Coleção pessoal de AugustoGalia

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Manifesto da Ascensão Cósmica: Rumo ao Desconhecido

Diante da imensidão cósmica que me envolve, observo a Terra, este berço de humanidade, a partir de uma perspectiva transcendente. Vejo a mesquinharia das disputas, a pequenez das vaidades, a efemeridade das conquistas terrenas. Neste momento, reitero meu manifesto de renovação consciente, mas agora com olhos voltados para o cosmos, para o desconhecido que aguarda ser desvendado.

Aqui, desligado da gravidade que nos prende à matéria, sinto o chamado para um reino onde a mente e o espírito se libertam das correntes que nos acorrentam à mediocridade. O astronauta se torna um símbolo, uma personificação do ser humano em busca de respostas, explorando o inexplorado, confrontando o desconhecido.

É uma jornada para além do concreto, do palpável, rumo a um domínio onde as possibilidades são tão infinitas quanto as estrelas que pontilham o vasto manto negro do universo. O mundo da lua, um recanto metafórico, resguarda o encontro dos deuses e deusas, onde a sabedoria cósmica se entrelaça em um abraço etéreo com a curiosidade humana.

Conforme me afasto do orbe terrestre, abro mão do peso da responsabilidade que o mundo impõe sobre os ombros de cada ser, almejando encontrar, nas profundezas do espaço, uma nova compreensão que cure as mazelas da mente e do coração humano. É um anseio por desatar os nós da loucura e da tortura que infestam a alma, pela descoberta de uma criatura inteligente que detenha as respostas para as inquietações que nos assolam.

A Terra, com suas lutas incessantes por espaço, com sua sede insaciável por reconhecimento, parece agora um reino distante. A vida por aqui tem se tornado uma sequência de tiroteios cegos, onde os seres humanos, desorientados, buscam a salvação olhando para o alto, na esperança de um sinal divino.

Enquanto me preparo para a decolagem, para a viagem rumo ao desconhecido, desfaço-me das amarras digitais que nos mantêm aprisionados em um ciclo interminável de desinformação e descontentamento. Deixo para trás o computador, símbolo de uma conexão superficial, e busco uma conexão mais profunda com o universo, com o desconhecido, com o potencial inexplorado que reside em cada um de nós.

Nesta ascensão cósmica, carrego comigo o manifesto inicial de renovação consciente, mas agora com uma visão ampliada. O universo se torna um campo fértil para a inovação que se alinha com os princípios eternos da existência. A busca por respostas se torna uma peregrinação espiritual, uma jornada de descoberta que transcende as limitações terrestres.

A revolução que almejo não se restringe ao domínio digital, mas permeia o espiritual, o cósmico. Busco, nas estrelas, as respostas para as perguntas que nos atormentam, a cura para a doença que aflige nosso planeta, a esperança que necessitamos para transcender a ignorância e a ambição que nos cega.

Diante do desconhecido, aceito o desafio de explorar, de buscar, de aprender. Não mais serei silenciado pelas convenções, extorquido pelas expectativas, ou sabotado pelo medo. Com o coração destemido e a mente aberta, embarco nesta jornada cósmica, rumo a uma nova era de compreensão e crescimento.

E ao deixar a Terra, levo comigo a determinação de ser um catalizador de mudança, um portador da luz da consciência, um visionário com os olhos fixos nas estrelas, pronto para descobrir, para evoluir, para ascender. É um manifesto de esperança, de coragem, de inovação, um chamado para que todos ousamos transcender as fronteiras conhecidas, e nos aventurarmos no domínio do desconhecido, onde as verdadeiras respostas aguardam ser descobertas.⁠

⁠Bestas Humanas

Avisto o singular na adjacência dos infectos olhares.
O mundo não acredita em visões.
Como se opor a eles?
A quem, senão aos homens?
Como me defender se a minha boca está ferida!
Os meus lábios cortados como ameias.

Diante do meu corpo eu vejo dor.

Sou fraco por excelência.
Grito por socorro! - Quem me protegera?

Amparo falsário.
Nada de palavras.
Nada de fugas.
Nada de porcos a refocilar o meu quintal.

Aos fracos, restam os cadáveres banhados ao ouro.
As almas lúridas e repletas de musgos.
Permaneça-te incrédulo e cousa alguma te parecerá estranha.

Se tudo é natural; se tudo é coincidência.
Para que tanta filosofia e para que tanta ciência?

A símplice: Porque o mundo gira!
Como não haveria de girar, com tantos excrementos o cercando?
Até para o mundo se há efêmeras fugas.

O mundo marcha; exceto o criador!

Longínqua marcha aos passos de um leopardo com longos pés de urso.
É bíblico. - Marchar progressivamente faz-se necessário.

O mundo giraria se não houvesse filosofia? - Ele jamais girou sem ela.
Duas pessoas não conversam por mais de dez minutos sem cair na metafísica.

Repetem-se as buscas e necessidades.
É preciso celebrar a idiotice humana.
As visões e todas as descrenças; celebrem-nas!

