Coleção pessoal de alinemariz
Vontade
Estranho ter que conviver com esse teu eu. Esse teu eu que para mim é novo... e que sempre continuará sendo. Difícil. E o maior problema é ter que olhar nos seus olhos, me ver bem lá no fundo, no canto, escondida nalgum lugar - não sei se só na minha cabeça, mas eu me vejo lá - e não poder fazer nada. Te toco, deito-me em teus braços... meus olhos fecham e o nosso filme passa (de novo). Sempre passa. Saudade. Não faz mais isso comigo! Você não tem noção da vontade que me dá de te dar um beijo e de te chamar de meu... meu, meu, meu, meu, meu, meu. Meu! Você me dá vontade de me perder nas minhas palavras, meus atos (ainda mais!), gestos mal calculados... tudo, tudo, tudo. Você não tem ideia do quanto que você me faz querer me perder em você. E pior: acabo me perdendo.
Chove por aqui
Não sei o porquê de tanta chave, cadeado ou qualquer outra proteção, se no final das contas tudo é invadido; se chegas assim, sem avisar, e te aproximas como quem nada quer e fica por aqui mesmo, pouco ligando para o aviso de “não perturbe”.
Pra que tantas máscaras, fantasias e contradições, se o carnaval ainda nem chegou? Te projetaste de tal maneira para mim que é difícil de te tirar daqui - tu sabes o quanto custa ter que diminuir um sentimento dentro da gente para que ele ainda possa existir num cantinho isolado, guardado como se fosse um poema. Por favor, não me venha com esse seu fingimento de arrependimento, muito menos com essa sua saudade forçada… nada do que você falar vai mudar o que decidi. Para de mentir. Mentir para mim, para você. Aceita. Acredita que existiu - que ainda existe - um carinho tão grande que não coube mais em mim e que teve que explodir para os lados, mas não aguentaste e tiveste que ir embora. Eu quis que essa fosse a história. Nunca quero perder esta versão: você chegou do nada, te amei, me amaste, nos amamos, deu no que tinha que dar e no que não tinha, mas passou. Nosso tempo se foi, escorreu pelas mãos, pelos olhos. Te encontrei, te perdi, te achei novamente e perdi de novo. Fomos nós. O tempo passou… continua passando agora.
Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa. Passa.
Por aqui ainda fará calor, flores brotarão, as folhas de minhas árvores cairão e o vento nunca irá parar de soprar. Não te esqueces que por aqui sempre há de chover… guarda-chuva nenhum vai mudar isso.
Souvenir
Talvez eu devesse ter dado um jeito de falar o que ficou preso na garganta; mandar alguém dar-me uma tapa para sair o som, beber água, inventar a coragem que não tive. Mas tenho dentro de mim uma teimosia involuntária, que me faz fazer tudo errado e percorrer caminhos numa ordem inversa, como se mesmo no começo, eu já estivesse machucada e meu orgulho não me deixasse dizer que eu queria tentar, que eu te queria por perto e queria tanto, que tinha medo do tamanho desse tanto. Eu nunca soube medir tantos e quantidades. Sei sentir, mas frequentemente erro as medidas.
O céu era um mar de nuvens no dia em que você apareceu. Nada poderia ter sido mais inesperado naquele dia. Mas você foi. E aconteceu em mim de um jeito tão imprevisto quanto sua chegada sem avisos e sem nenhuma vez bater na porta do meu coração antes de entrar invadindo. Sem pedir licença nem calcular distância, seus olhos bateram nos meus, e eram de tal veemência, que meu coração perdeu o ritmo; enfraquecia e quando quase recuperava a força, teus olhos, dessa vez, surgiam nos meus. Foi de repente. Foi como num truque de mágica: desviei o olhar por dois segundos e pronto... você estava lá. Quis naquele instante que você durasse por muito e muito e muito e muito tempo. O tempo passou, você não se gasta aqui do lado de dentro.
Pergunto-me porque você passou a deixar entre nós um espaço que nunca existiu. Mas retorno à estaca zero e lá vem a antiga ferida me fazendo ter medo de dizer de uma só vez que te quero e que ainda tem espaço aqui, mesmo com toda essa parafernália de sentimentos ocupando meu (teu) espaço. Acabo não dizendo nada. Você vai, do mesmo jeito que veio: do nada, de repente, e agora, sem despedidas. Eu fico.
Tento ir embora sem me despedir de mim, pra ver se assim meu coração se desliga das lembranças dos dias em que você me olhava nos olhos e eu me desconsertava toda. Mas não dá certo. Nunca dá. A solução que achei foi a de te guardar numa caixa, como se fosse um souvenir. E te guardei.
Você permanece na mesma caixa de recordações. Eu nunca mais inventei de abri-la.
A última pontuação
Não me venha com tanta preocupação
nem com toda essa sua mania de pontuação
Não sei pra quê tantas vírgulas
reticências
ou travessões,
se no final você leva tudo
e comigo ficam só as interrogações
Sabe-se lá o que se passa nessa sua cabeça
Se só se de trata de você,
por favor, me esqueça
que eu já cansei de tentar adivinhar
como faço pra te deixar do lado de lá
Quiçá, num dia desses,
eu faça de você um caso banal
e ponha, de uma vez por todas,
o ponto final
Seus olhos
Dentro de mim vive uma vontade de ser livre. Urgente, incessante, quente, constante. Não sei de onde veio, não tenho nada que me prenda - a não ser esse meu jeito de querer e não querer ao mesmo tempo, essa burrice incansável de optar pelo meu coração vagabundo ao invés da velha razão, essa minha mania de decidir o que é certo na hora errada. E, talvez por não ter nada que o faça, é que o céu consegue me prender tão fácil... Paro e olho para ele como se nunca mais fosse existir outra oportunidade. Ele me fixa os olhos e a alma, o coração quase para, a voz não sai, a respiração descansa.
