Coleção pessoal de alinemariz

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Ao avesso


Eu só queria mais cor, mais amor, mais sentimento e mais vida em tudo. Mais sinceridade nos olhos e nas palavras. Mais sorrisos. Talvez mais tempo. Tempo pra pensar, pra resolver, pra decidir. Eu queria poder voltar no tempo só pra dizer um 'eu te amo' que esqueci ou pra retirar um pedaço de música que cantei quando não devia. Eu queria saber controlar os sentimentos, para que eles não saíssem de mim sem minha permissão. Queria saber medir palavras para não iludir nem machucar. Queria que as pessoas soubessem medir suas palavras também. Eu queria que as pessoas pudessem abrir seus olhos para ver o que nos rodeia... Se for para não ver nada, que fique logo de olhos fechados, porque dá no mesmo. Eu queria que todo mundo tivesse a coragem de dizer, mesmo que tropeçando nas palavras, o que sentem.

Eu queria não ter sido feita ao contrário, para não ter o coração do lado de fora.

Só é, e acabou


Quero só saber quem é que consegue definir o que é o amor.

Bem, acho que ninguém. Talvez ninguém consiga porque o amor é um sentimento muito complicado - quem sabe até, o mais complicado de todos -, ou talvez porque tem gente que não sentiu ainda.

Ou mais talvez ainda... o próprio amor é que não deixa, pois se as pessoas conseguissem limitá-lo, tudo ia perder a graça.

Ia perder a graça porque o amor seria sempre a mesma coisa... todo mundo iria sentí-lo de uma forma igual. E eu pergunto: qual a graça que poderia haver se todos fôssemos iguais?

Talvez, se nós conseguíssemos definir esse sentimento, ninguém mais sofresse. Mas, embora isso pareça algo bom, eu acredito que não seja. Porque sofrer faz parte de um amor mal acabado, faz parte de qualquer amor que seja grande... O sofrimento faz parte do próprio ser, e principalmente, faz parte de qualquer sentimento, independente do tamanho.

O sofrer faz parte de qualquer um que ama de muito.

Sabe... se me perguntarem o que é o amor, a única coisa que eu poderei dizer é que o amor não é daquelas coisas que têm um significado certo no dicionário... porque ele mesmo não é certo. Pelo contrário, o amor é um dos sentimentos mais amplos, e mais incertos que existem! Do mesmo jeito que um alguém o sente de determinada forma, aquele alguém já sente de outro; o da outra ponta, nem sente; um ali, nem acredita; o outro, morre de amores; e eu, vou acreditando e sentindo.

O amor pode fazer sentido, pode doer, machucar, alegrar... ou não. Cada um sente de uma forma, e é por essas e outras que o amor não se define.

O amor não se limita, é um eterno parênteses em aberto.

O amor é só algo em que a gente não manda, só sente; E é por ele, e com ele que o nosso coração bate.

O amor é só sentir... sem nenhuma definição, e ponto final.

Aqui ainda resta a esperança


A gente finge. A gente finge que não vê o velho que está sentado na beira da calçada, implorando por um prato de comida. A gente finge que não está vendo um rosto carente de felicidade, quando uma criança vem nos pedir uma esmola. A gente simplesmente finge que essas pessoas não existem.

Fingimos, e ponto final.

Fingimos por medo, por conveniência, por ignorância.

Fingimos por puro egoísmo.

Viramos o rosto para não ver os problemas que existem em cada esquina, achando que essa atitude, um dia, pudesse resolver alguma coisa. Vivemos num mundo próprio, e deixamos para lá as vidas que não participam dele, afinal, elas não nos atingem... Temos medo de tentar corrigir o erro que já se deu por confirmado há muito, mas esse medo só nos faz perder tempo.