Não se pode batalhar hostil aos impulsos incontestáveis do espírito.
Recordo-me de haver visto o mundo a sangrar em minhas visões.
A se esvair como os meus pulsos.

O sangue sempre verte além do que supúnhamos.
Acordo-me: Consciência é uma das poucas faculdades que se me restam.

⁠Estrada

Sejamos sérios, - meus senhores.
Para que a caminhada aufira algum préstimo,
Ainda que o êxito derradeiro seja a fatalidade da morte.
Faz-se necessário a nossa imprudente e farisaica desunião.

Sou o residente de um incipiente trâmite.
princípio das veleidades paternas.
criação de um desejo ábsono ao meu.

Não! – Não sou o único!

O mundo tramita inartificioso e irrealizável no itinerário. Altercando insaciavelmente na batalha.

Que tem por fim único: - A busca de novas paisagens.
O caminho é árduo e somos muitos.
O tropel prossegue inefável na fantasmagoria que insiste parecer real.

Que fazemos, nós? Alimentamo-nos de ilusões!
Perdidos no onírico de vários caminhos e de uma única saída.
Ah, a morte! A morte! Há novos caminheiros e ela permanece.

Nos caminhos que passam diante dos nossos olhos!
Nos sentidos que vagam ínterim as nossas almas.

Antigos amores, glórias juvenis, avaras riquezas,
Exímia é a riqueza.

Absolutamente em tudo, recordar-se-me-á a estrada.
Demônios e anjos! – Todo tipo de raça e imaginações.

Enfim, mortos e sepultos nos corações humanos!

⁠Homem!

Se a tua tirania fosse semelhante a do domador de leões;

Serias então, servo do teu próprio espírito.

Serias dominado por aquilo que acreditas
E eu seria por aquilo que acredito.

Juntos; Seriamos um poço de crenças inúteis.

⁠Decrepitude

Os meus flagícios são inumeráveis.
Encontro-me e estou perdido.
De resto, sou sempre outro.

Tenho imaginações acriançadas.
Sendo o mestre em tapeações.
Bebo o veneno cálido das flores.
Feridas das minhas ignaras pretensões.

A prova de que sou inerte.
O espírito advém da misantropia adiafórica à minha senilidade.
A minha alma possui cem anos.

Homens, a vós que despedacei os corações;
Unam-vos e comemorem a minha condenação eterna!

Corações despedaçados!
Julguemos juntos às estranhezas da natureza humana.

Cicatrizes distintas das feridas deslocam-se em injúrias.
O espírito resplandece do Averno matutino.

Cala-te! Digo aos meus ignaros pensamentos.

Findam-se as falsas crenças na ilusória sapiência emérita.

Gritos trifásicos aos septívocos ouvidos fatigados.
Sepulto em meu coração os pensamentos ignaros.

Cem anos de inglória existência e não me compreendo.
Tolices da libertinagem eterna!

Sobejas vencidas da minha carne jazem aos funéreos sepulcros canibais.
Devoram-me os cavalos de Diomedes.

Demônios me libertem!
Não devorem um corpo que jamais os pertenceu.
Se a carne é do espírito, o meu, encontra-se infecto em prantos deíficos.

Foi preciso navegar dentro do próprio sangue!
Consumir-me dentro de minhas crateras vulcânicas vitais.
Mergulhei em lágrimas que me são desconhecidas.

Afrontei o desconhecido, presenciei todas as ilações e todas as crenças.
Conheci os ensangüentados mares da vida!
Cujos prazeres maiores eu descobri ao término da longínqua travessia.

Com o meu peito na escarpa repleta de anjos!
Construí festins comemorativos às visões que fiz.
Estranhos corroam-me com esmeraldas e ouro maciço.
Protejo as vossas frontes de possíveis idéias colossais.

Danças, gritos, bailes ilusórios!

Perpetuo em meu inquieto leito de perguntas sobrenaturais.
Provinda da minha funesta amálgama craniana.

Perverto a imagem agradável dos prados!
Venturas únicas de frutos fantasmagóricos,
Visões profanadas, insistentes na falsidade do real.
Paisagens sempre afáveis aos olhares humanos.

Façamos todas as perguntas imagináveis.
São inumeráveis as respostas da existência.
Eternas dádivas compreendidas unicamente pelos visionários.

Se há na vida limites, só na morte a ultrapassagem é permitida.
Incoerências às minhas próprias palavras!

Concepções fluentes e absurdamente improváveis.
Os pensamentos não mais caminham na mesma direção.
Eis a formação do contraditório.

A dúvida inicia o pacto sangrento com o espírito interrogatório.
Os ritmos não são os mesmos, toda época tem um ritmo.
Por sorte não nasci na época certa.
Que ritmos possuem a alma de um homem que se mutila em próprios ideais?

Às perguntas são inumeráveis!
Sou um infeliz viajante com alma funesta.

- Perguntas, perguntas, elas são infindas!
Hiulco o meu espírito e não se há ninguém para confortá-lo.