Tenho uma esquisita sensação de liberdade ao tentar contar os infinitos pontos brilhantes pregados naquela escuridão. Gosto de ter esse sentimento brotando dentro de mim e, principalmente, de deitar e observar o céu quando é noite. Gosto de imaginar pontos se ligando entre as muitas estrelas - que vivem escondidas nas luzes da cidade - ou ver o céu passar borrando, estrelas escorrendo para todo lado, pondo graça no breu da noite. Adoro olhar a lua, imaginando viver por cá como se lá estivesse, grudadinha com o tal do alguém que todo mundo encontra - ou deveria, como disseram uma vez - e vive feliz por tempos e tempos... Mas o que mais gosto mesmo, é de olhar para as estrelas e procurar por você, por seus olhos. Mergulhei neles há pouco e encontrei tanto brilho por lá que penso que você deve ter tirado tudo isso de algum lugar. E com todo esse seu encanto, imagino que tenha tirado tudo do céu.
Ouvi que só uma vez existiu alguém com tanto brilho nos olhos assim. Faz tempo: existia amor. Um amor daqueles simples, de verdade. O último sumiu nos olhos da menina que olhava as estrelas por horas, perdendo o sono. Era uma menina que amava estrelas.
Me deixa ser essa menina? Tenho tanta coisa boa pra te dar, tanta sinceridade em cada gesto, tanto carinho sem fim por você. Ensina-me a ser dois em um só; eu te ensino a deixar o tempo passar bem devagar e ficaremos naquela doçura toda, juntinhos, como se nunca fosse passar, mudar ou desfazer... Como se fosse para sempre.
Quero perder o sono te olhando, virar noites conversando besteira, acordar cedo só pra te ver dormir. Quero que você conte as estrelas comigo, que procure desenhos nas nuvens, que repare nos tons do céu... Quero ter o brilho dos seus olhos nos meus. Quero ser essa última menina. Se eu sair de cima desse muro, vem comigo? Eu quero sair, mas não quero que falte você.
O céu já vai abrir; as estrelas estão se escondendo, a lua troca de lugar com o sol, a aurora colore o dia. Só falta você. Vem! Eu ainda continuo nos seus olhos... Não me deixa afogar aqui.
Sonho
-"Não, você está com outra e eu não quero isso pra mim."
- "Não, eu não estou mais. Cansei de estar com quem não quer nada, com quem não se importa. Não quero mais fingir estar procurando por diversão. Eu quero alguém que realmente combine comigo. Tô procurando por você, que parece ter sido feita pra mim e que mesmo assim, te deixei escapar. - Ela gesticulava um "não" com a cabeça, seus olhos implorando para que ele não a magoasse - Não vai embora, não... Não quero mais que você escape. Fica aqui? Eu quero você. Agora, depois... Eu quero estar com você e nada mais."
Foi aí que ela caiu nos braços dele e naquele momento parecia que não existia mais nada, só os dois, grudados, como se fossem um só. Faltam-me palavras para descrever aquela sensação. Passavam-se horas, minutos e segundos, mas não importava... Ali, o tempo não tinha medida. A cada pedaço de instante que se passava, coisas novas iam surgindo: diferentes tipos de olhares e risos, sinestesias, cores, cheiros. O ambiente em que estavam era tão cheio de sentimento, que qualquer um que visse, entenderia o que acontecia. Juntos, passaram mais tempo - se é que se pode falar assim - do que alguém poderia imaginar... Não acabava nunca e era tão bom estar ali; ele e ela, colados, como tinha que ser, como ela tanto queria que fosse. Se entendiam perfeitamente pela conversa de seus olhos, davam as mãos com tanto cuidado e carinho, como se tivessem medo de se perder de novo. Tudo era, da forma mais doce que se possa imaginar, ligado. Era como se eles realmente fossem dois corpos com apenas uma alma.
Qualquer pessoa pode dizer que é piegas, ridículo ou atribuir o adjetivo que quiser. A única coisa que sei é que ninguém vai entender. Só entenderia quem tivesse visto ou sentido, e tais opções estando fora de cogitação, só restam as palavras que aqui resolvi jogar. Pinto-as com todo o esforço que posso lhes oferecer... Só me sobra a esperança de que se entenda o que digo.
E quando falo que era como se eles tivessem apenas uma alma, não minto: eram completos, tão cheios daquele sentimento que não sei explicar. Quando ele resolveu dizer a ela o que sentia, parecia que chovia. Chovia amor dentro e fora deles. Um amor pronto, urgente, gritante... Um daqueles que fazem os corações baterem taquicárdicos e quererem amar no exato momento em que as gotas correm na janela. Era tudo tão lindo que me doeu acordar. Não contei? Era sonho. Foi um dos mais bonitos que já tive. Gosto de dormir. É que assim posso sonhar o quanto quiser e até acordar cansada; não ligo. Já fazem dois dias e ainda me dói. Dói por ter perdido o que nunca tive. Por quanto tempo mais irá doer?
Vez ou outra o tal sentimento vem à tona, me fazendo sentir tudo de novo. Mas dura pouco e é uma pena que do lado de cá exista essas limitações pro tempo - e para as pessoas que a procuram. Eu não ligaria se fosse verdade... Afinal, que mal há deixar-se molhar pela chuva alguma vez? Creio que as pessoas estão demasiadamente protegidas contra o sentir. Minhas lágrimas evaporaram há tempos: agora só espero a tempestade chegar.
