Coleção pessoal de Ancelmobento

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⁠eu vejo o amor
como o afluente de um rio
que por muitas
e muitas vezes
se depara com caminhos
sinuosos só para conseguir
desaguar no mar.

⁠⁠
eu sei
que uma vida
feita de esperas
passa tão depressa,

mas quem me dera
depois de tanto sofrer

não esperar muito
ser feliz outra vez.


o amor sempre tem
um jeito diferente
de nos surpreender

ele tirar da gente
esse narcisismo
quase inerente
ao nosso ser

nos obrigando
a olhar com carinho
o que as vezes
não quremos ver.

não existe grandes
certezas no amor
percebe-se com o passar
do tempo
que apesar de tanta prece
não tem como controlar
o que acontece
dentro da gente. ⁠

⁠Andanças climáticas

e toda essa gente
que de repente
perdeu suas casas
para as enchentes.
e que aos olhos da própria gente
não era nem gente
nem bicho,
muito menos planta.
essa gente que também
caminha em direção ao centro,
sem a brisa do mar
que move o seu viver,
essa gente que se vê
a merce do que não merece
para merecer
tudo o que podia ser.


O país do carnaval

No brasil real
o riso sempre vem
acompanhado da dor
de ter passado por algo
que não devia ter passado.

⁠o amor
é se entregar
porque o amar
não bate na porta
para entrar

ele vem,
e se veste
de vida

como se não houvesse
uma ventania
que balança as roupas no varal.

O amor
é um mistério

se eu sinto
o seu coração bater
também posso
sentir o meu

e se um dia
eu fui ateu
depois de ti
até o que é breve
tem ar de eternidade.

⁠E se todas as vezes
forem a última vez
como daquela vez
e daquela...

e se for sobre
o que sobra
quando tudo desmorona.


Me aventurei
a ser um bem
aventurado

me atrevi
a me atrever
e me reescrever

me deixei
em qualquer lugar
que me deixou

me olhei
pelo meu olhar
e vi um rio passar

me escutei
pelo cantar
dos pássaros

e vi o vento passar
pelo passar do tempo

que sempre passou.

⁠Sobre o que sobra

sobre o sobrado
de meus instantes
restantes
a estante
dos instantes
passantes.

⁠⁠⁠Sobre os frutos

percebi que a manga
prefere tentar a sorte
na terra a noite

e se ela cair antes da hora
não se deve culpar o tempo
pois viver é sobreviver
dia após dia
ao passar voraz do vento.

⁠meu bem,
nossos olhares
tecem o tempo
o tempo inteiro
e é incontestavel
que desde que
nossos olhos se fitaram
todo o nosso tempo
tem sido revestido
de um amor verdadeiro.


Desse ano que se passa
somente a brasa.


Sobre distâncias

Distâncias no amor
precisam ser tratadas
porque se não são
diminuídas
são aumentadas.

⁠O tempo que não volta mais

Uma das maiores
injustiças do capitalismo
senão a maior
é tirar do ser humano
o seu bem maior

e talvez não seja possível
curar em vida
uma ferida sofrida pelo tempo
pois o tempo que se esvaí
não volta mais

e nas voltas que o mundo dá
essa ferida há de cicatrizar

e se não cicatrizar
há de ter algo
que possa ao menos
amenizar o nosso mal estar social.

⁠E se eu estiver errado
e a vida não se dá
só para quem se deu

e se for mesmo assim
doa a quem doer
e se doeu,
doeu...

e se eu soubesse
que essa dor doída
doía tanto
teria vivido
tudo de novo
e de novo

e tudo que foi
e tudo que será
se vai
e se é pra ser
se faz e se refaz
em sumo do viver.

⁠ O estalar da despedida

A dor da despedida
é sempre a ultima
a se despedir

ela sempre está lá
te lembrando
que ainda está.

⁠Mais do mesmo

O amor é assim mesmo
é mais do mesmo
e mesmo assim
amar é um segredo
um segredo
que não pode ser guardado
pois um amor que é guardado
só espera o tempo necessário
para ser eternizado.

⁠Andanças climáticas

Meus pés rachados
e o meu caminhar
não se reconhecem mais

os mesmos pés
que pisavam no pomar
agora se dedicam a fugir do mar

e com certeza não é sobre amar
porque se fosse o caso
eu não estaria indo
em direção ao centro
sem um lugar
para descansar
o meu corpo cansado

e se eu ficasse
poderia me afogar
como os pés de planta
que ficaram para lutar.