Coleção pessoal de BrendaOliveira
Gosto de palavras escritas ou faladas, ditas ou sussurradas, gosto até mesmo de palavras silenciadas. Acredito que todas são uma forma de representar, temporariamente, apenas uma parte do que se pretende dizer. Portanto, para mim, a palavra não serve para definir, pois definir é limitado. No momento em que digo o que sinto, o sentido do que foi dito já extrapolou a intenção.
Não seja um carrasco de si mesmo e nem obrigue-se a permanecer nos espaços que não te cabem por inteiro.
Cansei-me, não do vento que arrastava-me em meus dias de folha seca, mas da falta de domínio. Decidi onde e quando deixar o vento conduzir-me.Quase sempre funciona.
ESTRANHEZAS DA BUSCA PATERNA
Fui a procura da minha busca, caminhei lentamente, de olhos fechados e coração escancarado. Ansiava por palavras de um amor não dito e não vivido, histórias e pedidos de perdão.
Andei a passos curtos em direção ao abismo, até sentir-me fitada por ele. Pude percebe-lo abaixo dos meus pés, negro e silencioso, absolutamente profundo e atormentador.
Foi o amor que desejava receber, ou ao menos saber que existiu que me moveu, e acima de tudo, o amor que desejava doar.
Quanto vale para um coração pode ser chamar alguém de pai? Eu não sei. Pensar em poder, a essa altura do campeonato, chamar alguém de pai, soa tão estranho quanto rir no funeral de alguém, estranho como rir quando o coração está triste.
Sou serena, sensível e tenho uma natureza extremamente contemplativa. Aprecio apreciar a beleza e a feiura de tudo o que me proponho a tocar.
Gosto de manhãs de sol, de silêncios, de fechar os olhos para sentir melhor o sabor de tudo o que me dá prazer. Gosto de ser boba, de falar besteiras e de esvaziar-me para preencher-me das impressões que o mundo me traz.
Gosto de palavras escritas ou faladas, ditas ou sussurradas, gosto até mesmo das palavras silenciadas. Acho que toda palavra é uma forma de representar temporariamente apenas uma parte do que se pretende dizer. Portanto, para mim, a palavra não serve para definir, pois definir é limitado, mas para nos ajudar a traduzir um pouco do que sentimos no momento.
Minha alma é leve e borbulhante, gosta de se derramar em palavras, pinceladas, toques e olhares, gosta de ressignificar o que conhece e de conhecer o que ainda não alcançou.
Gosto da minha inquietação e dessa coisa que me pede para mudar de lugar constantemente. O que permanece em mim é a mudança, a metamorfose, a transformação. Isso não me faz menos fiel, menos doce ou menos sensível, mas coloca-me em contato com o mundo e com as pessoas o tempo todo, e ao mesmo tempo que transformo coisas, sou por elas transformada.
Sou um ser do mundo e o mundo é um ser em mim.
Que os olhares se caibam
Que as mãos se encaixem
Que os silêncios se respeitem
Que as palavras pacifiquem
Que os corpos tornem-se morada
E os lábios, bálsamo
A minha alma inquieta, inconstante e borboleta, procura abrigo nos penhascos mais altos, de onde possa, após repousar suas asas, alçar voos que me libertem da ilusão de ser.
Desejo permanecer estando.
E quando escrevo, não sou eu a escrever, mas uma parte do meu ser que até eu mesma desconheço.
Enquanto a tinta se derrama, é outra parte de mim que se inflama, buscando, talvez, o meu próprio endereço.
Teu querer deu-me asas, enquanto eu era apenas metamorfose.
Fez-me desejar teu rosto, antes de sentir o reflexo dos teus olhos nos meus.
E desejar teus lábios, antes de sentir teu sabor
Fez-me querer tuas mãos a buscar meu corpo, desvendando-lhe os mistérios
e desejar teu descompasso, antes mesmo de provocá-lo
No encontro de nossas incompletudes desejo aproximar-me suavemente do visgo que prende o meu olhar ao teu.
Quero ser tocada pelo seu encanto de brisa e sentir tuas mãos percorrendo a geografia do meu rosto, em forma de carícia.
Quero silenciar teu verbo com a centelha que guardo em meus lábios e senti-lo pulsante, breve bálsamo que pacifica meu ser.
Desejo repousar em teus braços e ajeitar-me em teu colo, para que minha alma de borboleta possa senti-lo refletido em minhas asas.
Inquieta-me com a centelha de tuas linhas e entrelinhas.
Pacifica-me com teu doce sabor de bálsamo e brisa.
Minha alma borbulhante insiste em não caber em mim, gosta de derramar-se pelos cantos e encantos do caminho.
Sou um pássaro em pleno voo tentando aprender a arte de fazer ninho, desejo pousar minhas asas antes de seguir em busca de outro verão.
Tenho alma de fagulha, eterna centelha e aprecio as incompletudes dos silêncios e das palavras ditas e não ditas.
Tenho a alma leve e suave como a brisa se uma manhã de maio. Gosto da beleza do caminho, mas insisto em construir a minha estrada.
Não é fácil ter alma de borboleta, exige doação e desprendimento.
Busco por metamorfoses que me proporcionem crescer e evoluir, mesmo que as pedras do caminho pareçam maiores que a coragem que estou aprendendo a ter.
Por que é tão difícil não ser igual ?
Por que será que revelar o verdadeiro eu incomoda tanto ?
Por que será que toda vez que eu disser o que realmente ou quase realmente penso serei vista com
desconfiança ?
Por que nessas horas serei tachada de louca ?
Por que é tão fácil rotular e tão difícil tentar entender e se aprofundar nos sentires alheios ?
Por que será que eles não enxergam a pobreza de seus
espíritos vagantes em seus mundinhos pequenos e limitados ?
Por que é tão difícil encontrar alguém que possa compreender o meu espírito ?
Eu lanço um olhar mais profundo sobre os outros e não gosto nada do que vejo.
Sorrisos feitos de gesso que levantam poeira quando se movem.
Olhares perdidos, incapazes de olhar pra dentro de si mesmos.
Pensamentos se digladiando, lutando parar deixarem de existir.
Não entendo que viver é esse.
Não consigo e não quero assimilar toda essa "normalidade" que chega a doer nos olhos.
Quero o meu eu assim como é, criticado, mas vivo.
Desejo uma liberdade capaz de dissipar essa luz cinza que pretende nos impedir de viver e sentir o que somos.
Estou distante de mim agora
Nesse espaço que me subtrai
Sinto que parte de mim se vai
e outra teima em ficar
É um quase choro e um quase sofrer
Nos dias nublados de lembranças
Imersa num imenso vazio
Fico misturada às promessas feitas em vão
na tentativa de esquecer
e de não sentir o que sinto
É tão profundo, tão absoluto, tão sempre o mesmo
que agora começo a desistir
Fiquei perdida no tempo e nas lembranças
Nada disso passou, nada mudou
Sou eu e o meu amor ainda e sempre aqui
Agora somos eu e você...amanhã já não sei o que fazer sobre esse breve estado de "nós". Ainda não aprendi a sentir sem me deixar levar.