Mais do que tempo, perdemos também a pureza e a justiça. Em troca? Em troca ganhamos um mundo moldado na ilusão de que a felicidade é algo que se compra. Não, ninguém vai achar a receita da felicidade no seu programa preferido da tv. Até quando vamos fingir que não tem nada de errado? Até que o mundo seja engolido de vez pelo egoísmo?
Os erros foram feitos, estão todos aí. Só falar e lamentar não vai nos levar a lugar nenhum... a única solução é a mudança. A nossa mudança.

Se nós mudarmos, o mundo vai mudar com a gente. Por favor, peço que saiamos desse comodismo que só nos afunda cada vez mais num buraco sem fundo. Peço, ainda, que o amor sobreviva, e com ele, a esperança.

Precisamos entender que o que é bom só existe quando compartilhamos... Precisamos amar, ajudar, acreditar.

Precisamos ser de carne e osso.

Pra nunca mais soltar


É, o coração mais bobo do mundo realmente havia achado o sorriso certo e estava caindo de amores.

Filipa nunca havia amado alguém que correspondesse tão lindamente seus sentimentos, e agora, o seu coração mais parecia que tinha um sorriso por dentro dele, colado, como se tampasse e fizesse esquecer todas as feridas; o seu coração era entrelaçado nesse sorriso, e eles eram como duas fitas, que jamais poderiam se soltar.

Cada dia era uma coisa diferente... Era como se em cada dia o sorriso fizesse questão de conquistá-la novamente.

Era como se ele sentisse que o único caminho para o amor mais bonito que Filipa podia dar, era o amor sincero; era o sentimento puro, e jogado aos montes, para que todos pudessem ver o que se sentia.

Esse sorriso foi o que mais fez os olhos de Filipa rirem. Foi o mais sincero. Foi esse que mais fez Filipa querer o amor na sua forma mais crua, daquele jeito de chorar e rir na mesma hora. Foi por esse sorriso que o coração dela se apaixonou novamente.

Foi por ele que ela não quis deixá-lo nunca mais. Foi por ele que ela tomou banho gelado no inverno. Foi por esse sorriso que Filipa desistiu de não amar e se entregou de vez. Foi pra esse sorriso que, enfim, ela teve coragem de gritar que o amava. Foi pra ele que ela disse que ele podia até esquecê-la, mas que ele nunca esquecesse do amor dela por ele.

E quem um dia vai entender os corações? Vai saber quando é que um simples “eu te amo” é mais ou menos importante do que alguém que chega e pergunta “tem lugar pra mim?”... Amar é algo para poucos. Só alguns entenderão que na verdade não é mistério, é só o coração que não te deixava amar.

E quando amar, provavelmente você vai entender.


“Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?”

The hardest part


A parte mais complicada de todas não foi ter que deixar de te ver, nem de falar contigo... A pior parte foi ter que te esquecer. E não pense que foi difícil por eu te amar. Foi difícil porque eu estava deixando que uma parte de mim fosse levada embora.

E a parte mais difícil de te esquecer foi ter que esquecer cada coisa que eu havia sonhado pra gente. E o que me dá raiva não é o que você fez de errado. O que me dá raiva é é que eu tive que deixar de lado toda a minha vontade de gritar que eu te amava; foi ter que esquecer o sorriso dos teus olhos; foi ter que esquecer cada mentira bonita; foi ter que fingir que estava bem, quando por dentro estava toda despedaçada; foi ter que esquecer o teu sorriso; foi ter que esquecer cada dia que poderíamos passar juntos, cada beijo, cada conversa, cada riso e cada música; foi ter que parar de querer ouvir cada palavra que você sussurava no meu pescoço.

E o que me dá mais raiva ainda é que mesmo sabendo do que ia acontecer comigo, não tive coragem de parar meu coração. E pela minha falta de coragem, eu deixei de fazer o que era melhor pra mim. E depois, por esse mesmo motivo, tive que te olhar nos olhos sem deixar transparescer meu amor. Tive que sentir saudade e traduzir esse sentimento numa coisa molhada que escorria pelo meu rosto. Eu tive que sorrir para você, mesmo querendo chorar e te implorar que você voltasse para mim.

