Coleção pessoal de BentoQasual

41 - 60 do total de 45 pensamentos na coleção de BentoQasual

A Verdade Virou Pecado. (O Pecador).
-

Nós somos enganados desde cedo.
Primeiro somos enganados sobre o papai-noel e o coelho da páscoa.
Depois vem a mentira que nossos pais viverão para sempre, nos enganam quando dizem que todos os nossos sonhos serão possíveis como ser médico, advogado ou astronauta.
E por fim a pior e maior mentira de todas é que sempre devemos dizer a verdade, a todo custo. Vamos pensar nessa como a mentira original, enquanto estamos sendo enganados a vida segue seu ciclo sem problemas, mas quando finalmente a verdade nos é revelada as coisas mudam de figura.
A verdade perde todo o seu valor quando dela vem à tona os defeitos da vitima da verdade, a verdade faz mais vitimas que a mentira. Dizem que ninguém gosta de ser enganado, isso é outra mentira, nós amamos ser enganados, somos dependentes da mentira e a abstinência dela traz sérios riscos a nossa saúde mental, são incontáveis traumas psicológicos quando a mentira é revelada, por isso imploramos todos os dias por uma boa dose diária de mentiras e quando não as temos mentimos para nós mesmos, isso é a mentira canibal. Isso acontece quando nos é injetado doses de verdade em nossa corrente sanguínea.
Ora, o objetivo da verdade é nos desintoxicar da mentira como uma droga, como o efeito do álcool é curado pela glicose, e todos sabemos que quando isso acontece vem à ressaca. A ressaca da mentira causa mais dor de cabeça que a vodka, além dos distúrbios que já citei anteriormente.
A verdade traz nossos defeitos a tona e para quem ainda não sabe grande parte dos meus textos tem o intuito de trazer exatamente os defeitos, inseguranças entre outras coisas do autor, todo aquele blá, blá, blá citado nas mesas de bares quando estamos alcoolizados por escrito e dividido apenas com aqueles que desejam ouvir (ler), logo meus textos são feitos de verdades, minha verdade. Sendo assim não exija que eu minta, perderia todo o sentido da escrita, afinal qualquer um pode mentir, falar a verdade é mais complicado.
Eu me considero um amaldiçoado pela verdade, aquele que não tem opção a não ser falar a verdade não sei mentir, um mentiroso tem que ter boa memória e a minha é péssima.
A verdade é ereta, sublime e linear. A mentira é cheia de curvas, atalhos, placas de sinalizações, é preciso um mapa para se achar na mentira por isso não conseguimos mentir quando bêbados, nem dirigir.
Mas se querem minha opinião continuem mentindo, é melhor ser um puxa saco e enganar seus amigos do que ser um sincero convicto e ter que se desculpar com eles por falar a verdade.
A verdade virou pecado.

Bento.

O Pecador.
-


Eu sempre procurei um bom lugar pra me esconder
De todo mal, que fiz.
Todas essas desculpas que eu uso pra me perdoar não faz sentido.
Nunca me dou razão quando eu discuto sobre o mal você que fez, pra mim.
Eu sinto-me culpado por deixar o meu destino em suas mãos, repetindo.
O mal que você fez, diariamente.
É como renascer pra morrer novamente.
Sei que não existo, não sou real
Sou como história sem um herói no final

Jamais irei me convencer de que o mundo não servirá mais, pra mim.
É tão comum faltar o ar pra respirar, lutar pra continuar não faz sentido
De que vale o ouro se teus olhos agora olham para outro. Em vez de mim.
Andar sobre as águas já não me impressiona eu quero transformar a água em vinho
Pra me embriagar, sei sou tão mortal
Sou como todo homem que causa o próprio mal
Eu bem que te avisei, sem você não há sorriso
Sou como a morte sem haver um paraíso.

Bento.

A Moça e o Quarto.
-



A moça saberia a história de todos os livros na estante de cor de tantas as vezes que leu.
Saberia a grade da programação da TV e também a do cinema.
Vinte quatro horas para ela pareciam trezentos e sessenta e cinco dias em um só, sozinha inventava histórias narrando aos seus próprios ouvidos para distrair.
Só olhava para fora da janela quando ouvia a chuva, nesta hora lembrava-se de Rapunzel com suas tranças e sentia o estomago arder de tristeza, seu cabelo era curto demais pensava.
O final de semana parecia segundas-feiras e as segundas-feiras eram sempre piores, só não piores que o domingo.
Viajava pelo mundo pela tela do computador e adora visitar aquele café em Londres na Rua Westminster sem sair do quarto, podia até sentir o cheiro de café fresco.
E assim passavam os dias sem passar, um dia após o outro sem mesmo saber em qual deles estaria.
Farta de tudo isso a moça resolver fazer algo de diferente, apimentar um pouco seus dias, mudar a rota do relógio que só girava, girava e não levava a lugar algum.
Escreveu uma carta, praticou uma caligrafia diferente para que não soubessem que somente ela estivera ali, na carta havia ameaças e um pedido de resgate, era um auto-sequestro. Colocou algumas roupas na mochila apressada e forçou o batente da porta para que parecesse uma invasão, deixou a carta na mesa da cozinha e se foi em sentido ao centro da cidade. Lá procurou um hotel barato para ficar e instalou-se.