Benzinho, vem cá... Chega, me invade, me toma, mas não me perde de novo. Derrama teus olhos em mim, me conta tuas histórias. É inevitável... A chuva vai te trazer pra cá. Só não demora. Se quiser, te deixo morar no meu coração...
Ponto Fraco
Nem sei mais como é que era quando eu não pensava tanto assim em você. Talvez eu só tivesse a cabeça mais livre, desocupada. Agora tudo que me vem à mente são teus trejeitos, tua cara lavada de quem faz o que quer e não dá a mínima pra ninguém, a facilidade com que você me deixa boba - do tipo besta mesmo -, esse teu jeito que não consigo ler, coisa que muito me encantou - e encanta.
Tem vezes que nem estou fazendo nada, tudo em branco em minha cabeça e quando resolvo pensar nalguma coisa, vem logo você invadindo meu espaço, entrando na minha cabeça como quem entra num quarto sem pedir licença. É engraçado quando me pego fazendo isso, lembrando de você por nada, só porque meu coração decidiu ser cérebro e imaginar o que você estaria fazendo, se alguma vez já se lembrou de mim pelo mesmo motivo, simplesmente por lembrar ou por ter um mínimo de afeição ou por qualquer outro motivo, nem que fosse uma música que você achou que eu gostaria. Queria poder saber o que é que se passa nessa sua cabeça por pelo menos três instantes. Não me importa que três instantes sejam medidas minúsculas, eu só queria tentar te entender,
nem que fosse apenas por esse pouco tão minúsculo.
Venho pensando tanto em você. Não sei o que é que me dá. Parece que qualquer coisa está ligada a você: a cidade que passa correndo, meus olhos lacrimejando com o vento, as luzes borradas, as gotas apostando corrida na janela. É assim mesmo que o pensamento que tem teu nome gravado aparece: do nada. Até mesmo quando estou num ônibus quase vazio, voltando para casa apenas pensando em coisas bobas pra me distrair, e clique: você. É como um clique mesmo, como se fosse um botão automático, apertando em cada momento no qual, supostamente, eu me esqueço de você.
Penso tanto em você. Me alivia. Tem sabor quente, aconchegante, como se pedisse pra eu ficar. Mas não precisa pedir, estou aqui, do teu lado, com minha mão colada na tua e dizendo "te quero sempre assim". Você me diz que está tudo bem e deita no meu colo, me chama de benzinho e ficamos tanto tempo desse jeito que parece que nunca vamos soltar. Mergulho em teus olhos, me esqueço por lá, me perco em você.
Tudo faz clique de novo. Parece que vai quebrar. Volto pro começo e continuo pensando em você. Me alivia. Tem sabor quente, aconchegante, como se pedisse pra eu ficar. Mas não precisa pedir, não. Eu fico... Você é meu ponto fraco. Partir (de você) dói.
Espera
Vivo por aí. Sozinha, distante, longe. E é tudo culpa dessa falta, dessa ausência se fazendo presente... Dessa saudade toda que mora em mim. Quando penso que falta pouco pra isso tudo acabar, talvez um dia ou um mês, quem sabe um ano ou bem menos, a saudade resolve acordar e brotam novamente aqueles pensamentos que me fazem querer voltar os dias, os segundos e as palavras ou nem sequer ter inventado de viver alguns momentos, mas acabo escolhendo por não regredir nem tentar nada de novo e prefiro arcar com as consequências das minhas escolhas. E a cada dia que passa é sempre a mesma batalha pra que o tempo passe correndo e que isso tudo acabe logo de uma vez, mas não acaba nunca e eu espero por esperar, pelo simples fato de aguardar por algo que não vem, como que mantendo uma esperança sempre viva. Espero, espero, espero, espero. E é tudo que faço. E parece que será tudo o que farei. Esperar é parar o tempo e eu não quero vê-lo parado: eu quero mais é que o tempo crie asas, voe e leve tudo o que puder carregar consigo. Cansei de transbordar todo o sentimento que tenho. Prefiro que levem, que roubem, que apreciem, que desgostem, que sumam com ele daqui. Se antes eu já não suportava aquela história de "toca ou não toca", agora nem sequer aguento qualquer coisa que seja morna. Definitivamente, quero que seja ou oito ou oitenta e o que estiver no meio não me serve. Preciso de alguém. Um alguém para ouvir o que tenho pra dizer, para falar o que ele quiser, pra eu tocar como se isso fosse um jeito de dizer que estou aqui e que, reciprocamente, ele me tocasse como se me correspondesse. Preciso de um daqueles amores que se tem sem se ter. Um daqueles desconhecidos, que todo mundo espera um dia encontrar. Um amor construído por nós e guardado num canto tão escondido que quase nenhum olho enxerga. Nós, eu você e ele que temos um coração e uma mente funcionando a mil quilômetros por hora, precisamos de pelo menos uma certeza em meio a tantas incertezas desse mundo louco e é por isso que tenho a necessidade de saber, ao menos, se esse sentimento existe nalgum lugar, porque preciso estar certa de que não inventei ou acreditei nele à toa. Seres humanos têm essa mania de explicação e crença. E creio eu, que um dia isso vai acabar. Um dia desses, enquanto eu estiver olhando o céu e procurando formas nas nuvens, quem sabe. Mas espero que isso acabe logo... Já cansei de brincar nesse vai-e-vem com meu coração. Meus olhos esperam, minha alma transborda e meu coração sempre estará do lado de fora. Espero. E o tempo passa.