Eu tive que ser forte - pra suportar a dor de um coração partido em sabe lá quantos pedaços - pra te esquecer, e essa, foi a parte mais difícil de todas.

E depois de tudo, posso dizer que não há nada melhor do que a liberdade. Agora é ela que vem pra perto de mim e vem me fazer carinho.

E mesmo que eu ainda sinta saudades suas vez ou outra, não há nada melhor do que estar livre de você, de uma vez por todas.

Tudo me traz você


Vez ou outra a saudade resolve parar de se esconder por dentro de mim e aparece da forma mais inesperada, trazendo de lá do fundo, as lembranças mais bem guardadas.

Todas as vezes que me encontro com essa tal de saudade, o sentimento é o mesmo... A única coisa que tenho vontade é de voltar no tempo. Não que eu queira mudar o que fiz. Eu só queria poder viver novamente o que já se passou há muito tempo.

Eu apenas queria poder sentir teu abraço encaixado no meu; sentir o sol no teu olhar; queria sentir o teu calor junto a mim; queria sentir o teu sorriso no meu. Tudo que eu mais queria era poder te sentir como uma parte de mim mais uma vez, só pra afogar essa saudade num mar de vontade. Na vontade de te ter em mim, como nunca tive antes.

Ah, se tu soubesses que eu vivia tão sozinha de saudades tuas... Era como se a alegria fizesse questão de não me encontrar. É, eu senti a sua falta. Senti falta do teu sorriso – aquele que eu mais gostava – que tanto me aquecia. Senti falta do teu perfume, que agora eu só o sentia quando ele andava com o ar. Senti falta do sol que eu via nos teus olhos. Mas eu senti, principalmente, o meu coração latejando de dor quando você foi embora.

Embora eu sempre mentisse pra mim mesma que não sentia nada, eu sentia. E tudo foi mais que comprovado quando meu coração quase parou de bater de tanto amor guardado pra uma pessoa só.

E mesmo depois de tanto sentir o coração doer, eu ainda queria poder voltar no tempo e ter a ilusão de que eu fui o seu melhor momento. Eu queria poder me enganar mais um pouco e pensar que ainda posso terminar junto a você.

Eu só queria poder ser a saudade dentro de você, como você é dentro de mim.

Qualquer palavra


Palavras. Elas podem machucar, falar forte e pedir com carinho. Podem magoar e ofender. Podem dizer muito, ou pouco. Podem fazer refletir, emocionar e chorar. Podem criar amizades. Podem cativar e fazer desejar. Podem deixar solitário, ou podem fazer companhia. Podem ser traiçoeiras, ou amigas. Podem enganar. Podem cativar.
Podem fazer música. Podem fazer poesia. Podem fazer arte. Podem traduzir sentimentos – ou ao menos tentar.

As palavras podem ser só palavras e mais nada ou podem fazer as pessoas se apaixonarem. Mas as palavras também podem mentir. Podem fazer as pessoas acreditarem no que não existe. Pode trazer danos irreversíveis a um coração – e para os portadores deles.

As palavras podem fazer alguém perder as esperanças.

Perder as esperanças na vida, nos sentimentos, nas pessoas... E no amor.

Mas as palavras também sabem fazer as pessoas voltarem a ter esperança, inclusive, no amor. E já faz muito tempo que ela faz com que as pessoas ainda acreditem no amor. São elas que fazem brotar a esperança dentro dos corações desacreditados, e fazem com que eles ainda esperem pelo sentimento mais falado de todos.

As palavras, acima de tudo, fazem as pessoas acreditarem. Só não se sabe no que cada uma vai escolher acreditar, ou quais palavras cada pessoa ouvirá.

Palavras convencem, e já me convenceram de muita coisa. Já me convenceram de que nem delas eu preciso pra explicar todos os sentimentos. Já me convenceram que tudo que é dito por elas, apesar de algum estrago que possa ter sido feito, um dia pode ser consertado – até mesmo os corações partidos em milhares de pedaços. Já me convenceram que o mais importante não é o que elas dizem, mas o que elas causam; e que apesar de serem importantes, não são elas que amam.