⁠Fanado

A minha vida é um resumo fatídico do que os outros nunca foram.
Sou a última folha rasgada de um livro invulgar que nunca existiu.

Inspiração para quem jamais presenciou nada além de folhas.

Depois de pensar nisso tudo, retorqui de uma sucessão de coisas!
Que para cada nova coisa encontrava outra grande nova sucessão!

Concluí que não foram poucas as vezes em que ouvi da mesma boca...
Que outrora me dizia "eu te amo" e hoje me diz: "Odeio-te!" – Sempre em um tom mais elevado.

Declarei-me culpado dos meus erros.
Livrei-me dos erros que cometeram os outros.
Por que sou eu sempre o culpado pelo peso do mundo?

Meus ombros estão mutilados pela vida.
Todo o cansaço e o calor que o meu corpo suporta terminou.
Não há forças para pugnar com o cansaço que tem sido existir.

⁠Assistolia

“Aos ruídos criam-se as piores obras.
Também criaste assim a humanidade.
Inexoráveis construções da idade.
Que construístes com pequenas sobras.”

- Que me adiantou a mascara de forte?
A nova epiderme? Fidúcia às falsas formas,
Nas horas agonizantes, sobretudo, na falsária salvação.

O meu coração é um escrínio coutelho sem préstimo algum.
Glorioso dos sonhos empíricos de que nunca participou.
Viridário que se alimentou da vida de que viveram os outros.

A minha vida e todas as minhas idéias mal tomadas,
Foram esquecidas como aos rumores cristãos.

O meu altruísmo se escondeu sob a máscara da religião.
Desmascarei-o quando já estava adepto às calamidades.

Eu não consisto à palermice eterna.
Todas as verdades são desagradáveis.
Salvo as tenras verdades.

Quantos são semelhantes a mim?
Fies conhecedores de caminhos inauditos,
Nobres! - Nobres como eu, quantos?

Sou um forte padecente do suplício.
Quantos homens não se perderam, nos mesmos caminhos.
Jornada estreita; esmagadora dos corações sem raças.
Este abominável exemplo de maldade!

Que são para mim essas nódoas sanguíneas,
A se acumular entre os espaços insondáveis,
Do meu receoso coração que busca um refúgio?
O suplício! O suplício!

⁠Mordomo Querido

Uns meses que parece eternidade,
Como os meus versos de palavras frias,
O seu ceifar, entre murmúrios e saudades,
Nas vísceras da vida, a criar na dor suas sintonias.

À inevitável senda, em palavras dissonantes,
Testemunha e vítima das desventuras terrenas,
Percorrendo o espectro das existências distantes,
Num poema sem eufonia, rimas atrozes ou pequenas

Que no além, sejas agora o eterno guardião,
Das memórias vivas, dos feitos e desfeitos,
Entre a terra e o além, numa eterna transição,
Meu mordomo querido, meu amigo eleito.

Descansar? Paz é utopia, e no além não há sossego,
Paulo, mordomo querido, na eternidade de um enredo,
Guarda-nos de teu posto, nas sombras do teu eterno apego.

Sob constelações, teu serviço é divino fadário,
Além da vida, és guardião, nosso eterno secretário,
Na penumbra etérea, permanece o teu legado.

⁠Os Homens

Jamais enxerguei a vida como os outros.
Não ter pai e mãe, é como ser um cego.
Desenvolvi sentidos que os outros não desenvolveram.

Mas estamos todos no mesmo barco.

Os homens precisam entender o que é que estão a fazer aqui.
A heautognose é uma faculdade reservada inteiramente a Deus!
O igualitarismo é um escárnio à inteligência.

O homem é a fagedênica mortífera da humanidade.
A hierarquia não risível é a de que o homem nasceu para amar!
Mas não é forte para mergulhar na própria realidade.
Os mares da vida trazem insondáveis turbilhões.

Aos fracos, resta acreditar que tudo anda sempre belo.

O destino é aquilo que acontece.
Não é aquilo que está predestinado a acontecer.

O destino dos homens será sempre a solidão.
Ao fim, estaremos todos sozinhos e abandonados.

A vida é um teatro com atores magistrais.
O exímio será sempre o que melhor fingir!

⁠Século De Mãos

Cada criança que nasce é um tumúlo,
Que se abre no útero da sepultura,
Da consciência intra-uterina da alma humana.

Nascer é ser parte do fatídico da vida.
Viver é provar que a degradação não é congênita.

Ó caminhos da existência sobre a vereda da morte!
Ah, mãos da minha infância!
Da infância que ainda hoje sou.
Da adolescência que não tive.

Mãos que sustentam outras mãos.
Ah! – Deus! Deus! Deus!
Por que ainda fecunda-nos com mãos infantis?
Mutilações, substituições! – E sempre novas mãos!

E quanto a mim, que sou outra criança?
Então é uma criança a cuidar da outra?
Deus! – Há na terra um pacto de mãos.