The love you take is equal to the love you make
Andava sempre no mesmo passo apressado, como se isso fosse um jeito de correr para onde queria ir e de parar o tempo, como se existisse alguma maneira disso acontecer. Mesmo com toda essa pressa, ela observava atentamente o que estava ao seu redor, embora as coisas parecessem um pouco borradas, ela sempre reparava em tudo. Apesar de detestar rotina, destino e quaisquer outras coisas que fossem planejadas demais, ela sempre fazia o mesmo caminho na hora do almoço: saía voando do trabalho direto para a sua lanchonete preferida, uma no estilo dos anos 60 onde a qualquer momento tocava Beatles. Toda vez que voltava para o trabalho ela desejava parar o tempo só para poder andar mais devagar, pra não ter que ficar vendo nada borrado e pra poder ouvir o restinho de música que ficara na sua cabeça, mas nunca atendiam o seu pedido e ela acabava indo-se embora quase que correndo mesmo, como quem tem asas nos pés e vendo tudo passar rápido demais. Rotina pra ela era como uma espécie de regra, que existe para limitar as pessoas, e ela detestava ser limitada pelos outros; mas por incrível que pareça, ela não se incomodava nem um pouco com essa rotina de trabalho/lanchonete-que-toca-beatles/trabalho, talvez por ter sido ela a criadora do costume ou só porque sabia que um dia enjoaria de estar fazendo tudo sempre igual. Por hora, ela não se cansava de pegar o mesmo caminho nem de sempre brincar com as listras do chão, talvez se cansasse do trabalho vez ou outra, por estar cansada mesmo ou só por querer chegar a casa e deitar a cabeça no travesseiro pra poder sonhar com o amor que sempre quis ter, mas enquanto não enjoava, ia fazendo igual sem importar com a chegada do dia em que ela cansaria. A vida dela estava assim mesmo, repetitiva, cheia de correria e sonhos deixados de lado e ela mesma sabia que aquilo ia logo mudar, porque o destino é metido demais pra querer deixar alguma coisa acontecer por vontade dos outros.
E não deu outra: cansou-se. Num outro dia acordou cedo, botou Little Joy pra tocar enquanto comia, tomou banho, colocou um vestido simples e quando já estava fechando a porta para ir trabalhar, deu bom dia para o sol. Trabalhou num ritmo tão apressado quanto seu passo e resolveu que só iria almoçar duas horas depois do que estava acostumada. Passou-se o tempo e ela foi para a velha lanchonete-que-toca-beatles por um caminho diferente e andou mais devagar, olhando para as novas coisas que encontrava no caminho de um jeito encantado e calmo. Foi nesse olhar mais calmo e menos borrado que ela percebeu um cara que estava sentado na mesa ao lado da sua, com dois amigos que provavelmente deveriam ser apenas colegas de trabalho. Esse cara parecia estar sozinho, sua mente estava nalgum lugar totalmente distante daquela mesa onde seus colegas conversavam alguma coisa sobre futebol e mulher. De repente, ele começa a se mexer como se estivesse dançando "All my loving". A primeira impressão que se tem é que aquilo era, no mínimo, estranho, afinal, um cara que não está nem aí para nada e olha para o vento não deve ser alguém normal... Ou não deveria. Mas era na cabeça da garota do começo da história. E é aqui que tudo muda, quando ela se atreve a dizer:
- Ei! É impressão minha ou você está dançando essa música que tá tocando? Hahaha.
Ele olha pra ela com uma cara de "mas quem diabos é você para estar falando de mim?", mas, mesmo assim, responde rindo:
- Dançando, dançando, eu não estou, afinal, só estou sentado tentando fazer um balanço. Hahahaha. Mas peraí, não tem como ficar parado numa música dessas! É boa demais... Eles são geniais!
- Ah, eles são indescritíveis! Muito bom mesmo. Mas enfim... Deixa eu começar de novo: Oi, Meu nome é Luísa! E o seu? Hahaha.
- Oi, Luísa! Meu nome é Gabriel. Hahahahaha.
E continuaram conversando até acabar a hora do almoço e cada um ter que voltar para o seu trabalho. Não deu para falarem muito nem para se conhecerem bem demais, mas qualquer um que tivesse visto os olhos deles enquanto falavam de uma afinidade ou outra, veria que dali poderia nascer bem mais do que uma amizade baseada nas coisas em comum. Trocaram telefones e ambos voltaram correndo com o velho passo apressado, mas dessa vez apressados para que o tempo passasse logo e alguém resolvesse ligar.
O primeiro a fazer alguma coisa foi Gabriel. Assim que saiu do trabalho, mandou uma mensagem: " 'Something in the way, she knows... And all I have to do is think of her' - Beatles cai sempre muito bem, né? Vai fazer alguma coisa hoje? A gente bem que podia continuar nossa conversa mais tarde... Beijo." E quase que na mesma hora - talvez só estivesse esperando ou na dúvida se fazia algo ou não -, Luísa respondeu, mais ou menos assim: " 'Something' é uma das minhas músicas preferidas, acertasse em cheio! Hahaha. Gosta de sushi? Tem um aqui na minha rua que é uma delícia! Beijo."
Gabriel nem era muito fã de sushi, mas acabou dizendo que adorava e três horas depois lá estavam eles no tal sushi-que-é-uma-delícia, com ele enrolando ela, conversando mais do que comia e inventando papo até onde não tinha, só para que Luísa não percebesse. Ela fingia que não percebia, mas a essa altura já tinha notado até a cor da meia que ele usava. Conversa vai, conversa vem, acabaram ficando por lá até não ter quase ninguém e eles se darem conta que se não fossem embora, seriam sendo chutados dali.
Ele foi deixar Luísa em casa, afinal, já eram pra lá das 2h30 da manhã e ele não iria deixá-la ir andando para casa. Chegando lá, Luísa convidou-o para entrar e depois de um certo blá-blá-blá sobre incomodar ou não, ele acabou entrando. Conversaram distraidamente por cerca de uma hora e meia, quando ele olhou para o seu relógio e viu que já passavam das 4h da manhã.
