Coleção pessoal de andre_villasboas
...
Os paradoxos da minha timeline.
Sempre fui um aficionado pelas figuras de linguagem. Paradoxos e metáforas, por exemplo, sempre me ajudaram no processo de externar meus pensamentos. Traçando uma linha do tempo, voltamos ao ano de 1972 para compreendermos o real propósito deste livro.
Na ocasião, o então presidente Emílio Garrastazu Médici, terceiro da lista de ditadores que governaram o Brasil, promovia pela primeira vez a transmissão de um evento através da televisão em cores. Mesmo considerando o regime autocrático e a sua ilegitimidade, nascia a Telebrás, a primeira empresa de telecomunicações do Brasil. Em meio a censura, a violência e a cassação de direitos políticos, o primeiro computador da América Latina era construído na Cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo que as fronteiras se fechavam para o livre-comércio, Médici inaugurava o primeiro trecho da Rodovia Transamazônica. E para completar, o juiz Sérgio Moro nascia ao passo que Luiz Inácio Lula da Silva entrava para o Sindicato dos Metalúrgicos com apenas vinte e sete anos de idade.
Saindo um pouco do contexto tupiniquim, o terrorismo palestino assombrava a delegação israelense em plenos Jogos Olímpicos. E para encerrar a lista de contradições, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, se reunia em Pequim, na China, com o lendário Mao Zedong - patrono da luta contra o imperialismo e o capitalismo em todo o mundo.
Neste mesmo ano eu chegava ao mundo e daí a ligação emblemática com os paradoxos da minha história. Com tantas contradições presentes no meu encontro com o mundo exterior, ressalto aqui o meu primeiro contato com a resiliência. Minha querida Mãe, genitora mor diante do seu primogênito, ao se preparar e ver se consolidar o segundo maior elo de sobrevivência depois do cordão umbilical, Mãe e Filho, eis que surge a fome e o anseio instintivo pelo aleitamento materno. Um choro a plenos pulmões antes fechados, uma insistência concebida pelo amor incondicional e um pequeno sussurro em meus ouvidos: - Filho, seja resiliente!
...
Soneto da Saudade
Quando amamos e vivemos
Com costumes e moral
E na vida aprendemos
O que não pode ser normal
Pais e filhos são eternos
E o desprezo não perdura
Esses laços são fraternos
Ser sensato é ter cordura
Não sou apenas biológico
Sou de trato e emoção
Pai presente, etimológico
Lágrimas surgem e solidão
Podem tirar minha razão
Não me fará falta alguma
Mas me deixe o coração
O meu eixo desapruma
Meu sentimento é verdade
Que me dói até a alma
Meu soneto da saudade
Tenho força, tenho calma
Tenho filha, tenho filho
Meus anseios no papel
Um cordeiro, um novilho
Eu, Manú e Raphael
...
Eu do passado, estou ligando para dizer que nos momentos em que você venceu, perdeu e disse umas verdades na hora errada - está tudo certo. Continua acontecendo isso com você no futuro. Vai por mim, faz parte do jogo da vida.
Arrependimentos? Tenho vários. Pensei em pedir para você evitar certas coisas e situações. Mas talvez eu não fosse eu, se você fizesse isso. Tem uma parada chamada paradoxo, e isso poderia alterar quem somos - melhor deixar quieto e aprender com os equívocos.
Vou te pedir para ter mais paciência, ser menos ansioso. Essa tal de ansiedade quase acabou com a gente. Ela foi nossa professora rígida e cruel, porém, extremamente honesta conosco. A ansiedade te consome naquilo que você acha que irá acontecer, e por isso ela é tão verdadeira. Suas fragilidades e fraquezas ficam expostas diante da realidade. Ou seja, você não tem o controle.
Vão ter vezes que você irá achar que é o fim. E vai ser mesmo. Fim de tantas crenças limitantes que você já teve. Ah... e você vai achar que está cheio de razão. Pode acreditar, você estará coberto de enganos. Quanto a família, fique bem pertinho do seu irmão. Todos são maravilhosos e merecem seu carinho, mas dê uma atenção especial para ele. Vai por mim!
Mas sabe de uma coisa? Eu gosto de ti. Você tem garra, é grato e tem atitude. Porém, herdei de você um talento especial para gerar uma certa inveja de quem cria estereótipos negativos para nos definirem erroneamente. Confesso que vivo tentando te desconstruir quando falo de você. Talvez seja o ímpeto de querer que você pense como eu aprendi a pensar. Essa tal de maturidade tardou, mas chegou com força.
Quanto a mim, acho que estou indo bem. Muitos sonhos, projetos e bons caminhos a serem percorridos. Você vai ser pai mais de uma vez, e ainda tentará de novo. Você vai casar, descasar e acertar na segunda tentativa. Tudo vai valer a pena, vai ser uma loucura e você vai querer escrever um livro. Vai ser você e eu, sem brigas pelo protagonismo. Até breve!
...
A gratidão desbloqueou a minha abundância. Transformou meu menino em um homem, minha negação em aceitação, meu caos em ordem e minha confusão em claridade.
Transformou minha dor em saudade, meu deslumbre em humildade, minha loucura em juízo e meus medos e inseguranças em coragem.
Libertou meu espírito, desbloqueou meu amor, resgatou minha fé, salvou minha alma e escancarou minha essência.
...
Estou aprendendo a gerir melhor minhas emoções. Às vezes me questiono: "O que nos leva a escolher uma vida sem desafios?". Ou melhor, não me questiono, contesto. Já sei a resposta e ela está estampada na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços e naquela rotininha chinfrim que muitos aceitam submissos à própria vontade.
Não adianta erradicar a minha essência. O morno não me inspira, não me move, apenas amplia o vazio que tenta me travar. Como me livro desta sensação de voz e eco? Preencho meu "ser" com a volúpia de quem não nasceu para ver a banda passar. Quero tocar o meu tarol, marcar o compasso do meu samba e desfilar por este mundão afora sem me preocupar com passados e futuros.
Quando a sensação de médio e mediano tentar inibir sua vontade, entenda que todos nós temos direito à grandeza, consequência da nossa melhor escolha.
...
Nesse mundo de caos, sentimentos líquidos, verdades dissimuladas e mentiras honestas, posso concluir que a cegueira e a surdez ajudam (e muito) na nossa sanidade.
Como não posso fechar os olhos e tapar os ouvidos, reajo diferente. Crio enquanto a maioria copia, produzo enquanto a maioria tende a procrastinar, invisto enquanto a maioria consome e acredito naquilo que todos duvidam.
...
Em tempos de inverdades, tenho saudades da minha liberdade. De andar pela cidade com pessoas da minha idade. Sinto que privo a minha verdade com certa ambiguidade. E que a calamidade uniformiza a diversidade.
Creio que a cumplicidade reapareceu sem sazonalidade e que o mundo está repleto de reciprocidade. Será que a majestade está sentindo um pouco de vulnerabilidade?
Em tempos de sororidade e equidade, a unicidade é uma temeridade. E a promiscuidade da invisibilidade aflorou a nossa humildade. Que as desigualdades repletas de maldade cedam espaço para a benignidade. E que o renascer da nossa longanimidade nunca mais permita nenhuma iniquidade.