As mãos infantis ardem!
O dramaturgo da vida é Deus.
Minhas mãos estão cansadas de tanto rezar! Abro-as!
Renego a tudo – Aos gritos!

– Mãos oriundas da criação do orgulho a dois.
Progenitores de séculos de mãos!
Não, eu não preciso de mãos para me proteger.
Talvez precisasse de Deus...

Mas cadê Deus? Onde está Deus?
As desgraças sempre foram distribuídas entre as mãos humanas.
Eu estou sozinho e o evangelho sumiu.

⁠Ascensão

Eu jamais desejei a ascensão paradisíaca.
Mantive-me isoladamente no declive infernal.
Ao longo dos anos, arrojei-me nas nuvens.
Como um espectro, passei a sondar aos homens.

Descobri que enquanto uns mutilavam-se
Outros examinavam os céus em busca de salvação.
O suplício de um concebia a salvação de outro!
A cada revolutear havia uma alma padecente.

Lastimoso me declinei do heurético pedestal.
Esvoacei até ao inferno para salvá-los.
Já na terra: Cuidei das almas padecentes do universo.
Estendi os meus braços e lhes ofereci a salvação.

Mas não havia ninguém disposto a ser salvo.
Só encontrei feridas e revoltas em seus olhares.
Revoltas que encobrem as pútridas faces humanas.
Contei-lhes todas as minhas histórias inauditas!

Mistérios recônditos que a própria ciência desconhece.
Na minha literatura, a ciência não significa nada.
A minha única ciência é a de que ela em nada me serve.
Mas isso tudo foi há cem anos.

São lembranças dos meus versos arcaicos.
Do meu tinteiro inconsciente olvidado ao chão.
Eu, que há um tempo inumerável os venho acumulando.
Literatura de restos pútridos do meu passado.

Sarcófago fétido que esfossilizei na busca do enigmático.
Longínquos caminhos percorridos na soberba solidão!
Para um gênio visionário como eu: Não se há veredas.

Os caminhos de outrora foram ocupados pelos repugnantes pés humanos.
Então se um visionário for realista; os demais serão sonhadores?

E quem sou eu? – O filho pródigo da condenação?
O visionário da indolência das lembranças?

Um pusilânime a vangloriar-se dos ilusórios castelos!
Turrígero enobrecido à base de mentiras!
Logo eu, que outrora renegava a todas as mentiras.
A toda causa dá-se um nome.

Eu provei os maiores mistérios!
Hedonismos poéticos!
Palcos irrisórios
Libertinagens profanas.
Vinhos de excelentíssima qualidade!
Ópio ocidental.
Cachimbos estrangeiros.
Ervas tolhidas,
Haxixes caseiros
Todos os prazeres artificiais eu conheci.

Máxime Papaver, afável Somniferum.

Findado os prazeres, adestrei-me na compreensão dos homens.
Depois de tê-los compreendidos; – Instrui-me a odiá-los!

Os homens! Esta raça deplorável que conheço por completo.
Sou o grande mestre das descobertas do espírito humano.

Incansavelmente cruzei os portões do desconhecido.
Penetrei avante dos rochedos dos bosques da alma humana.
Os abismos ensangüentados dos homens são desagradáveis.

Jamais me descerá a máscara de forte!

Envergonhar-me-ia se vissem o meu rosto assemelhado ao deles.
Protejo-me com os espelhos cegos da humanidade!

As cordas espirituais precisam de novos exercícios.
O relógio eclesiástico diz-me unicamente às horas da escravidão.
Renego a toda escravidão de espírito.

O evangelho desregrou-se do altruísmo há milhares de anos.
Indolente! Encontro-me no mais frenético devaneio.
As minhas alucinações me fazem um homem agradável.
Mas o instinto faz com que o agradável seja rejeitado.

Sou um nefelibático inesgotável de concepções e vontades.
Transformo-me em corvo levípede com longos olhos.
Alífugo o suficiente para avistar a terra dos homens errantes.

Seca-me ao rosto lágrimas de toda uma geração.
Lágrimas que não são somente minhas.
Desarmo-me a favor do sacrilégio.

Tornei-me o grande senhor dos vermes.
São meus escravos: Mando-os e obedecem-me agora.
Limpo o meu corpo; minhas axilas estão limpas.

Defectíveis pensamentos.
- Aspirações tornam-se idéias reais.

Ó imaginações! Qual véu não encobre a face aos olhos humanos?
O cérebro tece; ébrio, inebrio! - A dança das palavras saltitantes.
A minha cólera conduz-me a admiração pelas formas.

Formas insolúveis são depressivas ao espírito criador. Jamais deformarei o nada.
Ao fim, parece-me tudo morto como sempre. Sanam formam uitae tenete!

⁠Metafisicamente

Tenho uma lembrança de todas as memórias que esqueci há pouco.
O absoluto da vida que me foi exposto; hoje, não significa nada.

Se eu pudesse ver além do horizonte: - Talvez fosse feliz.
Talvez pudesse ter evitado todos os erros da minha vida.
Mas se assim o fosse, que gozo teria?