- Eita! Já são 4h15, Luísa. Vou nessa. Tá na hora, né? Hahaha.
- Vai não, menino. Fica aí! A gente ainda tem tanta coisa pra conversar, não acha não?
- Acho. Eu não queria ir agora, mas é que tá ficando tarde demais. - E foi aí que ele cantarolou: - "I don't want leave her now..."
E ela acompanhou:
- "...You know I believe and how". Usar essa música é pedir pra ficar! Hahaha. Fica mais, vai?
- Fico.
E ficou não só até amanhecer, mas ficou por muito tempo na vida dela. E fica. E ainda continua lá.
Só por uma vez, um fim
Eu queria conseguir só por uma vez, ao menos, parar todos os meus pensamentos. É que às vezes cansa tentar tantas vezes e não conseguir pôr um fim nisso tudo. Queria ter dentro de mim para sempre a paz que me invade quando paro pra olhar o rio e sinto o vento batendo no meu rosto. O problema é que essa calmaria nunca fica; ela é rápida, dá o gosto e corre para o outro lado. Minha cabeça vai à mil, não para em momento algum, sempre tem uma coisa para ser pensada, para ser remoída, para bater numa mesma tecla, para mudar meu humor. Seria tão mais fácil se a gente não complicasse qualquer coisa que vem a nossa frente. Porque é que a gente tem que lidar com seres humanos? Todos eles são fadados a errar e errar e errar constantemente. Eu, ele, você. Todos nós erramos e erraremos muito daqui pra o final disso que chamamos de vida. Eu sei, você sabe, mas todos nós continuamos fingindo não saber de nada. E pra quê? Pra culpar um ao outro quando algo dá errado, quando algo sai da reta que traçamos para andar. Esquecemos que nada é linear. O tempo passa, o mundo dá voltas e acabamos parando no mesmo lugar, andando por linhas tortas - e ainda achando que elas são lineares - e entrelinhas mal entendidas por aqueles que nunca entendem a magia que cabe num momento de loucura e silêncio. Talvez a vida seja só essa loucura que a gente vive a cada segundo, milésimo e instante, e juntando tudo isso que a gente passa, quem sabe a gente não acha um final feliz depois? Ainda tem tanta pedra, caminho e chão pra gente andar. São infinitos pensamentos que correm na minha mente, são milhares de sentimentos a correr por minhas veias, são saudades a escorrer por meus olhos, são risadas vermelhas, são sorrisos vindos do coração, são batidas de carnaval e samba dentro de mim, são noites e mais noites arrumando um jeito de disfarçar o que qualquer um pode ver olhando para mim. É tanta coisa junta, tanta mistura, tantos “eus” dentro de mim mesma… É tanta correria pra achar uma saída, que é por isso que minha cabeça vai à mil sem parar. Tá tudo bem, tudo sempre estará. Acabará melhor quando num dia desses, pode ser qualquer dia mesmo, me apareça alguém que pense em compartilhar dessas mesmas loucuras, magias e silêncios da vida. Talvez seja aí que todo esse infinito torne-se finito ou dê uma pausa pra minha alegria estar em foco. É aí que o carnaval que vive dentro de mim sairá pela avenida, sentindo-se completo. Deve ser num desses momentos em que se sente por completo toda a essência de ser e estar. Deve ser aí o final feliz com direito a beijo de fim.
Voltando no final de mais uma canção
Filipa saiu de lá com um vazio. Ela não sabia do que se tratava, mas aquilo doía. Doía dentro. Dentro do nada, dentro do vazio. Como é que um nada podia doer? Até onde ela sabia, coisas que não se tocam não podem doer. Mas doía, o nada doía, e pronto. Talvez não fosse nada. Talvez fosse o coração dela. O velho, bobo, inconstante e fácil coração de sempre; aquele que agora estava machucado, sem saber o que realmente queria. Chovia. Parecia que o tempo queria levá-la para outro lugar, para alguns meses atrás... Talvez o tempo quisesse ajudá-la a decidir como é que as coisas ficariam: se o relógio esquecido na casa de João ficaria por lá mesmo ou se todo o amor deles merecia algo melhor. Talvez ainda existissem muitos "e se" no meio do caminho, mas quem sabe isso não acabaria com um daqueles abraços sem fim?
Como que um jeito de fazê-la pensar, a chuva trazia aquilo que ela tentava não lembrar num momento de raiva desses. A cada gota que pousava em sua pele, Filipa se lembrava de tudo que já passou ao lado de João: o começo, algumas brigas, uma carta dele, a foto que mais gostava, a música que ele fez, as pétalas da primeira flor que ele deu pra ela e que permaneciam coladas na agenda. Depois vinha a briga mais estúpida que tiveram e o seu resultado. Ela odiava lembrar disso. Dava dor de cabeça. Devia ser o coração subindo aos ouvidos e gritando que sentia falta. E como sentia.
Dois dias se passaram arrastando e talvez Filipa nem se importasse mais com o que João havia feito. Ela só tinha medo de que pudesse acontecer de novo ou de que ele não gostasse mais dela tanto quanto dizia. Resolveu que não ia mais ficar sentada na varanda olhando pro céu e lembrando das cores que viveu com João - cada momento junto deles remetia à uma cor diferente, ou várias, ou era tão inconstante e mutante quanto um brilho furta-cor. Decidiu que dali iria sair, e sair atrás dele, como uma criança que procura por seu brinquedo favorito. "Dois dias se passaram! Dois dias pularam no tempo enquanto fiquei aqui! Pensei demais. Tá na hora de deixar meu coração agir, como sempre foi". Saiu de casa correndo com a mente, andando num passo ainda mais apressado, com o coração embrulhado na sua mão. Filipa acompanhava o passo do mundo.
