Coleção pessoal de breguedo
Nos anos oitenta curtíamos uma música e namorávamos, hoje curtimos um Twitter e deixamos de namorar.
Nunca imaginei que o hino nacional pudesse ser um som tão punk nos ouvidos amedrontados dos políticos.
Quando tudo acabar, ficará a memória que no Brasil, como em Lilipute, pequenos homens levantaram um gigante que estava adormecido.
Tem aquele dia em que estamos desassossegados, é nestes dias que as poesias borbulham dentro da gente. É como se encontrássemos pela primeira vez a mulher da vida da gente. Não só uma, todas elas juntas. É o encontro com a mãe, com filha, com a mulher amada, com a amiga que ocupa lugar especial. Nestes dias não conseguimos fazer nada. Queremos um sorriso, daquela pessoa inusitada no bar quase cheio. Queremos um abraço apertado, daqueles que fazem a gente escrever uma obra prima. Sou daqueles poetas que alegram-se por nunca ter faltado inspiração. Mas eu tenho medo. Tenho medo que as poesias sequem. Tenho medo que o grande prazer que ganho todo dia se perca na serenidade dum dia desses.
DEUSA SEM ESPARTILHO
Estranho pensar em você
Deusa sem espartilho
Sem o cálice de vinho
Sem o olhar de mãe
A beira da minha cama.
Estranho beber de outra boca
Meditar em outra sombra
Deusa sem espartilho.
Passei a noite toda acordado
Enquanto você dormia
Ainda vestida.
Na rua soltavam bombas de gás
Que apenas enfeitiçava.
Foi com suas asas que decolei
Para o pesadelo...
Não entendia porque voava.
E voava sozinho
Depois de discutir sobre Deus
Na obra de Platão.
Não sei mais se Deus
É desejo ou vontade.
Me assusta minha tolerância
Sobre as coisas.
A certeza que tenho
Está velha e desgastada.
Se Deus não é desejo
Eu passo a temer
Minha vontade.
É estranho pensar em você
Deusa sem espartilho.
Quando não há nada no coração
Nem silêncio,
Nem perdão,
Uma voz muda deixa a votação
É que sem opção
A democracia acaba
Justo na eleição
O preso deu fuga, através do seu túnel, para a cambada toda. Mas na hora de ir, descobriu que já havia criado raízes. Estava preso.
A poesia mudou senhores, uma nova escola nasceu. Estamos no tempo dos poemas que cabem em bilhetes de bolso.
Políticos podem tomar o povo pelo laço. Pode trata-lo como gado manso. Mas devem saber que não se brinca com rés desgarrada. Ela não vota mais.
Sou como os pés de uva que nos dias de chuva, trançado no jirau, ainda guardo no doce de meus frutos o recado de meus sentimentos.
Existe um lugar onde palavras não tem importância nenhuma. É quando elas vão embora e ninguém olha. Aí as palavras ressentidas voltam e ficam.