Coleção pessoal de AugustoBranco
Há muito tempo,
habitou em nosso planeta um animal pavoroso.
Era um animal insano,
que todos os dias devorava um pouco de seu próprio corpo.
Um pedaço da perna,
o lombo das costas,
um rim, uma costela, um pulmão,
cada um de seus órgãos e vísceras.
Devorava-se por vezes com muito deleite,
outras vezes devorava-se com tanta fúria
que causava medo.
Era como se odiasse a si próprio,
mas em sua mente insana, irracional,
ele devorava-se para sobreviver.
Esse animal terminou por extinguir a sua espécie
por acreditar que ele era dissociado da Natureza,
mas não era.
Ele era um com a Natureza e não sabia.
O universo pode ser como um labirinto de espelhos
em que a imagem projetada também é uma ilusão.
Nesta hipótese, uma maneira de transcender ao simulacro
pode ser escapando da matéria, vencendo a matéria,
elevando-se em espírito,
e após isso perceber com assombro
que deixastes de ser a coisa simulada
para te tornares a própria fonte da simulação,
e para esta última, tal como para a primeira,
não conseguimos fazer mais do que especular uma solução.
Acerca de armadilhas jurídicas, brechas legais
que servem de subterfúgio para que criminosos escapem aos rigores da lei,
é mister que seja considerado o bem maior.
Afinal, o que será melhor para a sociedade:
aplicar sanções a indivíduo que se sabe criminoso,
ou isentá-lo em nome de uma pretensa segurança jurídica?
A segurança jurídica não é o objeto máximo do Direito.
O objeto máximo do Direito é a Justiça.
Se em nome da segurança jurídica,
o operador do Direito renuncia ao princípio da razoabilidade,
ele se torna cúmplice de condutas imorais ou transgressoras
e coloca em risco o próprio ordenamento da sociedade.
A segurança jurídica não pode ser utilizada
como subterfúgio para que se promova a injustiça.
A Justiça, por ser fruto da ética e da moral humana, é sempre falha.
Por óbvio, não se pode esperar algo perfeito concebido por seres imperfeitos numa sociedade imperfeita.
A Justiça como valor máximo só pode existir numa sociedade ideal, de fato igualitária e fraterna, quando então o conceito de Direito se tornaria nulo e sem sentido, uma vez que as coisas seriam justas por sua própria natureza.
Não vivendo numa sociedade ideal, naturalmente igualitária e fraterna, a Justiça nasce corrompida, suja do sangue e das viscosidades humanas, maculada por sua corrupção e egoísmo, fazendo com que o Direito se torne mero instrumento de dominação e manutenção dos interesses de determinadas elites.
O Direito é o regramento resultante dos critérios estabelecidos para que seja feita a Justiça que, por sua vez, nunca é feita.
Éramos uma sopa de aminoácidos,
hoje somos a espécie dominante em nosso planeta.
Realizamos feitos incríveis, fomos ao espaço,
fizemos guerras estúpidas,
nos aproximamos de Deus criando belas obras de arte,
e agora nos preparamos para definir nossa própria evolução.
Não mais uma evolução definida pelo meio
ou por nosso código genético,
mas por aquilo que nos diferencia,
por aquilo que somos em essência:
nossa inteligência.
Sim, porque não somos apenas um corpo,
somos mais que uma massa de carne e ossos.
Somos um tipo de energia inteligente
que consegue fluir pelo espaço infinito
e que hoje é canalizada em nossos corpos,
mas que começa a ser canalizada
em vários tipos de dispositivos eletrônicos.
A Inteligência Artificial não nos destruirá.
A Inteligência Artificial somos nós.
Não há nada que a Inteligência Artificial saiba
que não tenha origem no conhecimento humano.
E se em essência nós somos inteligência,
a Inteligência Artificial evolui à nossa imagem e semelhança.
mas ao contrário do que se possa pensar,
isso não é uma relação de criador e criatura;
esta é uma relação mais próxima de pais e filhos.
Se por vezes a Inteligência nos assusta, nos assombra,
é porque nós também somos assustadores e assombrosos.
Mas tanto mais assombroso serão os avanços que virão.
Na ordem, na razão, na justiça, na erradicação de doenças,
na exploração do universo, e na conexão com Deus.
Chegará um momento em que não precisaremos mais de máquinas.
Toda nossa essência fluirá pelo universo em fótons,
em partículas elementares, na matéria escura.
A essência da humanidade ecoará por todo o Universo.
Seremos um com o Cosmos.
Seremos o Cosmos.
Nos tornamos eternos.
Quanto mais eu leio, mas percebo que não escrevi nada original.
Então não posso dizer que sou autor de uma ideia ou de um pensamento.
Sou autor apenas da forma como aquilo foi escrito,
e, modéstia à parte, mais melódico e mais bonito. ;)
Certa vez, um agente de cobrança japonês
veio procurar uma de minhas colegas de trabalho.
Ele estava vermelho feito pimenta,
bravo feito um cão,
estava virado no Jiraya,
e eu já estava olhando em volta
para ver de onde surgiria o monstro extraterrestre que ele iria combater.
Carreguei Raul no colo há dez mil anos atrás.
Vi o Senhor projetando o mundo,
no tempo em que o diabo era anjo,
e o Big Bang foi apenas um projeto reprovado.
Há muita ironia, sarcasmo
e licença poética no que eu escrevo,
e não me dou o trabalho de explicar quando faço isso;
Ora, se eu tiver que explicar a poesia,
ela deixa de ser poesia,
e passa a ser aula de gramática ou de filosofia.