...
Acordou com um daqueles barulhinhos chatos do celular quando se recebe uma mensagem. Era de Filipa. "João, tô chegando aí... Desce. Beijo." Olhou pro relógio, eram 11h da manhã. Num pulo, saiu da cama e foi se arrumar. Contrariando seu jeito de sempre, João demorou. Demorou no banho, demorou pra se aprontar. Ele não conseguia pensar. Sentia. Sentia medo. Sentia o frio na barriga, como se fosse a primeira vez que via Filipa. Sentia o amor bater forte. Sentia seu coração batucar tambores como era no princípio. Desceu e esperou ela chegar.
...
Filipa chegou. Estava no portão, quando viu João. Olharam-se de longe. Ambos correram por dentro, ansiosos pelo o que estava por vir. Acho que os dois sabiam o que aconteceria ali; era óbvio. Filipa quebrou o silêncio.
- Pulando todo o blá-blá-blá, me diga logo de uma vez: você ainda gosta de mim? Digo, você ainda me ama, como tantas vezes já disse e diz?
- Filipa, quando você foi embora daqui naquele dia, eu senti meu coração correr atrás de você naquele seu passo apressado. Me peguei pensando nesses dois dias em como eu amo tudo o que é seu. Sabe, amo até aquilo que possa ser feio, estranho ou sei lá o quê. Eu amo como você fica vermelha quando te faço ficar com vergonha, amo seu jeito pulante de andar, seu jeito de se vestir, seu jeito meio louco de se posicionar sobre alguns assuntos, seu sinal perto da boca, seu beijo pulsante e carinhoso. Acho que o amor é assim, só amar e pronto. O amor deve ser um estado de não saber. A gente não sabe de nada quando ama, a gente não sabe definir o que é que sentimos. Ninguém sabe. Só o que se sabe é que se ama. E é isso. Se amar for sentir afeto por cada pedaço seu, então eu te amo. E acho que esses dois dias só me fizeram pensar mais nisso. Eu senti a sua falta. Talvez sentir falta ajude a pensar melhor. Eu até pensei em como você conseguiu me atingir. Ninguém nunca chegou onde você está hoje. Você está no lugar mais alto de mim. Eu sempre me protegi, nunca quis que ninguém chegasse lá, sempre tive medo. E agora tenho. Tenho medo de te perder, de fechar esse lugar de novo... É tão bom quando alguém chega e fica, sabe? Eu só quero você. Quero que você fique, cada vez mais. Quero que você perdure aqui dentro.
- "Eu não nego, eu me entrego... Você é meu grande amor e hoje eu vou te dizer 'Eu te amo'. Eu imploro, eu te adoro. Você tem meu coração a bater pra você mais uma canção!". Lembra?
Deram um daqueles beijos pulsantes e urgentes, clamando pelo sentimento que quase se perdeu. E aquilo seria eterno, como um abraço que fazem os corações se encostarem. Dali em diante, só o tempo os acompanharia, se roendo de inveja daquele amor.
Pra te lembrar
Daqui eu consigo ouvir
O som que vem lá de fora:
É o céu que muda de cor
De acordo com a música que toca
No meu interior
É a música que eu fiz pra você
Mas você não precisa saber
Ela não é sua, nem nunca foi
Não fala de nós, muito menos sobre os dois
Não chama teu nome nas entrelinhas
Nem pede pra você voltar
É só mais uma canção
Que toca ao som do coração
Num ritmo (des)ritmado
E num balanço desengonçado
É só mais uma canção
Dessas que não têm razão
Dessas que se parecem com você,
Aparecendo sem nenhum por que
Só pra me fazer arder
E até pensar em morrer
De amor
De tanto amor
Que nascia em mim
Assim como o sol nascia
E pintava aquele dia
Com as cores dos seus olhos
Você me prendeu aqui
Do lado de dentro de mim
Com amor pra todo lado
E desde então escrevo
Essa música que agora toca
E pinta o céu lá fora
Com as mesmas cores
Do dia que se perdeu na minha memória
Essa música que agora toca
Eu que fiz pra você
Mas ela não é sua, não
Muito menos possui alguma razão
Não fala do dia que insistiu em nascer
Nem sequer fala do quanto eu quis você
Essa música nada mais é
Do que uma tentativa de te resgatar
De te apanhar lá do fundo da memória
Pra relembrar a história
Do dia em que tudo desapareceu,
E o sol nasceu pra brilhar no mar
Só pra nos ver morrer de amor...
Relembrar o dia
Em que nada mais poderia existir
Só nós dois,
que ficaríamos ali, para sempre intactos,
sendo um só.
Agora dei pra me fazer lembrar todo santo dia que meu coração não aguenta mais toda essa invenção de amar - ou não deveria. Colei atrás da porta um post-it que tem assim:
"Meu amor,
Você não se cansa dessa vida, não? Dá um tempo pra esse teu coração... O coitado já está cansado de tanto amar."
Leio e releio todos os dias, mas isso é que nem regra: coração nenhum obedece.