Palavras estão em todo lugar, e com elas só não se pode ficar sem dizer nada.

Corações Trocados


O coração de Filipa é daqueles que gostam quando o amor chega e manda em tudo. É daqueles que gostam de se sentir renovados quando já estão cansados. É daqueles que gostam quando o amor toma conta da casa alheia e faz o que bem entende. É daqueles que ainda acreditam num amor de cinema. É daqueles que obedece a tudo quanto é sentimento, só não obedece à razão.

E é por gostar de sentir o amor, que ele age assim. E foi por agir assim que, dessa vez, ele acertou. Finalmente, depois de tanto buscar, ele havia encontrado – ou pelo menos por enquanto – o sorriso certo. Um entre tantos, e que tinha acabado de se tornar especial. Agora, esse era o mais lindo. Era o mais importante. Era o que – finalmente – tinha resolvido sorrir igual à Filipa. Era o que tinha decidido amá-la.

Esse foi o sorriso que se declarou, que abriu a luz mais linda por entre os dentes, que roubou um beijo. Foi o que disse que por ela, limparia até os trilhos do metrô. Foi o que chegou mais de repente do que qualquer outro. Foi o que disse que queria tê-la para sempre, e que mesmo que um dia tudo acabasse, ela ainda estaria com ele, porque ele ainda estaria com ela. E Filipa sabia que era verdade, porque ela também sentia o mesmo.

Foi esse sorriso que fez com que Filipa quisesse entregar seu coração por inteiro, para trocar por um coração novo.

Não trocar por um coração novo em folha, sem sentimentos e sem marcas... Ela quis trocar o coração dela pelo coração dele. O coração do seu sorriso. E trocou. E então, seu coração passou a bater por conta desse outro “novo” coração.

É, o amor havia chegado mais uma vez. Sem causa nenhuma, sem começo definido... Sem nada, como todo amor. Chegou apenas com o velho suspiro dos apaixonados e como quem manda – com aquele enxerimento todo -, tomou conta dos dois corações.

Mais uma


É, o dia do coração aprontar novamente tinha chegado.

Foi num dia simples, mas que estava lindo. Era um dia cheio de cor, de céu, de nuvem e de riso. E havia – claro – um novo sorriso. Não era – e nunca será – igual ao antigo, mas até que parecia um pouco. O jeito desse menino de olhar, de rir, de falar, e até de sorrir, com aquele sorriso que te deixa encabulada e com vontade ao mesmo tempo - um dos preferidos de Filipa -, eram coisas que chegavam a lembrar aquele velho sorriso que foi perdido no tempo – mas nunca na lembrança.

Filipa havia passado só uma tarde trocando risos, e mais uns dias trocando conversa. Só bastou esse pouco tempo, um tanto de riso, uns elogios, umas músicas, alguns gostos e muita conversa - e algumas cervejas - para o coração incansável de Filipa resolver cair no tal amor idealizado, como a dona dele já havia previsto.

Filipa só queria que o coração dela ficasse quieto por mais tempo.
Queria que ele sossegasse alguma vez.
Ela só queria que ele parasse de querer arder de paixão sozinho.

Mas nada o fez parar com essa mania. Nenhum dos sermões dados dias antes, nenhuma das brigas, nenhum dos pedidos... nenhum dos arranhões. O coração dela havia mesmo decidido amar novamente.

E lá foi ele. E mais uma vez, levando – ou seria arrastando? – Filipa junto.

Sem caber de imaginar... até o fim raiar


Eu já deveria ter deixado esse desejo de amar teus olhos há muito tempo... mas é que não consigo por completo. Não sei o que me acontece. Eles nem são doces! Se eu realmente te quisesse e tivesse como te ter, eu te teria, mas é que isso acabaria completamente comigo.

