sem saber
aonde ir ou
o que ser, fui.
sem ter ido,
desde que fui
tenho sido.
No triste cenário do nosso tempo, ao homem, do ódio em que decai só resta o ópio.
quando a vida diz não, percebemos que, fora da nossa ilusão, quem fomos já não seremos.
a saudade não tarda, mas entardece.
vírgula:
contenção da saudade,
gagueja o agora com serenidade.
vivo cada ano inteiro
como quem espera uma porta
entre dezembro e janeiro.
o fato em sinuca:
o boato envelhece,
mas não caduca.
o irreal é veraz:
na distopia de hoje,
nem com foto o fato apraz.
poeta: ele é de poema; ame-o, pede ele
o que nos sobra na palavra sem
nos falta na palavra com.
viver é herdar os mortos.
... e quem, enxergando, não anda amargo?
poesia: há no que não está, está no que não é e é no que não há.
Envelhecer é uma caminhada vespertina.
Se a poesia só existe quando alguém a lê, quem é, de fato, o poeta: eu ou você?
quero escrever o verso que ainda não me passou pela cabeça. o lugar da poesia é esse, onde ela sobra antes que aconteça.
sei
por que
escrevo:
escrevo
porque
não sei.
o eco
do sonho
soa
no oco
da sanha.