Metafisicamente estou a viver do impossível.
O dispensável em mim é o irrealizável nos outros.
Assisto a vida como a uma possibilidade.

Tenho olhos algures! No futuro e avante!
Sempre em frente e jamais a desviar o meu olhar.
Estou firme e justo, forte e bruto. – Fiz-me assim.

Quem se esquece do que tem, começa a lembrar do que jamais teve.
O que não nos completa: É carência! – Até mesmo a falta dela.

Obstinado, quero somente aquilo que é hodierno!
Não me apeteço em solidões.

– Marchar, marchar, marchar. Eu nunca estou parado!

Eu e a minha senil consciência!
Inquietada pelos fatos e robusta a progredir.

⁠Digressão

Estou envelhecido de viver. – Para mim, a vida basta!
A minha alma é um relógio sem cordas
Cuja única função é a de marcar lamentações
Semelhante a um cachorro, repouso ao pé da cama
Deitado, eu ouço a chuva como quem ouve a um trovão
Todo homem deveria ter a sensibilidade auditiva de um cachorro.

Certa vez, conheci um homem que me ensinou sobre a velhice Por horas, tentou convencer-me de que era bom envelhecer Eu dizia-lhe: Desejo viver até os meus setenta anos e me basta! Viver até os setenta é doloroso, quando se tem sessenta e três. Desejar isto aos vinte e seis é simples! – Tudo é filosófico.

Se eu tivesse uma filosofia de vida: Seria a de não ser filósofo.
Faria tudo pela aptidão de não se ter instinto algum.
Impulsionei-me para a inspiração de nunca se ter sido nada.

Por isto nunca tive nada e para todos sempre tive o que não tinha.
Mas quando precisei do que não tinha: Abandonaram-me.

Tenho sido eu um declínio temporal de idéias!
Tenho andado na mesma direção que circula a moral
E tenho circulado na mesma direção aonde se perde a razão.

Sou um barco resignado, olvidado ao mar.
Perculso pelo vento: Sempre a seguir!
Entregando-se por completo ao nada
Esquerda – Direita! – Avante!
Navego como o tempo em minha vida.

A que preço estaria eu liberto?

Deixo-me quedar-se na beleza de quem não sou.
Enquanto as minhas flores embelezam a morte.
Eu me embelezo na vida distraída de tudo quanto amei.

Sempre sozinho: Familiares? – Nunca soube o que é isto.
O meu espírito esta perculso e a minha alma conspurcada.

A certa altura, depois de muito sacudir.
Desço da cadeira e decido partir para o universo.
Levo comigo alguns versos, que não são versos.
E antigas idéias de se construir novos versos.

⁠Tinteiro decrépito

Ah! Distância afamada das preocupações do mundo,
Calmaria sem consequências ou arrependimentos.

Estou assim, semelhante a um tinteiro velho; sem préstimo,
Tendo os outros a consumirem-me aos poucos,
A usarem-me de um lado e do outro.
Estou farto de ser um tinteiro velho.

Queria ser um tinteiro novo em forma de caneta.
Ou uma caneta nova em forma de tinteiro.

Ah! Coração; rabisca-me em um papel qualquer.
Por que não sou igual aos meus conhecidos?
Despreocupados e estúpidos.
Muito mais estúpidos do que despreocupados.

Quero esquecer e lembrar quando esquecer,
Dormir e esquecer o que é dormir.
Depois acordar e olhar ao lado e ainda estar ali,
Estúpido e despreocupado a tentar esquecer porque existo.

O que é existir senão sermos conscientes de que somos nós mesmos?

Eu não quero consciência alguma!
Nem comigo e nem com o mundo.

Quero estar inconsciente como um mendigo adormecido ao pé de mim,
que há muito se esqueceu da casa que viveu e dos que viveram com ele.

Quero relembrar do meu passado de sonhos e conquistas,
Marcando-o como restos de sonhos e conquistas.
Depois quero adormecer novamente e turbilhonar com o destino
Ao sonho de que entre ruas e calçadas me esqueceram.
E de que do fundo de um poço emergi em turbilhões.

Ah! Este monte de terra vermelha que sempre fui.
Por que em mim nunca se plantaram flores?

Estive sempre fértil no universo da minha consciência.
E sempre estéril na consciência defasada do mundo.

Como a qualquer mendigo, também não tive onde morar.
Tive na vida os cuidados opostos ao que merecia, por ser eu.
Por estar despreocupado à vida passou. Eu envelheci...
Hoje aos 21 anos tenho mais alma do que um senhor de oitenta.
Porque quanto mais eu vivo, mais eu deixo de viver, por dentro.

A vida me reservou, por covardia; um destino de preocupações.
Obrigou-me a fugir para um lugar de tintas e papeis.

Tendo sentado o destino ao pé de mim, junto ao mendigo.
Recordamo-nos de que ambos seguimos pela vida afora;
Conscientes de que em certa altura; teremos de virar.
E talvez por isto, o mundo todo se vire a favor de nós.

