Coleção pessoal de alessandrahorta

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Em meus apelos atrevidos
loucamente acordastes.
Com febre.
E enquanto delirava,
suavas em meu ventre dourado.

Frágil como folha
de árvore caída no outono,
chora sem nem saber se precisa.

Sentimentos voam
atabalhoados
e confusos.

Certeza do que quer,
incerteza em acreditar
na vida de alegria
que acreditou, um dia.

Ela voa por aí,
como o sabiá.
Busca frutos no pomar.

As asas que devolvi
estavam fracas
e meu amor não voou.
Adormeceu
em febre de anjo.

Adormeceu franzino
como a água da cachoeira
em época de seca.

Te dou as asas e meu mundo.
Te dou meu mundo e minha vida.
Te dou a vida com meu sorriso.
Meu sorriso com a gargalhada
farta de quem ama.

Te dou também
o brilho dos meus olhos
quando te vejo.

Te dou minha alegria
e euforia
maior a cada dia.

Eu sou aquela borboleta
que se agarra
às paredes e ali
permanece, solitária.

Sobrevoei plantas,
muros,
lamas.

Renasci no barro
da lama
e do estrume:
cogumelo.

Vagueio na trilha da saudade
como a ave em busca de gravetos
na construção do ninho.

Me reparto em medos,
certezas, incertezas
e segredos.
Barro fino de olaria
pareço forte,
mas sou frágil.

Frágil como o graveto
que constrói o ninho;
ou como a terra
que constrói o tijolo.

Me atiro em vôo livre
por ares desconhecidos.
Vôo medroso...
ares assustadores.

Plaino sobre o que gosto
com minhas asas bem abertas

Eu gosto de voar.
Gosto de sentir o vento
que toca o meu rosto.
Gosto de sentir a brisa forte
que acalma meus dias tortuosos.

Gosto do chamego do Sol.
Eu sou a namorada do Sol.
Sol pleno que toca em mim.

Perdôo-te pelo que ainda não posso fazer.
Agradeço-te pela espera do que seremos.

O coração explode
num desejo estonteante
de ver e ter.

Inflado por bombas meteóricas, eclode!

Nem é um coração.
É um vulcão derramando e espalhando
lavas de desejo.

Sinto saudades de mim.

Eu crio sonhos.
Sonhos que um dia sonhei.
Alguns invento
e em outros, quero acreditar.

Muitos se foram,
outros me mantém viva.

Vôo no vôo da espera da lembrança.
Lembrança boa que não voa.
Os dias não decolam.
Meu coração não aterrissa
e ultrapassa o limite da minha ânsia:
dormir, sonhar e acordar.

Na ânsia de acertar, errei.
Mas acertei no conserto do que sou.
Troquei peças:
parafusos e porcas.
Me sinto viva, quando deveria estar morta.

Migalhas não me ofendem.
São migalhas e sou pássaro:
degusto farelos.

Às vezes sou frangalhos.
Restos de alguém
que pensa ser... alguém!

O que eu sinto não existe. É só uma coisinha que meu coração cismou de inventar.

Eu hoje estou vestida de linho branco.
Subo as escadas, vejo móveis antigos
e escolho uma "namoradeira".

Vejo crianças pelo recanto,
ouço músicas.
Me afogo no teu colo-canto;
beijo, sorvo e amo.

Tarde faceira com vista de orquídeas.
Sinto-me inteira!

Te enrosco mais uma vez
dentro das minhas pernas.
Te abraço com elas.

No momento, o único barulho que não incomoda é o do grilo que grita.

Teus projetos já são mirabolantes
e grandiosos.
Veste-se bem, conversa muito e ri pouco.
Usas relógio de pulso e gel nos cabelos,
já mirrados pelas quedas.
Compensa-te a queda o novo bigode,
símbolo forte de tua sorte em crise.
Tens nova loja e novo carro.
Tens também uma facção.
Quanta imaginação!
Teu nome nem é limpo
e já queres dispender do que não tem.

Me assusto com o entulho deixado pelo teu rastro.
Papéis desordenados, outros amassados.
Porém todos atirados e jogados
no caminho do meu choro molhado.

Perde-te a cada dia e em apenas dois,
pensei ter me perdido junto.
Mas reconstruo-me agora,
busco lá no fundo a minha alegria
quase perdida, mas não ainda!

Acordei tarde, ressaca.
A manhã era fria, estranha e dóia.

Eu hoje estou cansada.
Cansada e com os olhos cerrados.

Cansada de sonhar, e de esperar.
Cansada de esperar
a paz que tanto procuro,
cansada de sonhar com
um mundo que não vejo.