Querer
Me deixa pintar a vida como eu quiser! Cansei de tantos dias cinzas dentro de mim. Eu quero pintar minha alma de todas as cores; quero libertar o meu pássaro azul, sem medo… Eu quero ter a vida na sua forma mais crua e sincera que se pode ter. Quero me jogar nesse mundo, abrir o coração pro vento, deixar o tempo levar consigo o que quiser de mim. Quero que você me invada, me explore e conheça todos os cantos que existem no meu interior. Quero saber falar como quem grita o que sente, como quem escolhe e inventa as melhores palavras para se expressar. Quero levar comigo toda a alegria que puder, mas quero que exista um pouco de tristeza também... Ninguém aprende só com felicidade. Quero o óbvio, o intocado, o distante e a mesmice de todos os dias. Quero sentir todas as saudades: a de quem está ao seu lado, a de quem está em outro canto do país, a de uma época, a de um amor, a de uma voz, a de uma música, a de um livro, a de um sábado à tarde, a dos cheiros... Quero tanto que nem sei mais o tanto que quero. Quero desaprender a medir os sentimentos; quero aprender a ser mais de mim, cada vez mais. Quero sentir e tocar essa vida com a palma da minha mão. Quero que minha vida seja vasta; tão imensa que não se possa pegar com uma mão - nem duas -, mas que caiba inteira na minha memória, como uma doce lembrança de dezembro. Quero que tudo que vivi, vivo e viverei seja como um souvenir, um presente mesmo, escrito e feito por mim, de um jeito indecifrável para os que não têm dentro de si a magia de ver através do comum. Quero minha vida dentro de um sonho. Não um sonho impossível, mas um sonho daqueles que a gente realiza, que só é preciso vontade e enxergar além de um horizonte distante. Quero o tudo, o nada e mais um pouco... Posso parecer gananciosa, mas não sou não. Só sei que quero poder espremer e tirar o sumo dessa vida, fazer com que ela seja deliciosa, sem amargar no final. Eu só quero poder viver. Viver, no sentido mais amplo da palavra, da forma mais intensa e despreocupada que se possa imaginar.
Quero viver o mundo que floresce em mim todos os dias, com todas as borboletas que eu tiver direito!
(E quero que você venha comigo).
O tempo passa quando quer
De um profundo caramelo,
Sempre me prendeu
Como se seus olhos fossem um elo
Meu, só meu
Saudade é como uma onda
Tem hora pra ir
E pra voltar
Não importa se é mar
Ou um simples coração
Impregnado com gotas de ilusão
Saudade bate e volta
Às vezes forte
Às vezes fraca
Depende da maré
Em que se resolve mergulhar
Meu coração mergulhou
E se afogou
No caramelo
Que cantava em teus olhos
Me perdi
E não quis
E não consegui me encontrar
Naquele turbilhão de coisas que giravam dentro do meu mar
Meu coração tornou-se um barco
À deriva, perdido nalgum esconderijo meu
Inevitavelmente,
Agora só depende de esperar
O tempo
Que o tempo demora pra curar
E esquecer
O dia em que eu me afoguei em você
Dentro de você
Dizem por aí que o amor é imprevisível. Bem, eu não acho que seja lá muito verdade, afinal, eu sei quando é que ele chega em nossas vidas: quando a gente menos espera. Imprevisível foi você, que apareceu sem mais nem menos na minha frente, num desses dias cinzas - no céu e dentro de mim -, transparecendo mil e um jeitos. Eu sabia que você era estranho. Deve ter sido por isso que comecei a gostar de você; eu gosto de gente doida. Que mais eu pude fazer? Só te olhar, te ver sorrir, ouvir suas histórias... Deixar encantar-me por você.
O tempo passou tão rápido pra nós: voou, correu, pulou os dias. Dizemos muito, mas tudo parece ser tão pouco. És de uma vasta alma, cheia de segredos e lugares nunca alcançados.
Me aproximo bem devagar, de close em close, que é pra você nem sentir. Você diz que te conheço pouco, que você muda muito, que nunca ninguém vai conseguir te entender por inteiro... Mas você esquece que tão mutável quanto você é, eu também sou. É bom que seja assim, bem lentamente. Eu sei que inda consigo me encaixar em você, lá dentro mesmo, bem escondida, e quando você notar... Bem, aí eu já terei me gravado em você, como uma tatuagem, que nunca mais e de jeito nenhum poderá sair. Porque é que você tem que lutar tanto? Seria tão mais fácil se me deixasse entrar, se já deixasse a porta ou até mesmo a janela aberta... Só me deixa te mimar, assim, sem pressa... Eu sei que um dia vou ter que deixá-lo ir.
Mesmo quando eu tiver que ir, não se esqueça do que me ouviu dizer... Sentimentos só mudam de um para outro, nunca mudam a si próprios. Amor não muda, principalmente o nosso; e esse sim, será igual por muito tempo. O quanto me importei e o que eu senti, será permanentemente equalizado na voz do meu coração...
Calmamente, um lírio virá a florescer em você a cada primavera interior. Eu sei que você vai lembrar de mim, do momento em que nos conhecemos naquela floricultura. E assim, talvez você perceba que eu nunca vou deixá-lo ir.
Discrepância do destino
Discutiam. Falavam sobre qualquer coisa sem grande importância, e acabaram numa dessas brigas idiotas, por motivo nenhum; daquelas que se esquecem com um beijo de desculpas. Brigaram, sem mais enrolações, por nada.
João saiu, puto com a vida, com o tempo, com ele mesmo. Foi pra casa de um amigo, onde rolava uma festa. Eram 3h da manhã, e nem sinal de Filipa. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Conheceu uma Maria-sei-lá-o-quê - ele nem quis saber o nome dela, ou já nem lembrava mais -, e conversaram por mais uma hora e meia ali, encostados no barzinho. Sabe-se lá por qual motivo - vai ver, gostava de gente deprimida -, essa menina beijou João, e ele, sabe menos ainda porque diabos respondeu àquela insensatez. Beijaram-se, então; e agora aquilo era taxado de traição. Na cabeça dele, aquilo não passara de uma loucura sem motivo, talvez só uma maneira de descontar toda a raiva que guardava, um absurdo dar ao ocorrido o nome de traição. Aquilo não era trair, afinal, ele não estava traindo o sentimento de ninguém; nem o dele próprio, nem o de Filipa. Aquilo não podia ser capaz de separá-los. Chegou em casa quando o sol já botava uma cor no céu, e quando deitou-se, seu celular tocou. Era uma mensagem. De Filipa. "Espero não ter te acordado. Me liga amanhã, assim que acordar. Beijo". Depois dessa, nem sequer conseguiu dormir. Virava de um lado para o outro na cama, sem saber o que fazer. Tinha de contar à Filipa, isso não podia ficar guardado pra sempre em silêncio, não dava. Esperou o dia correr mais um pouco. Tomou coragem e mandou outra mensagem, onde dizia "Acordou não. Mais tarde nos falamos. Tenho algo pra te contar. Beijo". Acabou cochilando.