⁠Hoje

Ah, pudera eu saber ouvir um elogio com a mesma atenção que ouço uma ofensa,
Sabendo segurar dentro de mim uma resposta pronta;
Mesmo que com ela eu vença!

Quisera eu não saber brigar, para poder ignorar e sorrir,
Discursar ao falar; sem xingar; sem partir.

Quem me dera acordar pobre em meio a tanta riqueza,
E ao terminar o dia, me sentir um homem! - Com a biografia perfeita.

Quem me dera ser melhor ao invés de querer ter tanto,
Poder causar alegria nas pessoas ao invés de espanto,
Esquecer os milhões e todas as mulheres famosas,
Não usar mais terno em reuniões e ainda assim: Ser foda.

Quem me dera saber comprar ao invés de sempre vender tudo,
Aprendendo que não adianta economizar só quando não se tem um puto,
Poder ser feliz morando em um lugar modesto,
Cujo único custo é a água e a luz e todo o resto é resto.

Mas a minha vida não é essa,
Vivo em uma angústia infinita,
E quem passa pela mundo dessa forma,
Sabe mesmo o que é viver a vida.

⁠Idéias

Estou hoje no meu quarto, deitado à cama,
Diferente daquele exposto nos jornais de ontem.

Hoje, o interesse de toda gente é o mesmo.
Descrever-me naquilo que não se há descrição,
Ao longo dos anos tentam, sem sucesso, explicar como é existir sendo eu.
Sendo louco, eu nunca precisei dar explicações a ninguém.
Quem se explica demais está sempre a se confundir.

Eu sou prático e desconexo, mas não me confundo.
Existo nos pensamentos da maneira que deveria existir.

Quanto mais eu transcrevo ideias, criam-me novas ideias.
Sou sempre hoje o que não fui ontem, estou a renovar-me sempre.
Talvez eu seja o que sou, porque não há nada de diferente em ser eu.

Acendo um charuto!
Acendo-o pelo prazer de exibir na fumaça; ideias.
Ideias que, como a fumaça, se desfazem sem rumo.
A minha vida tem sido uma baforada desconexa de tudo que existe.

Tenho sido a exceção até mesmo dos sem exceções.
Tenho sido mais diferente do que aqueles que são indiferentes.
Tenho me destacado aonde ninguém se destacou,
No melhor e no pior...

Construí sozinho e ainda assim, por vezes, dividi o que construí.
Hoje eu olho para trás e não vejo ninguém.
Todos aqueles que hoje estão aqui não estavam quando eu comecei.

No início da minha construção, muitos tentaram prejudicar a edificação.
Passado um tempo, todos os pilares já estavam sustentados sem risco de desabamento.

Os meus amigos desfilavam com o meu sucesso estampado ao rosto como sendo o seu.
Construí sem cimento algum, castelos memoráveis.
Todos os meus sonhos foram edificados sem ideais,
E depois compartilhados com o mundo que me bateu a porta na cara.

Hoje estou de costas para o mundo,
Arquitetando portas aonde não há portas,
Para que passem felizes os que me abandonaram.

⁠Refúgio de Ideias

Vou mandar erguer outra parede,
Para ouvirem os meus desejos e loucuras,
Os meus prazeres e todos os meus ideais.
Ah, os meus súbitos secretos...

Que deixo neste quarto por não ter coragem de viver.
Estas paredes são o meu refúgio perfeito para o fracasso.
Sem titubear, tenho feito da minha janela uma segunda vida,
Muito mais vivida do que aquela que vivo hoje.

Isto, não porque me falta viver intensamente,
Mas porque já não cabe mais nada dentro de mim.
A vida que me foi concebida, eu a recusei e a destruí.
Tendo o meu mundo externo amplamente saturado.

Viver somente não me bastou, precisei de uma segunda vida,
De uma vida de tintas e papéis, feita de ideias e sonhos.
Hoje, quando eu leio alguma ideia que não seja minha,
Sempre me vem à ideia de que já tive essa ideia antes.

Posto isto, mais tarde também lerão as minhas ideias,
E se darão conta de que já tiveram também as mesmas ideias.
E agora as leem, sendo de outra cabeça, e não a sua.

Mas, ao fim, como tudo em minha vida; serão sempre ideias.

⁠A janela

"Je laisse la vie, comme les fleurs laissent la mort!
Les fleurs laissent la mort jolie,
La décoration des fleurs est unique,
Qui fait la mort jolie? sinon les fleurs?
Les fleurs embellissent, ensorcellent!
Elles sont la beauté de l'enterrement.”

Ao som das estações, fabricam-se ossos e costumes,
Estátuas e revestimentos culturais.

Há dias tenho tido lembranças de outras lembranças,

Tenho conjurado sonhos irreais em pesadelos,
E tenho tido pesadelos conjurando sonhos.

Possuo dois cérebros: Passíveis,
Conjurados um contrário ao outro.
Pela plenitude fictícia de nunca estar certo,
Tendo por prazer real, nunca se saber quando é que se está louco.