Acabaria porque eu deixaria de me amar, deixaria de pensar em mim e em tudo a minha volta, deixaria muita coisa em nome de um sentimento sem volta. De um sentimento injusto.

Eu queria apenas te sentir mais uma vez em mim. Sentir uma gota de você. Uma pequena dose. Só pra matar a saudade.

Nem que a saudade volte depois... eu quero. eu quero te sentir na minha mão de novo, te sentir como uma parte de mim, me iludir novamente. Só por um instante, só por uma noite, só por um momento... eu te quero.

Assim, juntinho, até o dia raiar.

Até a saudade acabar.


(“inspirado” em Ausência, de Vinícius de Moraes)

Incansável


De tanto esperar por aquele velho sorriso, Filipa cansou. Cansou de ver a vida passar. Cansou de esperar. Cansou de sentir tudo sozinha. Ela já não sentia mais a falta daquele pedaço de alegria, e então, a esperança que restava nela, fez-se morta. O fim - antes inalcançável -, enfim, se fez presente para ela.

Depois de guardar tudo quanto é lembrança num canto só, Filipa decidiu modificar o seu modo de vida. Disse pro próprio coração que agora só ia aceitar gostar de quem gostasse dela.

E o coração disse que tinha entendido – embora nem Filipa acreditasse nele.
Ela ainda disse mais. Disse que cada vez que um amor ia-se embora, quem mais se machucava era o coração mesmo, e que ele tinha que parar com essa mania de querer mandar nos outros. Disse que não ia mais chorar. Disse que não ia mais escolher não ser amada, que tudo agora ia depender da vida – e do tempo.

E mais uma vez, o coração fez que entendeu. E mesmo assim, Filipa não acreditou. No fundo, ela sempre soube que não ia depender da vida nem de tempo, e sim, do – metido - coração. Sabia que seu sermão não ia adiantar de nada... o coração nunca obedeceu mesmo. Ele sempre se achou dono de suas vontades, e não era agora – e nem com um sermão - que ele iria mudar.

Resolveu, então, ir aproveitar o tempo que lhe restava até o coração resolver aprontar outra. Ela já sabia que ele estava pensando em cair num daqueles amores idealizados, e tinha quase certeza de que ele ia se estrepar de novo.

E Aproveitou. Só que num dia comum, chegou o coração, e aprontou mais uma.

Guardado


Acho que solidão é uma palavra muito grande. Tão grande, que ela mesma se completa, e deixa os outros viverem nela. E por se completar, deixa os outros sós. E os outros, por sua vez, se calam.

E de tanto se calarem, as pessoas guardam coisas demais dentro de si. Guardam mágoas, sonhos contidos, ideias apagadas, sentimentos esquecidos... e palavras não ditas. E de tanto guardarem, acabam sem ter para quem desabafar depois.

As pessoas se esquecem de como é bom ter alguém para compartilhar a vida. De como é bom ter amigos. De como é bom sentir. De como é bom sorrir. De como é bom amar.
Escondem em si os seus sentimentos, e depois, não tem mais para quem dar. O tempo acaba, e tudo acabou ficando guardado. De que adiantou, afinal, ficar calado? Tudo virou sentimento engarrafado. E de que vale um sentimento engarrafado? Não vai dar para bebê-lo, muito menos sentí-lo. E mesmo que desse, nunca seria a mesma coisa. Sentimento só é bom quando se sente de verdade. E se esse sentimento for amor? aah, o amor! O amor é quando “o coração não quer mais sair de casa”... E a maior burrice é querer engarrafá-lo também.

As pessoas se esquecem do valor de um sorriso. Se esquecem que o sorriso é a ‘manifestação mais linda dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procurava’. Se esquecem que o sorriso pode curar feridas. Se esquecem que apenas um sorriso pode acabar com a solidão.
Acho que a solidão nos faz esquecer de muitas coisas importantes de tanto nos fazer guardar. “A solidão é uma ilha com saudade de barco”. É ela que faz com que nós queiramos parar o tempo.

