Coleção pessoal de Alefianismo
(…) Considero que colunas de algumas fortalezas sejam feitas de mitos. Mas, por acreditarem que são feitas de um material adequado, pessoas se sentem seguras. Com essa sensação de segurança, são reforçados comportamentos que contribuem para se pensar que mitos são verdadeiros nesse sentido histórico. Eu nunca disse que essas pessoas não podem se sentir seguras por causa do que estou chamando de fortalezas. Eu disse que é difícil para essas pessoas aceitarem que aquelas concepções são mitológicas, e não autênticas nessa perspectiva histórica. É bastante difícil para muitas dessas pessoas quando se deparam com o mundo acadêmico que não reconhece aqueles mitos como verdadeiros nesse sentido histórico.
Muitas pessoas criticam mitos argumentando que não são verídicos em perspectiva histórica através de outros mitos que também não são autênticos nesse sentido histórico, e criticam verdades nesse sentido histórico através de mitos.
Deus seria mais injusto do que o homem mais injusto que passou pela face da terra se condenasse alguém ao inferno eterno. Inferno eterno não existe, a não ser que Deus seja um tipo de sádico. Embora a pena dita perpétua atual possa ter recebido influência da ideia mitológica de condenação eterna, esta se diferencia muito daquela.
Sócrates morreu em consequência daquilo que acreditava. Ele nunca viu alguém ressuscitar, nem os cristãos de modo concreto. (…) A redução ou remoção de cargas da religião anterior reforçou negativamente o comportamento de participar do cristianismo. No cristianismo também surgiu uma intimidade com “Deus” diferente, a qual reforçava positivamente o comportamento de participar dessa nova religião. Muitos cristãos primitivos estavam tão condicionados a ponto de morrer conforme a tradição por suas concepções religiosas. O que está descrito na obra de Tácito sobre Nero ter perseguido os cristãos é confiável? Segundo alguns pesquisadores, Nero, por exemplo, pode não ter perseguido os cristãos da forma que comumente se acredita.
Não tem como a divindade descrita no Velho Testamento ser pai de Jesus de modo concreto porque é mitológica.
Geralmente qual é o objetivo de criticar a ideia de um mito ser autêntico em sentido histórico? Buscar fazer com que alguém deixe de ver assim. No entanto, alguém pode levantar críticas à ideia de um mito ser verdade nessa perspectiva histórica mais por entretenimento, por estilo literário, etc. Sendo aquele seu objetivo, qual a melhor forma de alcançá-lo de modo ético: apresentar uma interpretação conforme a psicologia analítica ou criticar daquele modo? Depende do caso? (…) Embora os contextos suíço e alemão possam ter influenciado Jung naquele sentido, ele conhecia muitos contextos. Era um cidadão do mundo. Um psiquiatra sagaz. E lá na Suíça e Alemanha também há tipos do que se chama de fanatismo.
Em ampla perspectiva, quiçá já estejamos participando de uma salvação eterna de um tédio. Essa ideia não apresenta um Criador que precisa corrigir sua criação daquele modo. (…) Existe vida semelhante à humana em outro planeta que desenvolveu uma religião superior ao cristianismo? Quantas religiões há no universo? Não acredito que Deus tenha apresentado planos de salvação eterna se comunicando diretamente através de linguagem mitológica.
Para superarem a dependência química, muitas pessoas dizem que a religião cristã contribuiu. E, para indivíduos se tornarem dependentes químicos, contribui? Muitos veem a religião como um tipo de droga. (…) É comum que uma mãe ore para o filho não usar o que se chama de drogas. Como saber se isso não pode contribuir para ele se tornar dependente químico, vencer a dependência química e depois não querer mais chegar perto de drogas? Quantos filhos de mães que oravam tanto para seus filhos não usarem drogas se tornaram dependentes químicos? Estão orando para aqueles que não participam de uma religião que tem muitas concepções retrógradas se converterem a ela. Isso pode os prejudicar de alguma forma? O que sabemos é que a religião dessas pessoas tem muitas concepções mitológicas, e que ainda conhecemos pouco sobre o que de fato acontece em consequência da evolução biológica e relatividade quando se envia mensagens ao inconsciente através da oração. Talvez isso prejudique alguém, talvez beneficie. Mesmo que exista Deus, considero que não tenha relação direta no que acontece neste planeta por causa de oração ou outro motivo. Lidem com a situação de forma ética. É possível realizar pesquisas sobre oração.
