Coleção pessoal de anwpetry
Quando um robô chora, suas lágrimas são exatas, como num cálculo matemático... E você? Chora assim também?
São tantas as pedras
no caminho
que machucam e ferem
como espinho...
Mas o que seria das flores, sem ele?
Uma situação inesperada
Sem nenhuma prevenção
Toda criança deve ser amada
Até mesmo o fruto da situação
O que seria das flores, sem semente?
Mas, o que mais me dói,
é segurar a lágrima que não cai
é não se dar valor a si mesmo
sendo tão cuidadosa com os outros
esquecendo de si mesma
Sua saúde, educação
sem mencionar o coração ,
por onde passa os sentimentos,
alegrias,amores e lamentos.
Não critico nem faço pouco caso,
mas a carruagem que conduzes
me afasta de você.
O tempo,
só o tempo é senhor da razão.
Torna-se o meu contratempo
na parte que toca o coração...
E a
lágrima
que
teima em cair
Um dia, há de me lavar os olhos
PAI
Por que você me disse para fazer sempre o certo,
Quando você nem sempre fazia...
E por que você me exigiu tanta perfeição,
Se você foi completamente imperfeito...
Por que você vestiu máscaras na frente dos homens,
Se na minha frente, você mostrou uma faceta tão diferente do seu eu...
E por que você exigiu que eu seguisse os seus passos,
Quando não era possível, para mim, viver assim...
Ao mesmo tempo em que entendo, por outro lado, talvez nunca aceite,
Essa importância que você deu a tantos outros,
E a pouca importância que você deu àqueles que te amavam...
Não guardo mágoa, nem duvido do teu amor,
Só esse vazio, esse vazio de saber que tudo poderia ter sido tão diferente.
Tão diferente,
Pai...
O Menino Azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Do meu deserto...
Às vezes, me vejo correndo em um imenso deserto. Corro, porém não sinto calor.
Carrego comigo uma faixa azul, que esvoaça ao vento, seguindo meus passos determinados.
Corro nesse deserto como se ele não tivesse fim. Como se ele fosse do tamanho da necessidade que tenho, de compreender...
Compreender o mundo, a vida.
Compreender os desdobre do amor e da dor, da chegada e da partida, do carinho e da carência...
Meus passos ficam marcados nesta areia sem fim e o sol, que não me queima, ilumina e projeta minha sombra no chão.
Eu sei que é uma corrida de certa forma inútil, pois muito da vida não é compreensível aos nossos olhos pequenos...
Porém não consigo deixar de correr e buscar. Preciso estar em movimento para não pensar...
Ando de um lado para outro, dentro de mim. (...)
Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros.
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Para quê pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!
Vou lançar meus sonhos ao vento assim, como se fossem sementes. Quem sabe sementes de um novo amanhã...
Te amei
Sabe, eu me enganei...
Sempre achei que deveria pegar a tua mão, e te levar a conhecer os lugares bonitos que eu conhecia...
Achei que fosses gostar deles, e das situações que eles trariam.
Sim, eu me enganei...
Nem tudo de que eu gostava você gostava, e nem tudo de que eu precisava você sentia falta...
Eu achei que fazia algo bom, mas não, nem sempre era bom para você.
Pena que você não me disse.
Talvez por medo de me perder, talvez por não saber...
Não sei...
Só sei que teria sido mais fácil, se tivéssemos conversado.
Sem medos, sem dores.
Somente sentar e conversar.
Pois muitas vezes são dos nossos medos é que nascem as nossas dores...
Te amei do jeito que, naquele tempo, eu soube te amar...
Teu mundo é espelho de você
A beleza está nos olhos de quem vê, assim como muitas vezes a maldade que enxergamos está apenas em nossos olhos. O mundo é o que você enxerga, mas principalmente o que você quer enxergar e o que você quer fazer dele.
Da janela
Hoje, no meu trabalho, eu fiquei com a janela só pra mim...
Meu colega não veio e eu pude observar, vez por outra, a cidade na manhã ensolarada.
Os telhados cinza e laranjas, os pássaros voando e as antenas, capturando os mais diversos sinais.
Prédios altos, prédios baixos, igreja, quartel, corpo de bombeiros, tudo isso eu vejo da janela.
E no meio de tudo as árvores, se esticando entre as construções, buscando um lugar ao sol...
O céu está azul, com nuvens esparsas, branquinhas como algodão.
As bandeiras do nosso país e do nosso estado tremulam ao vento.
Pessoas e carros passando. Ônibus, caminhões...
E, atrás de tudo, a silhueta dos morros da minha cidade...
Dia de inverno, porém quente, cheio de vida. Um quadro em movimento.
Isso, minha janela é um quadro, multicolorido, em incessante movimento.
Movimento que os meus olhos claros captam, impassíveis: passa o tempo, e também o vento...
Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
Pegadas na Areia
Sonhei que estava caminhando na praia
juntamente com Deus.
E revi, espelhado no céu,
todos os dias da minha vida.
E em cada dia vivido,
apareciam na areia, duas pegadas:
as minhas e as d’Ele.
No entanto, de quando em quando,
vi que havia apenas as minhas pegadas,
e isso precisamente
nos dias mais difíceis da minha vida.
Então perguntei a Deus:
"Senhor, eu quis seguir-Te,
e Tu prometeste ficar sempre comigo.
Porque deixaste-me sozinho,
logo nos momentos mais difíceis?
Ao que Ele respondeu:
"Meu filho, Eu te amo e nunca te abandonei.
Os dias em que viste só um par de pegadas na areia
são precisamente aqueles
em que Eu te levei nos meus braços."
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
“Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo”. Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.