Coleção pessoal de AntonioPrates
Ingratos são aprendizes
das maldades praticadas,
onde deixam cicatrizes,
por nascerem infelizes
e pessoas mal formadas.
Amizade é um valor que se descreve,
com a bondade que afaga o coração;
dá-nos calor com a cor da fria neve,
nesses momentos de retiro e solidão.
Dá-nos apoio, um delicado sentimento,
compartilhado na ternura, no carinho;
adoça o tempo, a faguice do momento,
onde as palavras soam ternas e baixinho.
Sentimos luz em cada pingo de desvelo,
admirando o resplendor, a claridade;
e cabe sempre mais um amigo no Castelo,
dentro da alma, onde vive esta Amizade.
Tanto Abril, tanta fartura,
e nesta arte, salvo seja,
deixo aos fãs da ditadura
trinta anos de censura
e outros tantos de inveja.
Naquele cantinho do velho hospital,
a oito de Maio de sessenta e sete...
Levanta-te António, que a vida promete,
nasceste em Estremoz e em Portugal.
Terás nesta sina tudo o que encontrares,
num mundo cruel, fingido e oculto...
Serás um menino com olhos de adulto,
sem tempo na sorte, nem fé nos azares.
Aproveita a vida, esta breve passagem,
aguenta-te firme, recebe este ensino...
Calhou-te por sorte este teu destino
e um anjo da guarda cheio de coragem.
Na vida serás essa eterna criança,
vinda das estrelas acima da Lua...
Se um dia sentires que estás na rua,
volta ao teu ninho da Quinta da Esperança.
Se estou vivo, tenho sorte,
nesta selva desmedida,
e por cúmulo do desnorte
valho mais depois da morte,
por isso aproveito a vida.
O Alentejo está florido,
convertido em seu estendal,
com as quinas em sentido
a gritar por Portugal.
Entre crentes e ateus,
alguns humanos, a meu ver,
entregam-se às mãos de Deus
quando o Diabo não os quer.
Neste mundo de ilusões
lavo a roupa em cada gesto,
e ao purgar as intenções,
vejo ainda mais glutões
do que vi no velho Presto.
O trabalho seja onde for,
é o pão de cada dia,
mas pra ser compensador
tem de ter no seu sabor
dignidade e alegria.
Na articulação das palavras há sempre a intenção de quem as profere e o julgamento de quem as escuta.
Infelizmente, uma grande parte da alegria que muitas pessoas sentem é provocada pela miséria dos outros.
Os homens gostam de mostrar as suas invenções às mulheres, mas as mulheres inventam coisas que os homens nem sonham.
Lá vão os mascarados, podem vê-los
de tantas formas, no seu mundo subumano;
levam caraças por debaixo dos cabelos,
mais os embuços que carregam todo o ano.
Vão prá folia, vão alegres, vão perfeitos,
como histriões dos artifícios mais bonitos;
folgam-se normas, repetidos preconceitos,
em prol dos cultos aos assuntos interditos.
São tão felizes, disfarçados e contentes,
pulam e troçam, nesses grupos a granel;
é Carnaval, deixai-os ir que vão contentes
como as estrelas que são feitas de papel.
Tanta alegria, tanta farra neste Entrudo,
tanta folgança, tanta cor, tanto brilhante;
riem-se as almas, as tenções e quase tudo,
das zombarias deste enlevo extravagante.
Nesta grande mangação, todos temos que entender que há malandros na nação, onde uns são porque são e os outros gostam de ser.
Há no mundo a elegância de parecer uma comédia, quando a sua substância dá aos tolos a distância que os afastam da tragédia.