Coleção pessoal de Ancelmobento
O amor e tudo mais
O amor é mesmo
tudo aquilo que
os amantes gritam
aos quatro ventos.
quando perceber
felizmente será
tarde demais
você fará coisas
que jamais ousaria fazer
e as que costuma fazer.
terão um brilho a mais.
Tenho pressa de viver
tudo o que me resta
e o que me resta
senão a pressa
eu aperto o passo
e o tempo me aperta
estou preso
no que sou
e no que posso ser
e não há nada
que eu possa fazer.
amorte
amo-te
e te amando
não temo a morte
porque até a morte
sabe a sorte
que é um dia
poder te dar um cheiro
no cangote.
Meu ramo de roseira
Meu amor,
meu rumo,
meu riacho
e minha corredeira
que se faça verdadeira
a premissa derradeira
que dure a vida inteira
um amor verdadeiro
e que seja eterno
o sentimento
do mesmo.
Meu bem,
desde que eu te vi
até o bem te vi
tem cantado mais feliz
desde que eu provei
o gosto do seu beijo
o beija flor tem dito e repetido
que beijou a flor mais bonita
e beijou mesmo
desde que eu ouvi
o som da sua voz
até o passar do vento
tem passado devagar
só para te escutar
falar um pouco mais
e o amor é assim mesmo,
até me pego acreditando em destino
quando o teu olhar encosta no meu olhar,
e quando você me toca
e também me tocando
sem me tocar,
meu bem,
sinto coisas que eu não sei explicar
só sei que só vou sentir de novo
e tudo de novo
se ao teu lado estar.
Pomar
Para o poema
o poeta é só um pomar
com nome e sobrenome
e onde jaz o poeta
nasce um poema
e vice-versa.
Aqui dentro
não mora um sentimento
que não demora
mais que um olhar
e quando o tempo parar
para o amor passar
que passe devagar
para eu ter tempo
de me apaixonar.
Estamos todos a passeio
e estamos sempre
a um passo
de dar o ultimo passo
e talvez este seja
o maior misterio
como pode algo tão belo
e cheio de possibilidades
como o viver ser tão fragil.
Apesar dos pesares
Apesar de o viver
ser um sobe
e desce descabido
e apesar de todo
esse desespero
sem razão de ser
tenho vivido
tudo que me cabe
antes que acabe.
O tempo é tão vaidoso quanto o viver.
Enquanto eu aperto o passo
o tempo passa
feito o bater de asas de um pássaro
que um dia foi aprisionado.
querida, você tem perguntado
como eu tenho passado o tempo
e como ele tem me passado.
e como tem passado
todos estes anos.
talvez eu devesse ser
mais audacioso,
mas o viver
também me ensinou
a ser mais cauteloso
com o meu próprio tempo.
Talvez o mais simples
seja o mais belo
como o bater de asas
de uma borboleta
em um dia ensolarado.
de volta para o mapa da fome
Quem tem fome
tem nome e sobrenome
sonhos e anseios
e se eu vejo
você também pode ver
só sobreviver
sem viver
veja bem
o tempo de todo ser
corre sem olhar para trás
Navegando em águas misteriosas
O amor que se faz
também se desfaz.
E até que se desfaça
que se faça amar
porque neste mar
é navegando
que se aprende a navegar.
O gosto da eternidade
O amor tira de você
aquele medo tolo de morrer
porque quando é de verdade
se prova o gosto da eternidade.
Amores são pássaros
aprendendo a voar
Eu vi o amor
ir do amar
á ferida
que não sara mais.
vivi o tempo
de todo o amor
que me encontrou
e se eu pudesse
viveria alguns amores
um pouco mais,
mas amores são pássaros
aprendendo a voar.
A lápide da humanidade
Entre o céu
e o inferno
entre o efêmero
e o eterno
jaz o ser humano
este ser temporário
e senhor do tempo.
Os povos indígenas encontraram a forma
mais pura e simples da nossa espécie
se relacionar com a natureza.
É realmente triste que eles tenham que presenciar
a natureza agonizar diante de seus olhos
existe um sadismo e um descaso
que me faz acreditar que todo o progresso
da nossa civilização é apenas um caminho diferente
para o retrocesso e a extinção da nossa espécie.