Coleção pessoal de andozia0905
O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos.
O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exatamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem.
Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.
O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.
Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo.
Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.
Quando o coração ja não está mais batendo é que ele ja passou por tanta coisa que agora apenas balança.
Dona moça
Menina-moça, tentaram me fazer acreditar que o amor não existe e que sonhos estão fora de moda. Cavaram um buraco bem fundo e tentaram enterrar todos os meus desejos, um a um, como fizeram com os deles. Mas como menina-teimosa que sou, ainda insisto em desentortar os caminhos. Em construir castelos sem pensar nos ventos. Em buscar verdades enquanto elas tentam fugir de mim. A manter meu buquê de sorrisos no rosto, sem perder a vontade de antes. Porque aprendi com a Dona Chica, que a vida, apesar de bruta, é meio mágica. Dá sempre pra tirar um coelho da cartola. E lá vou eu, nas minhas tentativas, às vezes meio cegas, às vezes meio burras, tentar acertar os passos. Sem me preocupar se a próxima etapa será o tombo ou o voo. Eu sei que vou. Insisto na caminhada. O que não dá é pra ficar parado.
Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o fim. O destino da felicidade, me foi traçado no berço. Disse um certo pai Ogum.
Não confundir o amor com a paixão dos primeiros momentos, que pode desaparecer. O verdadeiro carinho cresce na medida em que os dois estão mais unidos, porque partilham mais. Mas para partilhar é preciso dar. Dar é a chave do amor. Amor significa sempre entrega, dar-se ao outro. Só pelo sacrifício se conserva o amor mútuo, porque é preciso aprender a passar por alto os defeitos, a perdoar uma e outra vez, a não devolver mal por mal, a não dar importância a uma frase desagradável, etc. Por isso o amor também significa exceder-se, fazer mais do que é devido.
Aqueles que ousam mergulhar dentro de si e navegam nas águas das emoções, descobrem um oceano de possibilidades.
O iate da felicidade
Vamos imaginar que, antes da depressão, a felicidade da nossa vida era proveniente de um IATE maravilhoso. Um barco que nos permitiu vivenciar acontecimentos maravilhosos, como se para nós esse Iate fosse a fonte de todo o entusiasmo. Por acharmos que a felicidade estava em tudo o que esse iate nos proporcionava a dedicação da nossa vida passou a estar direccionada para esse pequeno grande “criador de sonhos”.
Até que um dia, a natureza se enfureceu e um grande temporal ameaçou esse iate. Como atribuíamos o nosso valor, entusiasmo, felicidade a esse iate achámos que perder o iate seria perder a vida, o sol interior. E em vez de nos tentarmos salvar, lançando o salva-vidas e libertarmo-nos o mais rapidamente possível do que poderia ser fatal para a nossa vida, agarramo-nos descontroladamente a memórias do passado vividas nesse mesmo Iate, e ao sentimento de apego a algo material (pessoas ou vivências) como se fosse a nossa alma.
E claro, enquanto estivermos agarrados ao Iate em afundamento iremos afundar-nos com ele…até ao dia que decidirmos libertar o Iate. Assim que largamos o iate, começamos a emergir das profundezas desse afundamento. Nesse dia vamos entender que nada exterior a nós terá qualquer poder de nos afundar se nós tivermos a sabedoria do desapêgo, da libertação do que já não nos serve de alimento à alma…e assim confiar no processo da vida….se a vida tira algo que gostamos, ou nos dá algo que não gostamos, alguma aprendizagem ou sentido importante ela quererá nos transmitir.
Nunca nos devemos esquecer que quanto mais rígidos formos mais forte sentimos as pancadas da vida, se formos flexiveis como a água tudo passará por nós e ficará apenas a sabedoria.
Por vezes não é fácil perceber o sentido das coisas que nos acontecem, nessas alturas temos de confiar na vida e acreditar que ela é sábia e que ela não nos dá o que queremos mas sim o que precisameos para nos tornarmos seres mais puros, genuinos e para aprendermos a buscar dentro de nós a nossa verdadeira essência divina.
A diferença entre o sábio e o coitadinho é que o sábio usa tudo na vida para se fortalecer e para dar um novo sentido à vida…enquanto que o coitadinho passa o tempo a culpar por tudo o que lhe acontece na vida.