Com alguns retratos, eu escondo partes de uma parede despojada,
Expondo pequenos espaços a serem preenchidos pela imaginação.
Ah, esse pequeno mundo que arquiteto debruçado na janela.
Eu vivo em paredes que só existem dentro de mim.

Observo distante, esses quadros anacarados a vela,
Passo as horas tal qual um relógio velho; atirado-me ao chão.
Sob a escuridão de mim, oculto-me neste escárnio quarto,
Fico imutável na depravação imaginária dos pensamentos.

Escrevo sobre tudo, sem ter nunca conhecido nada.
Aqui redijo! – Como quem compõe e nada espera,
Como quem acende um charuto e não o traga,
Apenas saboreia-o por mera desocupação.

Escrevo, porque ao escrever: – Eu não me explico!
Como quem escreve, não para si, não para os outros,
Escreve; porque tem que escrever.

Transcrevo em definições um antinomismo de mim mesmo,
Depois, faço algaravias conscientes da imperícia consciência.
Nada é mais fétido do que a minha ignorância erudita.

Há três horas; – Sinto diferentes sensações,
Vivo a par disto e daquilo; – E sempre a par de nada,
Estou repleto de preocupações que não me preocupam.

Calmamente, inclino-me para o mundo de fronte à janela,
Observo que por pouco observar, eu tenho a visão da praça,
Diante dela, tenho também a visão de um pedinte violinista.

Inclino-me para dentro de mim e tenho a visão de um homem,
Que hora é homem e hora são as minhas sensações,
De que tenho sido um homem.

O meu mundo é o que posso criar da janela do meu quarto,
Esse coveiro desempregado da minha senil consciência,
Um túmulo escavado por falsas descobertas arqueológicas,

A terra anciã é o amparo às minhas espáduas sonhadoras,
Preceitos juvenis? – Todos mortos! E hoje são somente terra,
Mas estou cansado; acendo outro charuto e me afasto da janela.

O silêncio dos meus passos conforta o meu coração,
A fumaça traz lembranças que me fazem sentir,
Ainda que eu não saiba exatamente o quê.

Sou indiferente aos lugares que frequento,
Tenho sido visto por muitos, mas tenho visto tão poucos.
Ah, ninguém me define melhor do que eu mesmo.

Caminho de fronte ao espelho: A tentar definir-me,
Certeiro de que ao derradeiro fim, não terei definição alguma.
Exceto, a falsa definição de que me fizeram os tolos.

De volta à janela,
Vejo a esperança exposta em uma caneca e um violino.
As mãos que sustentam a caneca, cansam antes das cordas.
Os homens passam e rejeitam ajudar com um mísero centavo.

Ah, cordas que valem menos do que o som que proporcionam,
Ouço-o e por ouvi-lo, eu observo os espíritos desprezíveis,
O meu cansaço distorce as melodias que essa alma compôs.

Diferencio-me e jogo-lhe alguns centavos:
Ah, uma esperança surge nos ombros cansados.
O violinista volta a executar melodias nas cordas senis,
A pobre rabeca se torna um estradivário valioso.

Eu sou um escritor, mas, não sou ninguém.
Agora esse violinista; talvez seja alguém.
Talvez escreva melodias que muitos ouvirão,
Ou que ninguém, talvez!

Dentro de um raciocínio lógico eu o defino ao definir-me.
Ele é a esfera do infortúnio. – Eu sou a pirâmide do êxtase.
Intercalamos entre o que está por vir e o que está presente.

Reacendo o charuto, fecho os olhos e ouço a melodia,
Desta janela vivo sendo outro, para evitar ser eu mesmo.

Eu poderia sentar a praça e observar, de perto, o violinista;
Tudo que vejo da janela me deixa com os olhos em lágrimas.
Aqui de cima o mundo é admirável, mas não consigo explicar-me.

Que faço eu? – Que faço eu ainda aqui, debruçado na janela?

⁠A escada da vida

O coração, que amava tanto, já não ama mais e nada mudou.
As ideias, que pareciam geniais, nem sequer existem.
Os amigos são trocados como em uma liquidação qualquer.
E o tempo já não parece mais ter qualquer conexão com a vida.

Vivo a sós comigo para que eu saiba com quem estou lidando.
Historicamente, tenho errado mais do que acertado,
Porque existe mais oportunidade no futuro do que no passado.
E sem adversidade, todo homem se torna lúcido e comum.

Nunca tive sonho de valor que fosse impossível.
Há sonhos tão grandes que só podem ser realizáveis.
Por ter nascido com tão pouco, tudo nunca me foi muito.
Sempre fui criativo, até mesmo em orações.

O prazer que encontram no essencial, eu encontro no caos.
Nada me parece pior do que a tranquilidade e os seus tranquilos.
O medo de viver nos faz iguais aos outros.
Prefiro moldar o meu caráter pelo futuro do que pelo passado.

