Coleção pessoal de bodstein

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⁠Não existe nada mais improdutivo do que tentar converter mentes pensantes à causa que defendes, por mais importante que se mostre. Tal ação só obtém êxito junto àqueles que, de tão pequenos, precisam de alguém que pense por eles, e só te trará vantagem se teu projeto for de mero exercício do poder apoiado em massas de manobra. Em sendo tuas intenções mais nobres, apenas espalha tuas sementes pelos campos do teu entorno e deixa que os que têm fome venham até elas, que eles nunca mais se afastarão de ti.

⁠Se uma pessoa disser: "Não gosto disso!". e eu apenas pensar no que senti sem nada fazer, não existe consciência. No mínimo preciso repensar minha contribuição para aquilo que ouvi e adotar alguma postura a respeito.

⁠De nada vale reflexão sem reação. Acessada a informação, independente de sua natureza, ela nos cobra uma ação que não precisa ser externa, mas de postura. Se negativa para prevenir um mal maior, e se positiva para dar causa a construções pessoais ou coletivas. Mas sem mudança alguma, ainda que interna, toda reflexão se faz absolutamente inútil, e daí a reação se mostrar indispensável.

⁠Não basta que mantenhamos a cabeça aberta a novas idéias. A forma mais confiável de evoluir é reavaliando as antigas.

⁠É uma luta terrivelmente sofrida, mas nunca inglória. Malgrado a ignomínia e os covardes estratagemas de que fazem uso aqueles que a odeiam, a Liberdade sempre resistirá às tentativas de suprimi-la, emergindo com mais força ainda das profundezas em que tentam aprisioná-la.

⁠O combate mais eficaz à metástase do obscurantismo é fortalecendo as demais células do organismo social com a vacinação em massa da verdade, permitindo-lhes desenvolver anticorpos com base numa informação de indestrutível teor qualitativo.

⁠O câncer do obscurantismo não é uma expressão de retórica. Como qualquer câncer, é uma doença incurável que permanece latente na célula do organismo social por longo tempo e periodicamente escapa do núcleo onde se esconde, espalhando-se descontroladamente pelas células saudáveis para minar-lhes a resistência até a completa extinção da vida. Como todo parasita que se nutre sem nada dar de si – já que mata por natureza – ao final do processo terá destruído o hospedeiro para morrer com ele, sem lógica ou propósito, posto que nunca os teve.

⁠Não é razoável buscar sentido ou inteligência em qualquer tipo de câncer, seja no tecido físico ou no social. Ele sempre vai buscar saltar do núcleo da célula doente para as saudáveis por conta de sua própria natureza, dependendo da condição que encontra à sua volta para definir a direção que toma, a partir das células mais fracas. A fórmula de combate, portanto, será sempre o fortalecimento do organismo como um todo pela educação de suas células, ensinando-as a identificar a ameaça e desenvolver anticorpos que atuem como um exército incansável e vigilante.

⁠Tem dois tipos de prestadores de serviço que tanto empregadores quanto cidadãos comuns não precisam: o dos que não fazem o que prometem, e o dos que só fazem o que prometem!

⁠Para se ter dimensão do quanto somos ignorantes frente à vastidão do universo e seus mistérios, basta lembrar que há apenas quatro séculos da nossa história a humanidade inteira ainda acreditava que a terra era plana, e quem dissesse o contrário punha a vida em risco.

⁠Percebemos a proximidade da sabedoria quando deixamos de educar pelas palavras e começamos a fazê-lo pelos exemplos.

⁠Uma boa parte das pessoas - possivelmente a maior - reserva desde cedo um enorme espaço interior para enterrar as esperanças que vão abandonando ao longo da vida e, uma a uma, deixando morrer. Ao término da jornada se descobrem transformadas num enorme cemitério repleto de esperanças enterradas, com lápides onde epitáfios amargos dão conta da enorme frustração por suas perdas irreparáveis.

⁠Desde Sócrates desenvolveu-se uma crença de que pensadores são seres especiais posicionados acima de todas as fragilidades humanas, daí de se dedicarem a ensinar a fórmula aos demais. Ledo engano! Talvez as tenham até mais pela consciência de suas dores, e de como seus pensares brotam justamente destas, como da ostra machucada surge a pérola. O que os faz diferentes é saber que só encontram alívio para as feridas nas inabaláveis tentativas de minimizar as dores alheias, fazendo que as próprias não tenham sido em vão.

⁠A coisa mais importante que aprendi sobre a “verdade” é que sua comprovação depende muito mais do talento do argumentador de defender sua tese do que da consistência das informações que usa para tal fim. Seja pelo viés científico ou pelo das crenças, qualquer alegação pode emprestar “legitimidade” a uma tese bastando que seu defensor seja habilidoso o bastante para reunir os elementos que a sustentem, assim como encaixamos uma peça no quebra-cabeças não pelo seu formato – igual ao de outras – mas pela imagem que queremos exibir no final.

⁠Toda a herança que deixo ao mundo não vai além das sementes lançadas ao acaso da janela desta velha maria-fumaça, mas que, determinada, desliza célere pela linha férrea da minha vida até sua estação final.

⁠Alguns fazem uso da filosofia como quem decora uma taboada, sem nunca explorar a fórmula que os aproxime de onde a experimentação pode conduzi-los.

⁠Libertários permanecem vivos por abrir picadas que os que chegam depois transformam em avenidas.

⁠Esse Deus que me foi apresentado por Epíteto já existia dentro de mim sem poder dizer se mais alguém dele soubesse como eu o concebia. Homens como Epíteto e Spinoza, no entanto, chegam para dar forma a esse fenômeno de difícil compreensão: ainda que tantos possam trazer em si exatamente aquele que trazemos em nós, ele nunca será o mesmo para todos, o que faz de Deus um ser único e, ao mesmo tempo, plural, permitindo a cada qual viver a experiência do macro em seu próprio microcosmos.

⁠Obcecado pelo processo da evolução humana, ainda persigo a resposta de Epíteto às imperfeições ìnternas e do meu entorno, pois que ainda me machucam as críticas maldosas dos incrédulos às melhorias conseguidas por empenho da vontade. Se dependesse dos “arautos do apocalipse” elas não teriam acontecido desde os tempos bíblicos, e basta ampliar a visão míope que se traz do contexto sistêmico para constatar o oposto. Escolho portanto a de Suassuna, ao dizer que “o otimista é um tolo, o pessimista um chato, e bom mesmo é ser um realista esperançoso”.

⁠Político honesto não é o que diz tudo o que pensa, mas o que faz o que deve, notadamente quando não diz nada!