E mesmo assim, mesmo nos fazendo guardar e esquecer, ainda é ela que nos faz querer falar. Ainda é ela que apesar de tudo, ainda nos faz querer viver tudo novamente. Ainda é ela que nos faz querer parar de parar no tempo. Ainda é ela que nos faz sentir saudade, e querer sentir a vida de novo. É ela que acaba fazendo com que a gente queira sentir as pessoas novamente.

E depois de tanto sofrer – de falar mal dela, e de derramar lágrimas -, acabamos agradecendo. Porque no final de tudo, foi ela que nos fez perceber o mundo que estava lá fora e que a gente já não percebia mais.

Foi ela que nos fez ver as cores novamente.

Onde eu possa me afogar


Por mais que eu não queira – e diga, e grite que não - resta uma parte de mim que ainda acredita naquele amor que a gente vê nos filmes. Deve ser o tal do coração. Afinal, ele sempre deu problema mesmo... Nunca quis obedecer à ordem de cabeça nenhuma, e sempre foi dono do seu próprio nariz. Ou melhor, das suas vontades.

Desde que a gente é pequeno que vê aquelas histórias de amor – amor que passa do inocente e meigo para o mais lindo amor e a mais ardente paixão – nos filmes e nas novelas. A gente se acostumou a ver tanta história bonita junta, e por mais que saiba que não existe – ou que pelo menos é difícil -, ainda acredita um tanto nesses amores idealizados.

Mesmo sem querer, acredito naquele amor de se acabar de chorar e de rir ao mesmo tempo; acredito num amor inesperado; acredito que ainda vou ouvir alguém cantar minha música preferida e dizer que me ama; acredito que alguém ainda vai me fazer uma surpresa das mais lindas, e que eu vou chorar; acredito que vou receber flores num dia chuvoso com um cartão dizendo apenas um “eu te amo”; acredito que ainda tem gente romântica no mundo. É... eu ainda acredito num amor dos mais bonitos. Num amor de cinema. Num amor idealizado.

Talvez não tenha mais ninguém que acredite nisso – nem mesmo eu. E então, isso que fica na cabeça, seja só mais um pedido de um coração esperançoso. Um pedido de mais um coração com defeito.

Ou talvez, isso ainda aconteça – porque ainda pode existir “últimos românticos”.

E só quando eu te tiver, te ganhar, e te perder – e que isso seja para algum amor que ainda não me encontrou -, é eu vou poder dizer se esse amor que idealizaram para mim – e que eu quero sentir – é verdade ou mentira.

E quem sabe, depois de te perder, eu não te ganhe de novo?

Amarelo no céu


Chegou-se a noite. Mas não era uma noite como todas as outras – escura e iluminada pelos apartamentos de luzes ligadas. Era uma noite diferente. Filipa tinha colocado os pés em casa, e acabado de chegar de mais um dia normal. Resolveu ir até a sua janela preferida, e sentou-se por lá, para observar o céu.

Ela nem sequer precisou olhar muito. O motivo daquela noite estar tão diferente – e linda -, foi o primeiro brilho amarelo que bateu nos seus olhos. Esse brilho iluminou o rosto de Filipa como um sorriso, daqueles que aquecem. Tentou adivinhar o que seria aquele pedaço tão lindo de céu.

Ela simplesmente não conseguia pensar. Estava encantada com tanto brilho de uma só vez; ainda mais um brilho daqueles, que mais parecia pular, de tanta luz que irradiava.

Olhou, olhou, olhou. Filipa passou quase que uma noite inteira só observando aquele feixe de luz. O que de tão especial havia nele, afinal? Nem ela sabia. A única coisa que sabia era que, fosse o que fosse, aquela luz amarela era completamente diferente. Ao menos, diferente das outras que estavam espalhadas pelo pano preto do céu. Essa era maior.

E olhando, lembrou-se da vida. Das pessoas. Das risadas. Dos olhares. Das palavras. Das conversas. Dos sorrisos. Principalmente, dos sorrisos.

