Coleção pessoal de AldoTeixeira
Na memória, flashes em relâmpago
De uma terra que era minha.
Onde a paz reinava, e não o ego,
Onde a pele não diferia o respeito.
O antigo paraíso hoje é escravidão,
Exploração de meninos e meninas.
Ah! Minha terra! Foi minha um dia,
Esbanjava de fartura e regalia.
Até que um dia por azar,
Vimos algo estranho vindo do mar.
Não vieram conhecer, vieram exterminar
A pela vermelha!
Mas o guerreiro Latino-americano
Morre lutando
Se preciso for, e preciso é.
Ouvi dizer que o espírito "guarani"
Já não existe por aqui,
E discordo da opinião.
"Não se trata com paz,
Quem lhe pede guerra"
Já disse um de nossas terras.
Não será uma linha imaginária
Que fará nossa América Latina
Uma terra fracionária.
O mundo norte que nos aguarde
Pois existe vida no centro-sul.
A guerra se propaga nas propagandas do consumo,
Na origem da matéria prima que só existe noutro mundo.
O lado Sul, o submundo.
No mundo B é que acha o que se procura.
No mundo B o motivo de escravidão é pele escura
É a vermelhidão e nudez, é "incivilização".
Tem os ossos furando o couro,
Caminha para abatedouro dia a dia
Lado a lado com a fome
E a condenação eterna por faltar um berço de ouro.
A cemente é diferente nos estômagos do norte
Adubada à hambúrgueres e encharcada à Coca-Cola.
Os burgueses sem religião e rebeldes por esporte
Contemplados pela sorte do berço de ouro.
Ainda durará mais quanto tempo,
Até que norte e sul se igualem
Como eixo central da "rosa-dos-ventos"?
É tão eficaz a desumanidade do ser humano.
Um prato jogado pelos janela
Com amor feito por ela,
Nos cacos que espalham pelo terreiro.
Todo o caos vira causo
Na casa se sente em cativeiro.
Infelicidade já não é segredo
Pelo contrário, é medo.
Medo do futuro e seus frutos imaturos
O fim de passado escuro, fato,
Em contato, segue o risco da escuridão mais profunda.
Cada vez mais me afunda a famosa "lagrima de todos".
Na linha do trem que pro sul desce,
Um ser tão pobre que padece
Sobre as ruas da cidade grande.
Um sertão nobre se voltasse
Mil léguas retroativas.
Respirar o ar limpo e quente
E não mais poeiras radioativas.
Ela babando e dançando, te seduz
A letra confusa te induz
A alimentar esse avestruz que de todos se alimenta.
Sobra oportunidade pra quem tem,
Sobra oportunista pra quem vem,
Claramente que não convém.
Amigos de pele de onça reveste,
O lobo na pele do cordeiro investe,
Não deixe seu palmo de terra
Pra viver a guerra biomédica onde você é a peste.
Tão longe e tão perto,
Dividindo o mesmo teto
E tão distante ao mesmo tempo.
Os dias inúteis é quase certo,
Um tempo aberto e tão fechado.
Sentimento resguardado
Por vergonha de saber
Que no quarto ao lado
Dorme alguém que mal conhece,
Ou bem? Ou bom? Ou mau?
Latente, fervente.
As ideias já não são simetricamente medidas,
São perdidas, pervertidas para os crentes.
Inconscientemente polivalente destemida
Segue a mente lutando pela gente
Emergente.
Emergencial, corrupção me faz confundir
Quem é o marginal e quem é o policial.
São tantas as atrocidades.
Julgar alguém que quer viver a liberdade
É como colocar nome no filho do vizinho,
O que vem a ser livre-arbítrio?
Se não posso seguir meu caminho?
Vejo que gritam pelos seus heróis,
Que na mal dita história lhe contaram.
Vocês o chamam de desbravadores
Nós os chamamos de desmatadores.
Maldita história, mancha de café
No manto branco da paz obscura.
Ame-o ou deixe-o diziam aos canos,
Ame-me ou deixe-me eu retruco.
Não se resolve pobreza em arenas
Nem nas novelas ou mesas de truco.
Heróis fajutos,
Vilões justos.
Calmamente desce o Sapucaí,
Manso e triste,
Com um sorriso sujo
Luta e resiste.
Insiste em nos banhar,
Pra nossa sorte e
Pra ele azar.
Desce, vendo ao seu lado
Famílias que crescem,
Ao som de manilhas desaguantes.
Fogos de comemoração?
Antes fosse.
Triste desce
Triste também sigo.
Reclamam a Deus e o mundo
As fúrias janeiras
Vendo destruição em tudo que é jornal.
Respeitem para serem respeitados,
Já dizia o velho ditado.
Corram, o sinal da Delfim vai abrir.
Corram, mas não morram.
Nem ponham fim nas barbas do velho sapucaí.
De preferência criem suas raízes as margens.
Na Vargem, na altosa Anchieta, ou na bela Margaridas.
Quem não ouviu falar das nossas Três Torres?
Rua Treze de maio, quantas histórias e ensaios de resistências.
Vintém e Mosquito.
Esquisito dizer assim desse lugar.
Nesse solo eletrônico e adubado,
Tomo água no filtro de barro dos lençóis contaminados.
Mas evidencio as marcas positivas,
Capivaras e garças ainda vivas ao redor das sapucaias.
A lenda do mato do Sanico, figuras marcantes de nossa população.
Muela, Matoso e "Jorjão".
O que sinto não é idolatria,
É gratidão.
Que destalento de viver!
Deitado em seu aposento
Brincando de ter.
Ter apartamento,
Carro do ano,
Ter filhos estudando,
Uma mulher delicada e meiga,
Fingindo ser uma família feliz
Igual nos comercias de manteiga.
