Coleção pessoal de AnaSante
“ 'Poderia prosseguir, se não fosse pelo corpete'. Mas por que o ainda usava?... Fechou os olhos: toda a sua propriedade orgânica, plástica, sensorial estava lá. Mas o corpete, no apuro dos sentidos, imobilizava-lhe o instinto; atrapalhava o prelúdio, limitando movimentos, desafiando-a para sempre... Eis o modismo e o massacre, através dos séculos".
"Seria desejo? O fato era: um olhar a havia absorvido por inteiro – sua alma estava pronta para algo, assim como se sabe que um dia se há de morrer, e por isso vive-se".
"Passei por algumas capitais. Roma, Madri, Paris, Berlim... Estive de frente com ela, ‘A Monalisa’, de Leonardo. Fixei meus olhos na ‘Gioconda’ e ela me disse: ‘Eis que me penso. Ninguém o sabe. Estás diante do abismo’ ".
"Ela então parou. E enxergou-se pela primeira vez. Imprevisível, porém natural (...). E soube-se: desde sempre aquele sentimento se apresentava forte e insistente".
"Flutuar além da cidade, daquele povoado e do mar... E ia ser agora. O encontro com a coisa que ela sentia ultrapassar em pensamento".
"Ah, sim. Um verdadeiro escândalo. (...) Um alvo perfeito para quem a odiasse. As senhoras não somente lhe virariam a cara, como o corpo inteiro. 'Bom dia' não lhe diriam mais os senhores, e a 'boa noite' seria com os livros de Shakespeare de vez".
"Mas faltava descobrir o que vinha por detrás da arte. Respiração ofegante. Sangue a correr nas entranhas das palavras. Um pacto. Confiança? Eu te amo porque hoje é um novo dia".