Coleção pessoal de AntonioPrates
Chegam as colheitas, arregaço as mangas,
a cresta, o simpósio de tantos afins;
colmeias perfeitas, abelhas sem zangas,
mais o Santo Ambrósio na Casa Martins.
A vida é dos fortes que assim se alimentam,
sem medo ou receio dos bons dias maus,
benditas as sortes, as lidas que aventam
um homem no meio de quarenta graus.
Na fruta madura, com risos e queixas,
subo ao escadote, meto mãos à obra,
em grande cultura apanho as ameixas
e faço um pinote com a força que sobra.
Depois a vindima, depois do granizo,
no fino entrelinho de parra alquimista,
pra baixo, pra cima, há sempre um sorriso
feliz é o vinho que dá Boa Vista.
Faço o que ninguém aqui quer fazer,
levanto a enxada a dois metros de altura,
e vou mais além, onde a terra quer,
desde madrugada nesta vida dura.
No contrabalanço sem logro, sem preço,
colho esta virtude vivida a retalho,
e pra ter descanso que também mereço,
só peço saúde, respeito e trabalho.
Tanto Abril, tanta fartura,
tanta falta de verdade,
onde a nova ditadura
não deixa de ter censura
pra quem não tem liberdade.
De todas as vezes que me tentaram censurar as palavras acrescentei sempre mais uma, duas, ou três. Não por teimosia, por altivez, ou por sobranceria, mas apenas para tentar escutar o eco das palavras que ninguém me disse, mas que sempre escutei com gritos.
Penso o mundo a circular
Com verdade e com justiça,
Quando me ponho a pensar
Junto ao tronco de cortiça.
Às vezes penso que poderia ter tido uma vida mais saudável. Fumo vinte cigarros por dia a pensar nisso.
Neste mundo há duas maneiras de não cabermos em lado nenhum: se formos demasiado grandes, ou demasiado pequenos.
Encontramos pessoas na vida que à primeira vista nos dão a nítida sensação de as conhecermos há muito tempo ou de outras vidas. Talvez as almas combinassem estar ali sem os corpos saberem.
Encontrar alguém capaz de fazer um julgamento justo sobre as qualidades dos outros é uma das jóias mais raras de achar.