Sorriu. E a luz a iluminou mais uma vez – e mais forte. Parecia um sol, de tanto calor que trazia às bochechas, já rosadas, de Filipa. Resolveu então, não pensar em mais nada. Só no amarelo que via no céu.

E só depois de mais um tempo olhando - e com um espaço vazio na mente –, Filipa descobriu do que se tratava aquele feixe amarelo. Era uma lua. E que lua.

Amarela e enorme; era rodeada por pequenas brechas, também amarelas. Essas do lado, eram as estrelas. E brilhavam tanto como a velha lua.

Filipa então resolveu que a lua daquele dia guardaria todas as suas palavras – ditas e não ditas - e principalmente, suas lembranças. E decidiu que cada raio de lua e luz de estrela, seria para lembrá-la daquela noite especial. E que assim, ela também lembraria de cada lembrança guardada.

E deu um nome para a lua, que junto, carregava as estrelas, como se tudo fosse uma coisa só. Filipa chamou aquilo tudo de “amarelo no céu”, para se lembrar da luz amarela que só viu uma vez na noite, e que mesmo na noite, mais parecia um sol.

Um menino


Eu o vejo em quase todos os dias da semana, mas nem aos menos sei o seu nome. Não sei de onde ele veio. Não sei o que ele quer. Só sei que em quase todas as noites, ele entra nos meus sonhos, e me olha como quem quer me dizer algo, embora permaneça calado. O tempo todo.

Esse menino não fala, e tem um rosto assustado. Rosto este, que embora assustado, é meigo. E triste. Sua expressão me pede ajuda. Mas eu não posso ajudá-lo. Eu não sei qual é o problema.

Ele tem o cabelo preto e curto, meio desgrenhado. Seus olhos são de uma cor escura, de um tom castanho. Também tem olheiras bem profundas, como as de quem não dorme. Ele veste uma bermuda manchada e uma blusa azul escura. Está descalço, no meio do nada. Sua expressão muda mais uma vez para uma expressão de medo. Ele começa a chorar. Não para, até que chega em mim. Enfim, ele chegou perto de mim. Está banhado em lágrimas pretas. Descubro que o preto de seus olhos não eram apenas a cor escura deles, mas também o choro sofrido que o menino despeja. É um choro escuro. Negro. É como se ele conseguisse colocar para fora tudo o que lhe faz mal. Tudo que faz parte da sua escuridão. Ou que faz parte da escuridão do mundo que lhe persegue.
Ele me abraça. Um abraço forte, que cessou todas as suas lágrimas. Todas aquelas lágrimas escuras. Senti uma conexão com ele. Um sentimento muito forte, que veio de repente.

O que era dúvida passou a ser certeza. A dúvida do que seria o tal medo dele passou a ser a certeza de que ele estaria comigo para sempre. E que eu estaria para sempre com ele, para lhe proteger. Foi então que eu lhe disse: "menino, não fique assustado. Eu estarei aqui. Sempre."
E então, ele sorriu para mim. Seu sorriso foi como uma luz.

Uma luz que engoliu uma escuridão escondida.

Um presente do céu


Já era noite quando Filipa resolveu sair para caminhar, perto do rio. Mas ainda era cedo; eram seis horas. Ou dezoito, se você ligar para isso. Ela ouvia as músicas que tocavam dentro de sua cabeça, quando começou a chover.

Chovia forte, e as pessoas corriam para chegar em casa a tempo de não se encharcar. Filipa não conseguia nem ao menos imaginar o porquê disso, já que ela mesma não gostava de perder uma boa chuva.

Ela achava que a chuva lavava sua alma, e que levava embora o que ela já não quisesse mais. Toda vez que a chuva vinha, a menina lhe pedia que levasse embora todas as suas dores, mas que deixasse as suas lembranças. E a chuva atendia o pedido. Ao menos, na maioria das vezes.

