fica de mal. Mãe é a melhor companhia para ir ao pronto socorro. Se a gente não sabe o que tem, ela provavelmente deve saber. O pediatra só passa a receita, ela constata: “Eu falei, isso aí é virose, vamos passar na farmácia”.
Mãe pergunta só pra cumprir protocolo, por educação, na verdade ela já sabe de tudo. Tanto é que quando pergunta, pergunta afirmando: “você bebeu, né?” “você passou essa camiseta?” “seu quarto tá limpo?”
Mãe não ameaça, fala que vai sumir de vez qualquer dia desses. Mãe tem um dom metafísico que transcende a natureza das coisas: não importa se você perdeu algo, ela vai achar e vai esfregar na sua cara. A ciência ainda não explicou esse tipo de fenômeno, mas os cientistas estão trabalhando nisso.
Mãe não cabe em prosa, em verso, nem em música. Não tem começo, meio e fim. Mãe a gente não lembra, a gente leva. Lavoisier disse uma vez que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Com mãe não é diferente. Mãe é um papel que vai um pouco além do pra sempre, um pouco além, porque parece que até o pra sempre, sempre acaba. A mãe não.
opostos
eu sou de uma hora pra outra
você, tem hora pra tudo
eu deixo roupas aos cantos
você, no cabide
eu prefiro som alto, gente correndo e bafafá
você, prefere pipoca, pijaminha e sofá
eu bebo cerveja
você, vinho
eu passo da conta
você, vê
eu mato a barata
você, vem atrás, gritando: “joga essa merda pra lá!”
eu compro a cebola, o alho e um peito de frango
você, faz
se eu tento fazer
você ri
eu prefiro pizza
você, tanto faz
eu prefiro os EP’s de Caetano
você, Engenheiros
às terças, quintas e sextas
a gente combina:
fico com a louça e recolho as merdas do cachorro
você, dá uma geral na cozinha e limpa o banheiro
se alguma coisa dá errada, você olha pra mim e diz:
“a gente precisa conversar, isso e aquilo!”
eu olho pra ti e digo:
“a gente se vira, depois eu vejo isso!”
deu na tv esses dias e comentei contigo:
“cientistas provaram que os opostos se atraem.”
eu disse que era mentira, os opostos se completam
você riu e concordou comigo.
SE
E se você tivesse ido?
Como teria sido?
Se tivesse falado tudo àquilo que pensava? Na lata!
O que teria acontecido?
Se estivesse causando em vez de escondido?
Como seria?
Se naquele bom dia, tivesse sorrido?
Se não tivesse ficado calada?
E se tivesse corrido, em vez de deitado?
Se o seu foda-se tivesse ligado?
O que teria feito? O que teria dito?
Se pudesse decidir ser você,
desde o princípio, seria o quê?
Se pudesse ser o que quisesse?
Tipo, Homem-Aranha, astronauta, comissária de bordo,
professor de artes, vendedor de tapete em Angra dos Reis,
seria feliz?
Se pudesse desenhar seu próprio caminho a lápis, errando e acertando,
sem que ninguém lhe apontasse o dedo,
pra fazer o que de bom acordaria mais cedo?
Se tivesse coragem de chegar sem medo,
em quem chegaria?
Se você descobrir, do dia para noite, que pode fazer um monte de coisa
que antes você não podia? Faria o que tem de ser feito?
Se descobrisse que você, por mais conhecido que seja, não é o centro das atenções? Ainda sim, se preocuparia?
Se descobrir que, se você pintar seu cabelo de verde, as pessoas vão até olhar, mas o mundo vai continuar sendo mundo. Que se você cometer uma gafe, o mundo vai continuar sendo Mundo. Que se você fizer sucesso, alguns irão gostar de você, outros vão te xingar, e o mundo vai continuar sendo mundo. Se te esquecerem, o mundo vai continuar sendo mundo.
Se descobrisse, que independente do que você faça, dos seus medos e das suas escolhas, o mundo iria continuar sendo mundo, faria o quê?