Quando você cresce sozinho, sendo o espelho de si mesmo,
O mundo está sempre prestes a fechar-se contra si.
Deformando sua visão do universo e de si mesmo.
Às vezes, você se torna impiedoso, até mesmo em orações.

A vida é repleta de falsidades,
Porque viver parece mais um fardo do que uma bênção.
Depois de perder tudo, você descobre que nunca perdeu nada.
Porque o homem paciente é que é feliz.

Escopos da vida

Mais uma vez; sozinho!
Estive ontem, também; sozinho!
Amanhã não posso estar diferente.
Afinal de contas, todos os meus amanhãs
Serão sempre, sozinho.

Passei pela vida sem ter religião e nem amigos.
Ou talvez tivesse amigos; mas todos, sem religiões.

Não, não tenho arrependimentos!
Estou hoje entre a covardia de ser eu mesmo
E o mistério que é a covardia de não ser ninguém.
Ainda que para isto; eu me torne subitamente alguém.

Tenho vivido de fronte à tantas portas,
Portas que ninguém mais consegue passar...
Que não passam, porque diante de mim nada passa.

Estou indiferente a mim mesmo.
Porque tudo aquilo que não posso ser
Hoje eu sou!

Mas sem pais.

Ah, se ao menos tivesse um pai.
Se ao menos tivesse um pai, teria os ombros mais leves.
Como um pássaro carregado pela mãe.

Estou sozinho, sendo um bonifrate imaginário, sem imaginações.
Sem imaginações, porque na minha vida nada muda.
Nada melhora e nada piora, nada é novo!
Tudo é velho e cansativo, com a minha alma.

Sou um escritor que faz versos que não são versos.
Porque se fossem versos, teriam melodias e métricas.

Ah, escrever, sem versos e métricas, como a vida.
Ao passo que os meus não-versos prosseguem,
A inabilidade caminha rumo ao meu coração.
Este castelo fantasmagórico, este lugar de terra cinza.

Tudo na minha literatura é velho e cansativo.
Como o autor deitado em uma cama esticado como uma cuíca.
O silêncio do meu quarto fatiga os ouvidos do meu coração.
A minha vida é uma artéria atulhada de lembranças solitárias.

Lembro-me que ao nascer...

O médico olhou-me aos olhos e parou de súbito.
Caminhou pelo quarto e sentou-se em uma cátedra.
Ergueu as mãos ao queixo, apoiou-se fixamente sobre ele.
E ficou ali a meditar profundamente.
Passou-se o tempo e tornei-me infante.

Subi ao céu, observei o mundo e aconteceu;
Deitei o mundo sob os meus ombros.
Depois desci ao pé de uma árvore e adormeci.
Quando acordei estava a chorar de arrependimento.
Na casa que eu morava, já não havia ninguém.

A minha mãe diziam ter ido ao céu; procurar-me!
Não tendo me encontrado, tratou logo de nunca mais voltar.
E por lá ficou, e nunca mais a vi.

Nunca soube por que o destino inóspito lhe tirou a vida...
Se o altruísmo materno é a metafísica de toda a essência
Ou se abúlica vivência é pela morte absorvida,
Não seria à vossa morte um grande erro da ciência?

Talvez um pai!
- Meu pai perdeu-se nos meus ombros,
Era um fardo que eu sustentara sem nunca tê-lo visto.
Todos os meus sonhos e ambições nasceram mortos.

Descobri que a alegria de todos; era o mundo sob os meus ombros.
Olhavam-me e riam-se: Apontavam-me como a um animal.

Quando resolvi descer o mundo dos meus ombros,
Percebi que a vida passou; e nada de bom me aconteceu.

Não tive esperanças ou arrependimentos.
Não tive lembranças, culpas ou a quem culpar.
Não tive pais, parentes e nem irmãos.

E por não tê-los; este era o mundo que eu carregava aos ombros.

Este era eu.
Sozinho como sempre fui.
Sozinho como hoje ainda sou.

Um misantropo na misantropia.
Distante de tudo aquilo que nunca esteve perto.
Um espectador que tem olhado a vida.
Sem nunca ter sido percebido por ela.

A consciência dos meus ombros refletida no espelho
Demonstra a reflexibilidade desconexa de quem sou.
Outra vez fatídico, outra vez um rejeitado por todos.
Como a um índio débil que o ácido carcomeu.

Ah! Esse sim; por fim, sou eu.

Eu que tenho sido incansavelmente efetivo a vida.
Eu que tenho sido o fluídico espectro de mim mesmo.
Eu que tenho sido a miséria das rejeições dos parentes.
Eu que tenho sido impiedoso até mesmo em orações.
Eu que... – Eu que nunca tenho sido eu mesmo.

Ah! Esse sim; por fim, sou eu.

Ouço ruídos humanos que nunca dizem nada.
Convivo com seres leprosos que nunca se desfazem,
Desta engrenagem árida que chamamos mundo.

Ah, rotina diária que chamamos vida.
Incansáveis restos de feridas que sobrevivem,
Nesta torrente da consciência humana.⁠