Nesse dia, Filipa pediu e implorou - em vão - que a chuva lhe lavasse a alma mais uma vez. Mas a lavadora de almas não lhe concedeu o pedido. A sensação dessa vez foi diferente.

Antes, ela se sentia limpa. E leve.

Agora, antes de qualquer coisa, ela estava bem. A chuva não a limpou, mas trouxe para ela borboletas. Borboletas que voavam de um lado a outro no seu estômago, e que a deixava com vontade de gritar. De gritar as músicas que escutava, de gritar o que sentia,de gritar qualquer coisa, de gritar palavras que fizessem - ou não - sentido. E ao invés de fazer isso, Filipa correu. Correu mais do que podia. Correu até não aguentar mais. E quando parou, era como se ela tivesse gritado tudo aquilo que não gritou. Era como se ela tivesse colocado para fora tudo o que sempre quis, e não colocou antes.
Foi esse o presente da chuva. Fazer Filipa perceber que podia se sentir limpa sem a ajuda de ninguém, ou de alguma coisa. Ela realmente podia fazer isso sozinha.

E então, Filipa se sentou na beira do rio.

E riu. Sozinha. Riu até a barriga doer.

E agradeceu com as mais bonitas palavras o presente que tinha recebido.

E em resposta, enfim, a chuva cessou.

Apresentando uma menina


Existia uma menina, e o nome dela era Filipa. Ela tinha lá os seus dezesseis anos de idade, quando começou a perceber os pequenos detalhes - e assim, as melhores partes - da vida.

Ela gostava de ouvir música - especialmente as que tocavam dentro da sua cabeça -, de caminhar pela cidade, de morar num prédio de frente para o rio, de tomar banho de chuva, de fica olhando o céu e sentir o vento na pele, de sentir a maresia, de observar alguns bichos, de amar sem medo, se fazer bons amigos, do som de uns instrumentos - os melhores para ela eram a gaita, o violão e o sax - e, principalmente, entre todas as coisas, ela adorava reparar bem nos olhos e no sorriso das pessoas.

Essa menina via vez ou outra, um brilho tão forte nos olhos das pessoas, que ficava hipnotizada. E pelos sorrisos que irradiavam alegria, ela ficava apaixonada.
Só havia uma coisa que a incomodava: o sorriso de que ela mais gostava não queria mais sorrir para ela. O que havia acontecido, afinal? Para ela, tudo sempre foi tão verdadeiro... Cada preocupação, cada abraço, cada sorriso distribuído, cada beijo dado - e recebido -, cada palavra, cada gesto, cada conversa, cada instante. E agora, o que ela faria sem o seu sorriso preferido? Deveria correr atrás dele, abrir o seu coração, falar o que sentia... mas a coragem não chegou. E sem ela, o tal sorriso se foi perdido.

Mas Filipa espera que não o tenha perdido para sempre; ainda resta um pedaço nela - talvez o seu coração - que ainda o espera. Que ainda o aguarda, e conta os dias, as horas, os minutos e os segundos, para que o vazio que ela sente seja preenchido novamente.

Preenchido por um velho sorriso, parcialmente perdido.

Por precisar (re)ocupar um vazio


Se chegou assim, bem de repente, se aprochegando cada vez mais, e já com um tom de quem manda, me fez lembrar de muitas coisas: de tristezas, de paixonites, de amigos, de amigas, de lágrimas, de (muitos) risos, de gostos, de cheiros, de épocas, de graças, de pedidos - mesmo que calados -, de cores, de sons, de sorrisos, de gestos, de olhos e olhares, de alegrias e de alergias.

Essa tal de nostalgia gosta de me visitar.. vez ou outra, aparece por aqui e me arranca umas lágrimas. Não que dessa vez o tenha acontecido.. mas me fez lembrar que ainda existe um vazio dentro de mim, e que ele precisa ser preenchido, o mais rápido possível. Porque quem sabe assim, ele para de latejar de tanta dor. A dor de um vazio. A dor de precisar de um coração novo.