Quanto destalento,
Cumprir os mandamentos da vida comum,
Como um fiel dizimando,
Que feito um acionista tolo,
Constrói sua casa no céu
Tijolo por tijolo,
De ouro em ouro.
Qual o problema?
Se tenho caspa,
Se meu português não é dos melhores.
Se não rimo e não uso aspas.
Qual é seu lema?
Seu tema?
Não tema!
De-me um tempo.
Se não quero diploma,
Não brinco de vida,
Não aceito acomodadamente
O coma de qualquer mente.
Ah minha gente,
Descontente e inerciados,
Camuflando a conhecida e milenar
Depressão.
Acreditando em tudo,
Mentindo pra si próprio até que acredite.
Com todas minhas dúvidas,
Nunca duvido do impossível,
Invisível ou visível,
Viável ou inviável.
Quantos são os problemas,
sem teoremas ou filosofias
Depressões em grande escala.
Poetas profetas que acham-se
Donos das verdades.
Logo mais surpreenderão
Ao ver-me de pé no chão
E voando de mente aberta.
Certamente dirão ser um demente
Ou delinquente inconsequente.
Rebelde sem causa,
Demônio sem cauda ou
Anjo sem asas.
Um latino-americano "sem casa"
Entre aspas e caspas.
Andei por ruas desertas onde ninguém ousou andar.
Provei de vários venenos dolorosos, mas tive que experimentar.
Vaguei por horas e dias sem saber o que procurava.
Procurei por muito o errado, errei por muito o procurado, sabendo das consequências, mas obtendo respostas para minhas dúvidas. Acumulando dívidas.
Por muito passei, por pouco ainda estou vivo.
Mas sem todas as respostas necessárias.
Se me fizesse de barro,
Se me fizesse de luz,
Se me fizesse de evolução.
Já estou feito.
E mal feito,
Cheio de defeito,
Protótipo do tipo rasura.
Com a cara escura,
Entro em apuro
Quando procuro resposta.
Verdadeiramente uma bosta
Viver de interrogação.
De onde vim? Pra onde vou?
Bosta em decomposição.
É melhor eu parar
Antes que censuraram
Alegando que "bosta" é de baixo calão.
Com brinco na orelha,
Brinco de ser do avesso.
Mas tão comum que só,
Do avesso não sou mais.
Tão igual a tais rapazes,
Fazer diferente, contra o que já é.
Ah! Tanta confusão
Que nem sei onde estão minha certezas,
Se é que são minhas.
É como não comer galinhas
Sem saber a razão.
Seguidores.
Quantos tropeços terão de sofrer para entender?
Padecer até que a morte vos ou te pare!
Vestindo mascaras,
Brincando de bocas e caras.
Custa caro meu caro.
Meu carro que nem quero ter,
Aliás, nem tenho.
É desdenho, mas não quero comprar.
Aperte para cabe-lo em seu bolso,
Alerte para cabelo em seu bolo.
Tolo!
Quem sou eu pra julgar seu brinco?
Se também sei brincar.
De que adianta
Explicar de tudo,
O fim do mundo,
O começo dos tempos,
A direção dos ventos.
Teorias e mais teorias.
E viver?
Vi da vidraça,
Vida vi praça.
Vivendo de graça
Morando com traças
Esquecido me fui.
Faltando peças
Como nessas
Garças de jardins
Aliás,
Não voo mais.
Não vou mais.
Esses encorajados
Encorujados,
Que vira e mexe
Revira e remexe
Me fazem de condenado,
De poeta mal falado.
A mão que aponta
Volta sempre três pontas
Para o próprio nariz.
Nesse momento migratório,
Hora penso no velório
Outrora no senatório.
Mas vida se passa!
E quando tudo der errado.
Quando nada for ao seu favor.
Quando a sombra te incomodar
E no sol arder de calor.
E quando perder no caminho da volta.
Quando esquecer e chegar atrasado.
Quando o ponteiro do relógio parar.
Quando tropeçar no cadarço desamarrado.
Quando ninguém mais se preocupar.
E quando o amor te causar muita dor.
Quando a fumaça realmente for fogo.
Quando alguém vencer o seu jogo.
Quando chover quando for ver o mar.
Quando com a espinha de peixe engasgar.
Não se preocupe meu amigo,
Isso é nenhum jogo de azar.
Veja o lado bom disso tudo
Quando o "quando" chegar!
Nesse mundo,
Nesse mundaréu de hipóteses!
Imundo,
Inundado de dúvidas,
De dívidas,
Devida a falta de atenção.
Atenção pois é promoção,
Te promovem o consumo
Em troca de escravidão.
Carro luxo,
Produção lixo.
"Vidão"?
Acho que não!
Mas um hipótese na cabeça
E um medo no coração.
Dentro das 44
Revelo-me,
Destrato com meu retrato.
Status
Que circulam o abstrato.
Dia chato.
Ratos criam normas
E eu quem paga o pato.
Sei que sei que daqui não sou,
Que não pertenço a essa classe,
Que hoje é apenas mais um dia de trabalho;
Daquelas sexta-feiras em que sentimos,
Sentimos a irreal sensação "dever cumprido".
Comemorando assim os únicos dois dias
Que são seus, e que realmente são úteis.
Por que será que agimos contra nós mesmos
Trocando nossas horas de céu azul por sédulas?
Quanta ironia, eu aqui disfarçando trabalhar
mas escrevendo isto dentro das 44.
Funcionário ingrato,
Que relata o que sente
Indo contra a corrente,
Sabotando o comum.
Há ingratidão,
Talvez de minha parte,
Talvez não.