Coleção pessoal de Babiw
É, com a nossa história meu bem, metade eu quero pôr no lixo, a outra metade eu quero esconder. Mas desde quando eu tenho as coisas eu quero? Nem você eu consegui fazer ficar aqui. Vai saber que fim vai dar meus sentimentos, ou minha memória, e mais aquelas coisas que eu ainda tenho aqui, mas que nem por isso são minhas, assim como você.
[...] A verdade das minhas pretensões é que elas não são exatas, sendo assim me conformo com um absoluto talvez. Mas quem culpar pelas minhas próprias inconstâncias? Não há promessas pra que eu possa cobrar, não há planos pra que eu possa desistir. Não há nada e, por isso mesmo eu não desisto, seja lá do quê, seja lá de quem. [...]
Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir
Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir
Quem acolher o que ele tem e traz
Quem entender o que ele diz
No giz do gesto o jeito pronto
Do piscar dos cílios
Que o convite do silêncio
Exibe em cada olhar
Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar
Achei
Vendo em você
E explicação
Nenhuma isso requer
Se o coração bater forte e arder
No fogo o gelo vai queimar
Pra você guardei o amor
Que aprendi vendo meus pais
O amor que tive e recebi
E hoje posso dar livre e feliz
Céu cheiro e ar na cor que arco-íris
Risca ao levitar
Vou nascer de novo
Lápis, edifício, tevere, ponte
Desenhar no seu quadril
Meus lábios beijam signos feito sinos
Trilho a infância, terço o berço
Do seu lar
Acho que o altruísmo de suas ideias não deixam ele ver que a singularidade dos detalhezinhos daquele corpo ocupam um espaço insubstituível nos meus planos.
A coisa. O que deixa tudo com cara de metade. O que coloca três pontinhos na última palavra. A coisa que dói e consola simultaneamente, incessantemente. A paz mais triste. O inferno silencioso que ofusca os sons da rua. A coisa. As sobras dum passado. O prato principal da cabeça vazia. A coisa que faz sonhar um pesadelo suportável, mas que não termina quando desperta, porque nunca dorme. Nem morre. A coisa linda que eu quero esquecer. A coisa podre que eu só sei lembrar. A coisa essa que não dá pra alcançar com as mãos, mas vive do meu lado o tempo inteiro. A coisa que vê o que eu não enxergo. A coisa que fala o que ninguém ouve. A coisa que toca e não tem calor, mas arrepia o corpo todo. E que não pesa o lado da cama, mas dorme comigo toda noite. A coisa que existe sem querer. E que quer o que não existe mais. A coisa que quase não tem nome, não fosse a criatividade do brasileiro em inventar pra coisa, uma palavra: saudade.
Só posso contar agora dos meus pensamentos enquanto caminhava em direção ao prédio dele, meia noite e meia, com um cd e uma carta na mão. Apesar de ter avisado que eu estava indo, estava preparada pra me lamentar depois por ter gasto minha maquiagem pro porteiro. Pra minha satisfação ele me esperava lá embaixo. Agora começo a perceber que não importa o quão terrível a situação seja, quando a gente se olha sempre escapa um sorriso. Bom sinal.
(...) Mas a cada coisa que eu amo, são as mesmas das quais ás vezes eu fujo. Não por fraqueza, mas por medo de querer demais e enjoar. Ás vezes sinto que gasto muito amor com certas pessoas. E se esgotar meu estoque de felicidade extrema? O que vem depois disso? Não é o tédio? Tenho medo que amor seja que nem um jogo de videogame, então, ás vezes paro de jogar pra não correr o risco de decorar as fases. Você entende?
"(Re)Começar quantas vezes for preciso. Apago e dou inicio a outra coisa. É necessário, é urgente. Acontecimentos passados são tão desprezíveis quanto qualquer outra coisa que não esteja aqui e agora. É tudo descartável do ontem, eu não quero mais. O remorso não me encanta, nem a saudade. Os nostálgicos que me perdoem, mas a minha memória é tão pequena quanto a vontade de olhar pra trás."
Eu não tenho menos medo que você. Talvez eu tenha mais coragem, mas nunca menos medo. Talvez eu tenha mais amor, mas nunca menos medo. Talvez eu tenha mais vontade, mas nunca menos medo. Talvez eu tenha mais motivos, mas nunca menos medo. Eu não tenho menos medo que você, mas talvez eu tenha bem mais de todas as outras coisas.
Mas, sabe, pra mim, cê vai tá sempre aqui pertinho, abraçando meu coração toda vez que eu não conseguir me abraçar sozinha. A mão que não vai poder me segurar do tombo, mas que vai sentar no chão comigo pra distrair a dor das minhas feridas.
Morrer de saudade é quando a saudade que morre, não você. Então, sem hipocrisias, eu vou sentir muita saudade, uma bonita saudade, uma doída saudade, mas não vou morrer dela, porque ela também nunca vai se acabar.
E eu tinha esquecido de te falar que eu nunca soube o que aconteceu. Com nós dois. Uma quase história, um quase amor, uma coisa quase bonita. Eu não sei o que aconteceu, eu apenas abri os olhos, me fiz essas perguntas, e não consegui mais fechar, nem meus olhos, nem aquelas velhas feridas.
Tudo isto parece estranho e falso, e eu não vou disperdiçar um minuto sem você. A raiva me corrói por dentro, mas eu não vou sentir esses pedaços e cortes porque eu preciso abrir seus olhos pra que você olhe dentro dos meus. Me diga que você abrirá seus olhos. Levante, vá embora, saia de perto dos cegos, porque eles não tem sua alma ou sua chama. Pegue minha mão, entrelace seus dedos entre os meus e nós sairemos deste lugar escuro pela última vez. Cada minuto a partir deste agora nós podemos fazer diferente. E eu quero tanto abrir seus olhos, porque eu preciso que você olhe dentro dos meus. Então, me diga que você abrirá seus olhos. Porque hoje tudo parece estranho e falso, mas eu náo vou desistir um só momento de você.
Eu não tenho recompensa nenhuma pela minha obsessão, e talvez seja essa a moral de paixão não ter preço: Qualquer coisa que ele dê em troca, que não seja ele mesmo, nunca vai ser suficiente.