Coleção pessoal de aroldoarantes
O amor é a dislexia do concreto e a surdez do composto. O amor é a miopia do afeto e a insensatez do bom gosto.
Na verdade, a inércia do Estado é gritante. O silêncio da omissão, em todos os níveis, é ensurdecedor. O país não funciona!
A poesia está solta, vive... em cada gota que o vento transpire. A poesia está louca, livre... em cada boca que o verso respire.
O mundo se acaba a cada mão desatada, a cada verso não dito, a cada não concebido, a cada lágrima calada. O fim de tudo está nas reticências...
O mundo se acaba a cada flor não regada, a cada verbo perdido, a cada chão destruído, a cada palavra não dada. O fim do mundo está na incoerência...
Amor, não é metade, é verbo decassílabo, conjugado em primeira pessoa. Amor, não é saudade, é verso infinitivo, consumado em poesia à toa.
O que não existe é vago, e tudo que é vago é livre, e vive, pois ao se libertar do concreto, se despe da razão e passa a se alimentar do vão.
Se for calar o amor, não vá achar que a dor é melhor companhia. Se for cantar a cor, não vá amar o amor por pura covardia.
Teu amor me trata, me hidrata, me complica. Teu amor me mata, me retrata, me excita. Então vem por um momento e me dinamita, me manda pelos ares, me levita, me faz evaporar de mim, me faz ficar sem meio e sem sim, buscando meus pedaços em poucos traços de um verso surrado, de um amor complicado, por palavras dispersas, por lágrimas confessas, de uma saudade que falta, de uma vontade que salta, de um triste enfim.
Pobre menina tonta, acho que ela nunca se deu conta, vivendo assim tão distraída, que a vida com ela apronta, que apronta com ela a vida.
A saudade grita alto, e me maltrata, quase sem falar. Sinto falta dos seus versos e dos seus verbos, sinto vontade de te conjugar.
Desalinhado é o amor que pulsa sem regra, que expulsa a mesmice pra longe e se alegra, pede bis, ao se ver completamente disforme, mas feliz.
Sorrisos sustenidos, carinhos diluídos. O amor é sol bemol em dissonante. O amor é instável, pulsa em transe e insulta o instante.
Tenho voltas que não se resolvem em mim. Um verso caído que nunca se desculpa. Um verbo perdido que não sente culpa. Uma dor que não tem fim.
Espero um sentido novo, que vá além do frescor das estações! Quero um amor ditoso, que tenha gosto, sabor e sensações! Quero neve e vulcões.
Aguça minha cabeça confusa, que não sabe se vai, se cai ou se vem. Acusa assim avessa, intrusa, que não cabe mais o ai de ninguém.
Tem muito ruído, achando que é orquestra! Tem muito barulho, pensando que é canção! Tem muito silêncio, achando que ainda presta! Tem muito vazio, pensando que é chão.