Considerava ela ter intimidade com uma divindade que poderia ter esse comportamento? Esse deus perguntou se ela queria ter um filho? Ela disse para cumprir nela. Uma forma que a mulher era tratada foi projetada no texto. Em minha opinião, há um mito no texto escrito sob a influência do patriarcado, e não um fato relativo à onisciência e supremacia divinas. A não ser pelo fato de esse conceito de supremacia divina ter relação com o patriarcado. Não abordarei aqui o tema patriarcado, nem o assunto relativo à contribuição do mito para o desenvolvimento de concepções melhores sobre as mulheres.
Um indivíduo escutou que poderia aprender algo nesta vida referente à fé com o que lhe aconteceu de ruim. Mas um dia depois de escutar isso ele bateu as botas. Já que estamos falando sobre fé, e não sobre casualidade, conforme uma hipótese sobre o Karma, tinha a ver com ‘infelizmente’ experimentar o acontecimento ruim, e não com essa aprendizagem.…
A maioria de nós participa simbolicamente da religião grega reformada. A crítica do fundador de cidade à religião grega e a crítica de Nietzsche a Sócrates contribuíram para o desenvolvimento dessa concepção reformada e simbólica da religião grega.
Eu não investiria naquela religião para os próximos mil anos. Aparentemente, no gráfico relativo a essa religião forma-se um topo duplo e acredito em uma queda forte nos próximos séculos. Talvez eu esteja errado.
Dizer que a virgem daria à luz a alguém que salvaria o mundo e seria a chave hermenêutica do que se tornou uma compilação é uma questão de fé e interpretação. A ideia do ilustre do Novo ser a chave hermenêutica para os textos do Antigo surgiu da boa intenção e egocentrismo do ilustre do Novo. Egocentrismo pode ter relação com boa intenção. Em minha opinião, a interpretação daquele texto do Antigo é melhor com o ilustre do Novo, mas, além de significativas, aquelas ideias religiosas apresentadas pela interpretação são mitológicas.
Um dos motivos que Buda, Jesus e Sócrates receberam críticas tem a ver com as ideias deles que perturbavam uma ingenuidade que existia em uma religião antiga. (…) A dor de um crescimento foi despertada por eles. (…) Embora as crianças fossem tratadas de modo diferente naquelas épocas, também era difícil para elas perder o vínculo que tinham com os pais quando elas eram menores. (…) A expressão “mais antigo” não significa melhor, ou pior em tudo. (…) Buda, Jesus e o fundador de cidade poderiam ter sido ricos financeiramente, mas não enalteciam essas riquezas. (Alef expõe vários motivos que podem ter contribuído para eles não enaltecerem essas riquezas).
Não há prova alguma de que aquilo que aconteceu de ruim ao indivíduo que fez o que as pessoas daquela religião consideram brincar com Deus tenha a ver com uma ação divina por ele ter feito o que as pessoas daquela religião consideram brincar com Deus.
Se uma verdade for desfavorável ao superego, poderá ocorrer de ele a reprimir e talvez isso aconteça de um modo visto como ação de Deus. (…) Há diferença entre a repressão do superego e o mecanismo de defesa do recalque. “O recalque é obra desse superego”, segundo Freud.
Por que se tem a sensação de presença de Deus ao escutar uma música evangélica? Em minha hipótese, uma das razões é que a oração e outros motivos contribuem para os músicos cristãos tocarem de um modo ou cantarem com uma voz que faz as pessoas sentirem algo diferente da música não cristã. Um tipo de voz pode ser um símbolo religioso poderoso. Ao orar, manda-se uma mensagem ao inconsciente, e não a Deus literalmente. Num mesmo ambiente, uma pessoa pode sentir mais e outra menos o que chamam de presença de Deus? Se a resposta para esta pergunta for sim, um cristão poderia argumentar que Deus distribui de modo diferente a sua presença. Respeitamos a opinião desse cristão, mas outra explicação seria que uma pessoa sente mais e outra menos a chamada presença de Deus porque isso tem a ver com a própria pessoa, e não com a presença divina literalmente.