Coleção pessoal de Annyk16
Disciplina Antiga
Os que bebem não sabem falar às mulheres,se perderam de tudo, e ninguém os aceita.
Andam lentos na rua, e as ruas e postes não têm fim.
Alguns deles dão giros mais longos, mas não há o que temer:amanhã eles voltam para casa.
O que bebe imagina que está com mulheres-como postes à noite são sempre os mesmos, assim as mulheres são sempre as mesmas-; nenhuma o escuta.
Mas o bêbado tenta, e as mulheres não o querem.
As mulheres, que riem, conhecem de cor suas palavras.
Por que riem assim as mulheres ou gritam, se choram?
O homem bêbado quer e deseja uma bêbada que o ouvisse calada. Mas elas o atiçam:"Para ter esse filho, é preciso contar com a gente."
O homem bêbado abraça-se ao bêbado amigo que esta noite é seu filho, nascido sem elas.
Como pode umazinha que chora e que grita dar-lhe um filho amigo? Se aquele é um bêbado, não recorda as mulheres no andar inseguro, e esses dois perambulam em paz. O filhinho que conta não nasceu de mulher- pois seria mulher também ele. Caminha com o pai e conversa:toda a noite iluminam-lhe os passos os postes.
É concebível que se mate uma pessoa para contarmos na vida dela? Então, é admissível que nos matemos para contar na nossa própria vida.
Defender a ideia de que os nossos sucessos nos são concedidos pela Providência, e não pela astúcia, é uma astúcia a mais para aumentar aos nossos olhos a importância desses sucessos.
Ironia da vida: a mulher dá-se como prêmio ao fraco e apoio ao forte, e nunca ninguém tem o que precisa.
Será um conforto pensar que a fraqueza pode ser uma força, como uma saúde delicada é uma defesa contra as doenças graves?
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas. Relembrar uma coisa significa vê-la - apenas agora - pela primeira vez.
A dificuldade de praticar o suicídio está nisto: é um ato de ambição que só pode ser realizado depois de superada toda a espécie de ambição.
Em suma, todo o problema da vida é este: como romper a própria solidão, como comunicar-se com os outros.