Coleção pessoal de Brunnoleal
Não peço licença pra entrar na vida de ninguém. Meu plano é ser espalhafatoso, porque quem chega de mansinho é condenado ao esquecimento. Não passo em branco. Sou folha rabiscada. Corro o risco do vexame pra descambar em furor. Não me permito ser mais um. Padeço da simplicidade, e ela me aponta a direção. Mexe com os cabelos, ajeita o vestido. Ela gargalha. A gargalhada da mulher é a oração em voz alta do homem. É a comunhão dos poros. O momento que ela fraqueja, derrete-se e se abre por dentro. A mulher quando gargalha, escancara o homem. Faz parte do espetáculo.
Não faço crise por pouco afago. Acometo-me das maiores loucuras em estado sóbrio. Sei dizer que é o momento, reconheço face de quem diz não. Sou enganado por palavras, mas nunca por gestos. Aprendi a ler o rosto e descobrir a conversa expressada, mas só havia o lado avesso. Me fiz marola quando poderia ser maré. Fui lagoa quando restava oceano. Fui casto quando caberia a impureza de uma flecha com mira certa, mas afiada em excesso.
Vamos combinar uma coisa: Saudade, agora, só duas vezes ao dia. E com hora marcada. Havendo imprevisto, avise-me com antecedência.
A mulher vive em busca de um homem que a preencha em todos os requisitos. Se um dia o encontrar, não tardará a deixá-lo. Perceberá que o homem que desceu do céu para adorá-la precisaria, antes, ter feito um estágio no inferno. Só por precaução.
Perfeição é a antítese do amor. Se o teu amor é perfeito, alguma coisa está errada. Ou encenada. Desisti da busca pelo amor estudado e encantado, e me insinuei para as oportunidades que esbarram comigo na esquina, de supetão, tão imperfeitas quanto humanas.