...
Depois que João saiu, Filipa só conseguia chorar. De raiva. Morria de raiva por uma briguinha idiota daquelas ter dado nisso, tinha raiva dela mesma, raiva de ser tão orgulhosa. Ligou para suas amigas, e acabaram fazendo uma festinha do pijama. Viram uns três filmes, e quando chegou a vez de ver "Singin' in the Rain", Filipa já chorava de novo, de saudade. Mas era tão orgulhosa, que nem queria saber de dar um sinal de vida pra João. Continuou vendo o filme - ou fingindo que via. Eram 3h da manhã, e nem sinal de João. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. "Eu não quero nem saber! Ele que tá errado, se quiser que me procure. Vou ver esses filmes idiotas, que é o melhor que eu faço!"- Falou pra si mesma, jurando que enganava alguém. Suas amigas viam o desespero nos olhos de Filipa, como se ela estivesse prestes a desabar. Não importava se eles tinham brigado à tarde e era só a madrugada do outro dia; o que importava era o sentimento deles, separado por qualquer coisa sem importância. Acabava "Singin' in the Rain" exatamente quando os pássaros começaram a anunciar o novo dia. Filipa deixou seu orgulho de lado. Tomou coragem e mandou uma mensagem pra João. "Espero não ter te acordado. Me liga amanhã, assim que acordar. Beijo". Ficou nervosa, não sabia como ele estava, nem nada. Rolou de um lado pro outro na cama, sem sono, angustiada. O dia se arrastou mais um pouquinho, e ela cochilou. Acordou com uma mensagem. Era João, que respondendo, dizia: "Acordou não. Mais tarde nos falamos. Tenho algo pra te contar. Beijo". Depois dessa, não tinha remédio, não tinha sono e não tinha lágrima que conseguisse segurar a ansiedade de Filipa.
O dia se arrastava lentamente, cada segundo contando como um minuto.
Largados ao vento
Mil pedaços de mim
Vagam por aí
Soltos
Jogados
E inquietos
Mil pedaços de mim
Gritam, desesperados
Esquecidos num canto qualquer
Mil pedaços de mim
Que falam
E não dizem nada
Mil pedaços de mim
Esperam, agoniados
Por algo que queira juntá-los
Mil pedaços de mim
Espalhados
Guardados numa caixa
A qual deram o nome de coração
Em tempo
Meus olhos batem nos teus; te encontro. Pra quê? Você sorri, ativa o descompasso do meu coração. Disfarço. Ou pelo menos acho que estou disfarçando essa minha cara de bobo sempre que te vejo. Eu tenho que disfarçar, não importa... Não posso deixar nada transparecer assim, como realmente é. Qualquer deslize, e tudo aparece.
Prefiro que continue assim, com essas mentiras pra mim mesmo. Prefiro que continue desse jeito - relativamente - quieto pro meu coração. Prefiro só te olhar de longe, sem você perceber, e pensar como seríamos se tivéssemos uma chance de fazer dar certo... De te conquistar, de te ter assim, toda pra mim.
Me escondo, mas sei que não posso fazer muita coisa... Num dia desses, o amor me acha de vez.
O tanto que eu vou salvar
Então é assim, exatamente como você disse que deveria ser. Aos poucos, vou me esquecendo de como éramos. Esquecendo da brisa, dos conselhos soprados, das mentiras, das fotos, das conversas na madrugada, de você... E de mim. Não acerta tudo, não. Eu ainda queria que sobrasse um pouco de nós pra guardar, nem que seja na minha memória.
Você conseguia me fazer de bobo só colocando aquele seu sorriso torto no rosto, me tinha aos seus pés, era tudo tão fácil. Eu me deixei levar, como nunca havia deixado antes... Esqueci a razão, permiti que meu coração me guiasse dessa vez. Bobagem. Eu até diria que fui ingênuo ao entregar meu coração a ele mesmo, para que se entregasse a você. Mas eu não fui. Cada parte de tempo preenchida entre nós teve um sentido, um sim, um não, um talvez, umas respostas e alguns quiproquós... Cada pedaço de mim estava felizmente cheio de você. É uma pena que você estivesse certa sobre toda aquela história dos amores serem imprevisíveis, e acabarem quando bem quiser, levando tudo o que se passa junto.
Aos poucos, vou te perdendo no tempo; é como se você fosse uma foto velha, perdendo a cor com o passar dos dias e lembranças. Espero que o tempo não te leve pra tão longe de mim... Ainda estou resolvendo o tanto que eu vou salvar das nossas conversas sem pressa ou dos beijos sem mais nem menos. Não vá tão longe, ainda te quero por perto de vez em quando. Você pode mudar seu nome pra nostalgia, eu não vou ligar, não... Só fica por aí. Aparece de vez em quando.
Não vai embora, não. Eu não consigo tirar os olhos de você assim, tão fácil.
Não some, não. Ainda não sei o que tanto quero gravar de você.