Coleção pessoal de bruno_ramalho

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⁠na contra mão
da mudez,
a nudez do não.

⁠no que acho, nada mudo:
para tanta mudez no mundo,
a nudez da mudança é tudo.

⁠a pergunta condoída
sobre o sabor do chorado:
com tanta
amargura na vida,
para quê esse choro salgado?

⁠se quisesse Deus
que a lágrima
fosse para nós um alento,
não teria posto o sal
dando gosto ao sofrimento.

⁠saudade é dor em rio,
do olho-d'água da gente
à foz no mar do vazio.

⁠serei eu, minha gente,
um tolo a cumprir os prazos,
se o próprio tempo, ultimamente,
tem sido fiel aos atrasos?

⁠do ido assentado,
faz pouco sentido:
um doido acentuado
nem sempre édoído.

⁠coleciono
insônias de paz;
durmo pouco,
suspeito,
porque acordado
sonho mais.

em meio aos cacos
de um mundo louco,
os fracos acham
que poesia é pouco.

⁠aqui, eleitor
não é leitor.

⁠o poema lúcido
no espaço cívico
seria lúdico
não fosse trágico.

⁠hoje não vejo
um grande futuro
para a saudade

⁠escrever é entrar em casa.

⁠auge da ansiedade
de hoje, a saber:
já se morre de saudade
do que ainda se quer viver.

⁠é o que é:
a saudade, um deus
que ignora a fé.

⁠seria a desilusão
uma ponte
entre o espanto e o encanto?

⁠arte é tudo o que tenta
repetir o encanto
ou ressentir o espanto
de quem não se aguenta.

⁠às vezes, o poema é sangria evaporada.

⁠dechoro pralamentar⁣
temos sobrando…⁣

⁠cronotopo da pandemia:
hoje e amanhã vivemos ontem
um novo primeiro último dia.