Alguns dias se passaram e a moça não recebeu sequer um telefonema no número de telefone que havia deixado na carta, nenhuma noticia na TV, nem nas rádios e nem na internet. Passaram-se mais alguns dias e já faziam quase um mês do seu desaparecimento e nada, apenas uma mensagem da operadora do celular novo dando as boas vindas.
Muito mais triste do que antes a moça resolveu ligar para a policia e denunciar seu auto-sequestro se passando por outra pessoa, uma que estivesse preocupada com sua situação, discou os números e no primeiro toque desligou o telefone.
De que iria adiantar? Mesmo que a achassem não teria ninguém esperando do lado de fora do hotel barato, nem ao menos um colo para chorar e contar sua história.
Voltou para sua casa.

Bento.

Móveis Usados.
-


Outro dia me perguntaram se eu era feliz.
A minha resposta, por motivos que não sei ou talvez não almeje explicar eu não direi aqui.
Nós nascemos, vivemos e morremos, e nascer e morrer é a parte mais fácil.
O que eu não entendo é, porque somos obrigados a sermos felizes?
Onde é que está escrito que seremos felizes?
Alguém em algum lugar garantiu isso como é prometido um bom desempenho do seu computador novo, ou a economia de energia da sua geladeira nova?
A vida não tem manual de instruções assim como também não tem garantia.
Você não poderá reclamar com o fornecedor ou fabricante por que nada lhe é prometido. Então porque essa obrigação? Porque temos que ser felizes? Os aparelhos de TV deixam de existir quando o controle remoto quebra? Um armário deixa de ser armário quando aparenta defeito em uma gaveta? Quando nascemos temos cinqüenta por cento de chances de sermos felizes ou não, os cinqüenta por cento que não são param de funcionar ou são colocados a venda e substituídos por outros mais novos e de tecnologia superior?
Tudo bem, eu posso concordar que surge um pingo de inveja quando os móveis usados passam em frente às vitrines e vêem as ultimas novidades em felicidade dos outros cinqüenta por cento de móveis sendo disputados por uma odisséia de compradores e seus carnês de doze ou vinte e quatro vezes sem entrada, sendo anunciados por vendedores vestidos de Silvio Santos com microfones em mãos a contar as vantagens dos móveis felizes que acabaram de sair do forno.
Porém, ainda acredito que há espaço para aquela poltrona velha, com um calço em um dos pés e forro rasgado em algum canto de qualquer casa.

Bento.

FELIZ CARPINEJAR

Feliz aniversário!
Dia dezessete de julho, minha vontade de comemorar era exatamente nula, zero e nada mais.
A negativa de comemorar o que não era para ser comemorado, afinal um ano a menos para se fazer tantas coisas, já era uma coisa comum dentro de minha mente, o difícil era só explicar aos parentes e amigos, pois minha vida parece sempre tão mais atraente aos olhos alheios.

O “Feliz Aniversário” já não é mais um desejo, é mais um cumprimento, uma força de expressão. Aniversários não são felizes, é o aviso de chegada dos cabelos brancos, das rugas, das responsabilidades e cobranças por empregos, compromissos, família e etc. Etc. Etc.

Em um desses dias dezessete de julho recebo de presente um livro desconhecido, atraente. Pelo tamanho já pensei que poderia lê-lo em poucos dias. Porém quando vi o titulo me senti ofendido.
Como pode essa insinuação tão mesquinha, deprimente, tão comum talvez. Uma rebeldia disfarçada com um toque de originalidade admito, afinal era a primeira vez que era ofendido através de um livro, mas mesmo assim só gosto de joguinho no flerte, fora isso insinuações são desnecessárias. Ou diga logo o que pretende ou cale-se, insinuar é covarde.
O livro que eu recebi de presente foi o “Canalha!” de Fabrício Carpinejar.
Se fora a dona do presente, ficou o presente. Amei o livro, já li três vezes. Não me arrependi pelo prejulgamento porque acredito que nem a dona do presente conhecia seu conteúdo.
Pensei em devolver o presente com “Mulher Perdigueira”, do mesmo autor, mas ela não merece tanto.

Bento.